“As Mãos de Eurídice” no Mindelact

Parabéns, Mindelact!

Uma vez, fôramos a Mindelo em digressão-escolar-teatral e, enquanto grupo liceal (Juliceu do LDR), recebêramos bilhetes para assistir a alguns espetáculos. É pena que eu nunca mais tenha voltado ao Mindelact. Também a minha carreira de atriz foi efémera. Começou e terminou no mesmo ano letivo, com uma única peça de razoável sucesso. Fiquei com uma boa memória desse tempo, do festival de teatro do Mindelo e do seu diretor João Branco. Pelos palcos do Mindelact já passaram tantas peças e eu tenho escutado os ecos das coisas boas que lá acontecem. Parabéns, Mindelact!


“As Mãos de Eurídice”, encenação crioula

Esta é a mais famosa peça do dramaturgo ucraniano Pedro Bloch, que narra a história de um escritor de obras inéditas, Gumercindo Tavares, e a sua louca paixão por Eurídice. Escrito em 1949, é considerado o primeiro monólogo encenado no Brasil. Estreou-se em 1950, tendo como protagonista o ator Rodolfo Mayer. Segundo consta, desde então, já conta com mais de 60 mil encenações em mais de 45 países. É uma peça que vem sendo interpretada pelo mundo fora, por consagrados atores de teatro como Sean Connery (Inglaterra), Maurice Schwartz (EUA), Enrique Guitart (Espanha) ou Marcello Moretti (Itália). No ano passado, pela primeira vez, foi apresentada em Portugal, com o ator Sindle Filipe. E agora, no dia 22 de Setembro, no âmbito da 20ª edição do Mindelact, acontecerá mais uma encenação, em Cabo Verde, com o ator caboverdiano Manuel Estevão.


Na encenação crioula, o protagonista é Manuel Estevão. A adaptação deste monólogo conta «a história de um homem sozinho com o seu desespero, procurando apoio, compreensão e solidariedade entre o público que o assiste e paz consigo próprio». Nesta peça, Gumercindo é o homem que se apaixonou por Eurídice, que tinha belas mãos, e com quem viveu uma aventurosa paixão na Argentina, durante sete longos anos, mas que o abandonou depois de sugar todo o seu dinheiro no jogo de casino. «Percebendo que nada lhe restava ali, Gumercindo pediu a Eurídice que lhe devolvesse alguma das suas jóias. Vendo que este pedido não foi atendido, Gumercindo resolve voltar para casa», onde deixou a sua ex-esposa, Dulce, e os seus filhos. Entretanto, «encontra a sua mulher com outro homem, a sua filha casada e, aterrorizado, dá-se conta que o seu filho morreu». Em síntese, nesta versão, «as mãos de Eurídice trazem, a Gumercindo Tavares, a angústia, a alegria, a miséria, as mãos nos seus afagos, nos seus vícios, enfim, no seu extremo poder, mostrando, acima de tudo, o quanto conseguem os males do Homem penetrar fundo no seu íntimo e deixar marcado o símbolo de seus actos.»


Manuel Estevão, o ator

Manuel Estevão é caboverdiano, de São Vicente, e vive em Seixal. Tem 52 anos. Foi, recentemente, distinguido com o Prémio de Mérito Teatral e pelos 40 anos de carreira. Na sua experiência como ator de teatro, destaca-se a sua participação em diferentes peças, entre outros: “No Inferno”, de Arménio Vieira; “A Última Ceia”, de Rui Zink; “Alto Mar”, baseado nas obras de Mrozec e Eugénio Tavares; “Sapateira Prodigiosa”, de Frederico Garcia Lorca; “O Conde de Abranhos”, de Eça de Queirós; “Agravos de um Artista” e “Os Dois Irmãos”, de Germano Almeida; “Médico à Força”, de Moliére e “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. A sua estreia na peça “As Mãos de Eurídice” foi há três décadas. É, até agora, o único ator a interpretar este monólogo em Cabo Verde.

Manuel Estevão, na peça No Inferno, de Arménio Vieira.

No cinema, já participou em “Fintar o Destino”, do realizador Fernando Vendrell; “O Testamento do Sr. Napomuceno”, do realizador Francisco Manso; “Os Flagelados do Vento Leste”, do realizador António Faria, etc. Para além destas atividades, desempenha muitas outras funções no campo cultural.



Pedro Bloch, o autor

Foi médico pediatra, foniatra, jornalista, compositor, poeta, dramaturgo e autor de livros infanto-juvenis. Nasceu na Ucrânia, em 1914. Em 1922, quando contava 8 anos de idade, a sua família imigrou para o Brasil, onde ele se fez homem e viria a morrer aos 89 anos. No teatro, o seu primeiro grande sucesso foi “As Mãos de Eurídice”. Com esta peça, tornou-se autor do primeiro monólogo encenado no Brasil, tornando-se o dramaturgo brasileiro mais traduzido e representado pelo mundo fora.


“As Mãos de Eurídice”, com Rodolfo Mayer

Rodolfo Mayer (1910-1985) foi um ator brasileiro, primeiro protagonista mundial da peça teatral “As Mãos de Eurídice”, monólogo que ele interpretou durante vinte anos e subiu ao palco por mais de quatro mil vezes para apresentar este espetáculo. 

 
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