Uma flor para a Madeira

Estou a assistir à gala “Uma flor para a Madeira”, que, no dia 20 de Fevereiro, foi surpreendida por uma catástrofe. Neste momento, a contribuição de todos e todas é crucial para a sua reconstrução.
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“Venham à Madeira, e em 2 meses isto ficará melhor!” – suplicou El Presidente Alberto João Jardim.

Campos de Concentração em Cabo Verde

Neste navio…………….embarcados
somos náufragos…………….ancorados
Oh!
neste navio…………….ancorado
somos náufragos…………….embarcados
Oh! Navio!
Oh! Náufragos da terra longe!
Oh! Terra longe!
Oh! Terra!
Oh!

António Jacinto
C. T. Chão Bom, 28.12.65


É amanhã, quarta-feira, pelas 18h, na Livraria Bertrand (Dolce Vita, Coimbra), o lançamento do livro Campos de Concentração em Cabo Verde: Ilhas como Espaços de Deportação e de Prisão no Estado Novo, da autoria de Victor Barros. Tal como o subtítulo indica, Victor Barros concentra a sua análise nas ilhas como espaços de deportação e de prisão, revisitando a tradição histórica do desterro para os destinos insulares, e problematizando a sua apropriação pelo salazarismo para o isolamento e a prisão dos condenados. Uma ideia perpassa a obra, e prende-se com o desterro e a prisão no local de desterro.


ilha prisão e prisão na ilha

Victor Barros faz “um mapeamento dos diferentes destinos de deportação e prisão política, centrado nas ilhas onde ficaram celebrizadas a encenação e a materialização desta prática”. Neste sentido, o autor realça a prisão para deportados políticos na ilha de São Nicolau (1931), analisando depois a escolha de Tarrafal para a punição, primeiramente, dos opositores metropolitanos ao regime fascista instalado em Portugal (Colónia Penal do Tarrafal, 1936-1956) e, posteriormente, dos anticolonialistas africanos (Campo de Trabalho de Chão Bom, 1961-1974). E é em torno do Campo de Trabalho que Victor Barros focaliza a sua análise.

Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Um rectângulo oco na parede caiada Mãe
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Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze rectângulos de vidro Mãe
As barras e os varões Mãe
projectam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe
Lá fora é noite Mãe
O Campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
o mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe
A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe
Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
.....................................e como se vê, Mãe
Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!
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Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe
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Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe
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Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!
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António Jacinto
C. T. Chão Bom, 13.2.68

Olhares Perdidos

Viver e Blogar em Cabo Verde

Esta confirmado que finalmente o Sr. PM tem o seu próprio blog, um cantinho pessoal, conforme o mesmo afirma. Entretanto, seria interessante que o seu dono definisse cedo se trata de um blog de propaganda política, ou realmente de um espaço de viagens existenciais. Não obstante as minhas reservas, apresso-me a deixar aqui os meus votos de muita reflexão existencial ao Sr. PM, ou melhor ao bloguista Zema, e que a experiência lhe seja tão agradável ao ponto dele imaginar como seria bom se mais almas berdianas tivessem condições de vida que lhes permitissem blogar e sem esconderem a sua face atrás da confortável carapuça do anonimato!

Ayan, kretxeu!


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ayan, kretxeu!
queres ir dançar avec moi manhan?

- ah, ok!

Uma horrível sinusite me levou hoje ao serviço de urgência do Hospital da Universidade de Coimbra. Contando ninguém acredita! Mas quando cheguei ao balcão de atendimento me informaram que, na última vez que lá fui, tinha desaparecido antes da alta médica.
- o quê?
- a menina foi-se embora antes da alta médica.
- eu? quando?
- foi há 8 anos atrás.
- Lembro-me de ter vindo cá, acompanhada por três amigos (Jó, Júlio e Gerson).
- Não confirmaram a alta médica. A menina tem que confirmar a alta ali! – apontou-me com o dedo indicador.
- ah, ok!

Fui ao balcão. Falei com um dos senhores que ali se encontrava. Virou para o seu colega, e perguntou-lhe como devia fazer para confirmar uma alta 8 anos depois.
- Se calhar estive em coma durante 8 anos! – intrometi-me sorrindo.
Rimo-nos.

Tudo ficou resolvido no mesmo instante. Entretanto, enquanto aguardava pela minha vez, dei por mim a matutar o que teria sido se realmente tivesse estado em coma; se eu tivesse perdido 8 anos da minha vida, estagnada numa cama de hospital! Arrepiei-me toda, e senti uma vontade enorme de abraçar alguém apertadamente.
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Retrospectiva

Começavam a desfilar à minha frente mil coisas que vivi nesses últimos 8 anos. Lembrei-me de quando cheguei cá em Coimbra, eu e a Beti. Tínhamos apanhado um autocarro em Lisboa, Oriente, e descemos no Mondego em frente do Hotel Astoria. Não tinha telemóvel. Fui à cabine de telefone do Largo da Portagem, e telefonei à Lourdes. Tarina, Solange e Lourdes estavam à nossa espera na rodoviária. Caminharam pela Avenida de Fernão Magalhães, e vieram ao nosso encontro, cheias de comentários sobre caloiras. Beti seguiu com a Tarina para São Martinho do Bispo, e eu fui com a Lourdes e a Solange para a famosa Rua António José de Almeida, primeira paragem para a maioria da malta de Cabo Verde.

