Cabo Verde e Brasil: 7 Curiosidades Históricas



Por estes dias em que as atenções estão voltadas para o Brasil deixo aqui 7 curiosidades históricas:

I. Cabo Verde e Brasil têm uma ligação histórica colonial, cultural, política e linguística. Curiosamente, a historiografia indica que o arquipélago de Cabo Verde foi achado, povoado e colonizado antes do Brasil. Segundo consta, Cabo Verde foi “descoberto” entre 1460-1462 e, quase quarenta anos depois, em 1500 os navegadores portugueses comandados por Pedro Alvares Cabral chegaram acidentalmente às terras de Vera Cruz. Ao longo do tráfico negreiro, uma vasta mão-de-obra escrava – ladinizada aqui – seguiu viagem para essa outra ponta do atlântico (questão largamente tratada nos estudos de António Carreira, Daniel Pereira, João Lopes Filho e HGCV).

II. Ao contrário daquele país, dizem que aqui só havia aves de rapina, aves marítimas e aves canoras e também não havia sinal algum de riquezas minerais de valor económico, nem sólidas, nem líquidas, nem gasosas. Lá havia população nativa, índios; havia pedras preciosas, ouro e diamante, e uma variedade de recursos naturais.

III. No quadro do império colonial português, a história do Brasil tem alguns processos caricatos, com ligações curiosas a este arquipélago. Em 1807, quando D. João VI fugiu para o Brasil, uma parte da família real portuguesa fez escala em Cabo Verde antes de seguir viagem, transferindo a coroa portuguesa do reino (Portugal) para uma das suas colónias (nesse caso para o Brasil, tendo-se instalado no Rio de Janeiro). Na altura, contavam com o apoio britânico contra a ameaça da França de Napoleão Bonaparte. A coroa portuguesa só regressaria ao reino em 1821, após a revolução liberal de 1820 em Portugal. Recorda-se que a revolução liberal abriu alas não só para as mobilizações camponesas pelo acesso à terra em Cabo Verde, como a revolta dos Engenhos em janeiro de 1822 (assunto documentado e esmiuçado no livro As Revoltas, de Eduardo Camilo), mas também para a independência do Brasil.

IV. Deste modo, o Brasil se emancipou politicamente bem antes, em 1822. Aqui a independência só chegou em 1975, mais de um século e meio depois do Brasil. No século XIX, na sequência da independência do Brasil, em Cabo Verde surgiu uma proposta de separação política do arquipélago de Portugal e da sua vinculação ao Brasil. Uma iniciativa que foi desmantelada à nascença.

V. Recuando ao século XVIII, recorda-se que aconteceu no Brasil outra coisa que também teve consequências por aqui: a famosa Inconfidência Mineira (chefiada pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido por Tiradentes). Tudo indica que aquilo foi uma tentativa de revolta de viés separatista desencadeada na capitania de Minas Gerais contra a execução da derrama e, inclusivamente, contra a própria expropriação colonial. Tal conspiração tinha como objetivo acabar com a dominação portuguesa de Minas Gerais, transformando aquela região da colónia num país independente. Inspirados pela Independência dos Estados Unidos da América (1776) e pelas ideias iluministas da revolução francesa (1789), a forma de governo que pretendiam estabelecer era uma República, cunhando num esboço da branca bandeira da nova república uma expressão em latim que poderia significar «liberdade ainda que tardia» (isto comparativamente ao que havia sucedido na américa inglesa, EUA). Entretanto, esta tentativa de levante foi abortada pela Coroa Portuguesa em 1789, abrindo um processo judicial que estendeu-se durante dois anos e culminou em 1792 com o esquartejamento do seu cabecilha (Tiradentes) e a deportação dos outros membros da conspiração para partes de África (destes, o pai e o filho Rezende Costa vieram para Cabo Verde). Estes deportados e outros que já andavam por aqui contribuíram para a propagação dos ideais liberais nas ilhas.

VI. Mais perto dos nossos dias, por meados da década de 1930, os escritores cabo-verdianos recorreram-se aos pressupostos teóricos elaborados por ideólogos brasileiros, como Gilberto Freyre, Nina Rodrigues ou Artur Ramos, para explicar o caso de Cabo Verde, pondo a questão da miscigenação étnico-cultural no centro do debate cultural neste arquipélago (debate que ainda hoje continua em aberto).

