Frequentemente atropelo-me em notícias que deveriam nos irritar. Desta vez, o Expresso das Ilhas informa que, cerca de 40% das crianças cabo-verdianas, com menos de 1 ano, não estão registadas. Trata-se de um direito básico das crianças que sistematicamente continuamos a violar. Está entranhado nas nossas ilhas? Parece que sim! Há quem diga, melhor a história confirma que já foi bem pior. Mas isso não é motivo para batermos as palmas. A verdade é que, para além das crianças de ruas ou nas ruas, mesmo no seio da nossa «sagrada» família, a situação das crianças continua ainda muito preocupante. Ok, há quem ainda acrescenta que já melhorou bastante, que Cabo Verde está muito bem posicionado no ranking X ou Y.
.
Todavia, é preocupante a forma como a paternidade e a maternidade irresponsáveis afectam as nossas crianças. Queria chegar nesse ponto, e demorar-me cinco segundos na triste questão da irresponsabilidade paternal. É que, para mim, a maior violência contra as mulheres cabo-verdianas é a irresponsabilidade paternal. Tal prática constante nas nossas ilhas atinge gravemente as nossas crianças. Põe tanto as nossas mulheres, como a família cabo-verdiana, em situações de maior vulnerabilidade. Entretanto, aplaudimos hipocritamente que as nossas mulheres são fortes, verdadeiramente heroínas sofridas, porque frequentemente assumem sozinhas, em condições difíceis, a responsabilidade para a educação das crianças e o sustento do seu agregado familiar... A nossa hipocrisia atinge ao cúmulo quando, através de despachos administrativos, deixamos subentendido que as mulheres cabo-verdianas - mais problemático ainda quando estão na tenra idade - são Virgens Marias, pois parece que concebem sem pecar. Daí peregrinam para Belém, melhor para a Exclusão, e ali ficam sozinhas à espera do nascimento do menino ou da menina Jesus. Sim, algumas regressam, e ajoelhadas continuam a caminhada; mas a maioria perde-se no deserto!
.