Nessa mesma noite, fomos à Associação Académica. Encontramos um batalhão de estudantes da terra: Jó, Jéssica, Ben Johnson, Júlio, Adilson, Renato, Odair, Isolino, Samira, Moisés, etc. Estavam alegres, sobretudo porque na samana anterior a lista do Renato e Odair tinham vencido a lista do Adilson e Ben Johnson numa das eleições para a AECVC mais concorridas de sempre. De modo que, naquela altura todas as conversas iam parar no mesmo tema. Apresentaram-me o Adilson, depois o Renato. Havia na época muito dinamismo estudantil. Muita gente bonita, e polemista. Motivo para dizer que, Coimbra, era um bez!

Depois conheci os meninos do Seminário (Paulino, Irineu, Zé Maria Pianista, Zé Mário, Eduardo...), a malta da faculdade de economia e demais grupos da grande comunidade estudantil de Cabo Verde. Seguiram-se a festa de recepção da caloirada, a festa do Natal e a festa do fim de semestre. Das coisas grandes como um louco abraço ao Gi em plena Praça da República até às coisas mais banais como preparar uma katxupada na casa velha da Rua Padre António Vieira, onde morava o trio Jó, Samira e Moisés, recordei-me de muitos momentos de animação plena. Desde as leituras na Salinha; os jantares de curso; as visitas quase diárias ao Castelo (casarão da sindicalista, que fica mesmo ao lado da faculdade), onde vivia a malta mais ri-fixe da época – JP, Laurindo, Higino, Edson, Sam e Eduardo-Djedje. As reuniões com os meninos do Seminário lá no Instituto de Justiça e Paz; as assembleias magnas, latadas e queima das fitas; os acampamentos pelos cantinhos de Coimbra e caminhos de Portugal; as cartas de e para Cabo Verde; os piqueniques no Penedo da Saudade, Jardim da Sereia e Jardim Botânico; as festas na casa do Isolino e Odair; as festas na casa do Fidel e malta de Assomada; as irresistíveis receitas do Avelino; as visitas aos meninos da Ladeira de Seminário (Gi, Nené e Nuno); as danças tradicionais do grupo da Célia; a música do grupo da Sandra Horta (com a Ildy, o Keita e o Tony); o fanteatro de Edmir, Gilson e Samir; as letras rap do Madueno e Jerson; o ku-tornu da Dilma; a arrozada da Eneida e Ariana; o futebol das meninas e dos meninos; a mousse di kamoka da Josiane; os passeios com a Marly pelas margens do rio Mondego e as nossas caminhadas às 7 da manhã no calçadão; os treinos no Estádio Universitário; as aventuras minhas e da Marly pelas Europas; as visitas à residência, onde vivia a Helena e o Hermelindo; as longas prosas com o Jairzinho; as gargalhadas com o Arlindo; a declaração «lapidu na Tunia» do Samir; os amores e as crianças de Coimbra; e os êxitos, os fracassos e as tragédias (a morte do Aldo) na vida de estudantes em terras distantes...

Pico de São Tomé

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Ilha

Em ti me projecto
para decifrar do sonho
o começo e a consequência
Em ti me firmo
para rasgar sobre o pranto
o grito da imanência.

Conceição Lima

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«Olha, Eurídice, cheguei no sábado, às 5h30 da manhã. Nesse mesmo dia, às 6h30, já estava eu de mochila às costas de partida para uma excursão de dois dias de caminhada ao famoso Pico de São Tomé, com cerca de 2.024m de altitude. É muito mais alto do que o teu Pico de Antónia. Situa-se no interior da floresta protegida do Parque Natural Ôbo de São Tomé e Príncipe. Foi uma experiência inesquecível! E, por momentos, fui o santomense mais alto do mundo!» - Menezes.

dimokrasia

Africanidades versus Europeísmos

a descolonização ideológica está destinada
a fracassar, se negligenciar a ‘tradição’ endógena
ou as ideias ‘ocidentais’ exógenas [...].

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Kwame Anthony Appiah, filósofo anglo-ganês.
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É amanhã, pelas 18:30mn, na Biblioteca Nacional, a apresentação do primeiro livro de Elias Alfama Moniz, intitulado Africanidades versus Europeísmos: Pelejas Culturais e Educacionais em Cabo Verde. Este livro é fruto de uma longa investigação, realizada no âmbito da sua tese de Doutoramento em História, defendida na PUC/SP (Brasil), que lhe garantiu o ‘Grande Prémio Cidade Velha 2008’. Nesta análise crítica sobre o papel da educação no desenvolvimento nacional, Elias Moniz enaltece o extraordinário “crescimento quantitativo das infra-estruturas e dos efectivos escolares”, em Cabo Verde. Todavia, isto “não foi suficiente para erradicar a dependência cultural”. Elias Moniz dá conta das ambiguidades que marcam os projectos culturais e educacionais, no nosso particular contexto histórico. Deste modo, além de destacar o pragmatismo que caracteriza o período após a independência nacional, este estudo evidencia ainda o modo como as heranças coloniais se reproduziram no sistema de ensino, nomeadamente nos currículos escolares. Aponta ainda para o desperdício de saberes; e chama a atenção para as disparidades inter-ilhas, mas igualmente entre o campo e a cidade. A actualidade da sua problematização acentua-se quando introduz a questão da co-existência ainda hierarquizada entre a língua portuguesa e a língua cabo-verdiana no nosso caso insular, que também se reflecte no sistema de ensino nacional.

 
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