VII. Por último, nos finais do século XVIII, o naturalista brasileiro João da Silva Feijó esteve durante treze anos (1783-1796) nas ilhas de Cabo Verde em expedições científicas, tendo deixado um bom acervo sobre a área da sua especialidade.

Sapatinha rubera riba, saparinha rubera baxu... Quem souber mais que acrescente outros factos!

Caldeirada à moda da casa

Os bons exemplos começam em casa. Tive na família alguns homens que ousaram ser diferentes. Quando o meu avô do lado de mãe entrava na cozinha o caldo de peixe virava caldeirada. Já o meu avô paterno deixava a gente com a água na boca só de falar sobre os seus temperos. Ambos foram meus amigos do peito. Recordo-me com satisfação das habilidades dos meus mestres da culinária. Isto tudo para vos dizer que hoje é sexta-feira e cá em casa o almoço vai ser uma caldeirada à moda vô Yoto acompanhada com arroz branco à moda vô Raw. Tudo isso feito por mim.

CALDEIRADA

Ingredientes | Postas de peixes diversos de Porto Mosquito (garoupa-pintada, bidion, xalinu, moreia preta...); batata-doce, batata-inglesa e banana verde de Txan-pa-Riba; cebolona; tomate maduro; pimentão verde; azeite Oliveira da Serra; lima e alho di terra; salsa do quintal da vovó; sal.

Preparação | O primeiro segredo é a qualidade dos peixes. Não aconselho peixes do rio, porque peixes do mar têm outro sabor. Tempera-se as postas dos peixes à base de alho pilado com um pouco de sal. Rega-se com um pouco de lima espremida à mão. Deixa-se no tempero durante um bom tempo. (Para o pessoal da pinga, aconselho que junte-se ao tempero uma boa dose de malagueta da cor vermelha).

Outro segredo é controlar o tempo do tempero, umas duas horas. Às vezes, tempero as postas já com a panela ao lume e, confesso, que não costuma dar certo. Parece que fica sem tempero, sem sal.

O terceiro segredo é o tipo de tacho. Aconselho cada qual a cozinhar na sua própria panela. Panela da sogra não serve (corre-se o risco de salgar a comida!). Tendo em mãos uma boa panela de fundo raso, deita-se as rodelas de cebolona e tomate.

Deve-se colocar os cubos de batatas e as bananas antes das postas dos peixes, caso contrário estas ficam desfeadas. Deita-se por cima as tiras de pimentão verde, um pouco de salsa picada e sal q.b. Rega-se agora com um fio de azeite.

Depois do momento da fervura, deixe-se cozer em lume brando durante cerca de um quarto de hora. Serve-se com arroz branco (o meu arroz é à moda do vô Raw, segredo de família mas hei-de partilhá-lo aqui um dia desses).

Pode-se também servir com pirão à moda do Maranhão ou à moda do Papabedjo (meu bisavô). Nos finalmente, é bom que se tenha em conta a companhia. Todo esse trabalho para qualquer pessoa, não dá! Portanto... (agora é hora de dizer, não se fecha uma frase com portanto...).

SE FOR NUM SÁBADO OU NUM DOMINGO, PODE-SE COLOCAR UMA COLADEIRA A TOCAR.

«moringa, original!»

Pelos vistos todo o mundo anda doido atrás das folhas de moringa. As rabidantes sabem disso. De maneira que hoje, pela manhã, aí por volta das oito e tal, havia uma rabidante no mercado municipal da capital bradando aos quatro ventos: «moringa, original!» Quando estiquei a cabeça para dar fé, ela apanhou-me: «hey, venha! Isso é para ti. Leva. É bom. O doutor, que esteve cá ontem, disse que o chá de moringa cura todas as doenças: cura aquelas que a gente tem e aquelas que a gente não sabe que tem. Só não toma se tiver tensão baixa, o doutor é que disse.» Parecia que todo o mundo tinha a intenção de comprar as folhas de moringa. E eu, que fui comprar hortelã, não resisti. Por via das dúvidas, também comprei.

 
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