I EJIC (Lisboa, 2006)

No dia 21 e 22 de Dezembro de 2006, nas instalações da Universidade Nova de Lisboa, foi realizado o I Encontro de Jovens Investigador@s Cabo-verdian@s, subordinado ao tema A Juventude e a Promoção da Cultura de Investigação. Na programação para este fórum de intercâmbio académico, encontravam-se inscrit@s cerca de 31 jovens, com projectos de investigação nas diversas universidades portuguesas, inclusivamente em regime de co-tutela com outras universidades europeias.

O “Encontro de Lisboa” abriu um espaço de diálogo entre as diferentes áreas do saber científico representadas pel@s jovens investigador@s cabo-verdian@s, que, num pequeno auditório, apresentaram as suas comunicações, proporcionando um debate activo no seio da pequena comunidade reunida.

Deste encontro, importa analisar a importância do diálogo entre as ciências para a construção de uma comunidade académica coesa e, efectivamente, comprometida com a dinamização de uma cultura de investigação, em Cabo Verde. Atendendo aos novos desafios epistemológicos, o diálogo entre as ciências surge como uma condição necessária para o avanço da investigação científica, no contexto cabo-verdiano. Por conseguinte, a contribuição d@s jovens investigador@s revela-se como sendo fundamental para responder aos actuais desafios que, estrategicamente, tem sido assumidos como uma aposta indispensável para o desenvolvimento do país.

Neste sentido, torna-se necessário incentivar a actividade académica, sendo imprescindível estimular a publicação aos níveis nacional e internacional. Evidentemente, a afirmação da comunidade académica cabo-verdiana requer uma participação activa nos espaços de actividade científica internacional. Deste modo, o EJIC surge com um potencial acrescido por possibilitar um espaço de diálogo académico que extravasa as fronteiras nacionais, acompanhando assim a intensificação dos processos de globalização, que têm tido reflexos nos próprios modos de produção científica.

PRÉMIO DIREITOS HUMANOS (2007)

Hoje, a Assembleia Nacional de Cabo Verde foi palco de uma belíssima cerimónia em prol dos Direitos Humanos, organizada pela Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC).

A abertura esteve a cargo das criancinhas do nosso país, que, numa musicalidade afinada, exigiram o respeito para com os direitos humanos d@s pequenotes. Num grito contagiante, aguçaram a sua voz para que, desde a tenra idade, cada ser humano (sendo homem ou mulher) tenha a possibilidade de exercer os seus amplos direitos com dignidade. Logo no discurso de abertura, proferida pela Dra. Vera Duarte (Presidente da CNDHC), foi evidenciada essa necessidade de reforçar a luta pela dignidade humana e pela justiça para tod@s, nomeadamente no nosso espaço insular.

A hora mais vigiada da cerimónia foi a de entrega do “Prémio Nacional dos Direitos Humanos” (edição: 2007), nas três categorias contempladas:

- Reportagem: “Quebra o meu silêncio com um gesto do teu amor”, levada a cabo pela jornalista(activista) Maria de Jesus Lobo, que procurou dar visibilidade às crianças e famílias que vivem o drama da Paralisia Cerebral, numa situação de vulnerabilidade social chocante à luz do dia. Para além dessa reportagem inquietante, a jornalista(activista) Maria de Jesus Lobo tem tentado contribuir para a procura de soluções no sentido de possibilitar melhores condições de vida às crianças portadoras dessa deficiência.

- ONG: associação Acarinhar, dirigida pela activista Teresa Mascarenhas, que tem vindo a trabalhar junto de crianças portadoras da Paralisia Cerebral. Para além de identificar as famílias que enfrentam esse drama, esta ONG tem tentado dialogar com diferentes instituições para proporcionar dias mais tranquilos a essas crianças (tendo em atenção as limitações da deficiência).

- Estudo Científico: dissertação de mestrado, intitulada “Mulheres, Democracia e Desafios Pós-Coloniais: Uma Análise da Participação Política das Mulheres em Cabo Verde”, da jovem investigadora(activista) Eurídice Furtado Monteiro.

Portanto, a manhã desta segunda-feira, foi de reconhecimento do trabalho realizado (sobretudo pelas nossas mulheres) para a protecção e a promoção dos direitos humanos, em Cabo Verde. Em jeito de balanço final, com uma euforia renovada, o Chefe de Estado Pedro Pires exaltou o engajamento nacional pelos Direitos Humanos, evidenciando o discurso institucional de respeito para com os direitos consagrados no ordenamento jurídico nacional e internacional. A cerimónia contou ainda com a presença da Dra. Filomena Martins (Ministra da Educação e Ensino Superior), Dr. José Manuel Andrade (Ministro da Justiça) e representantes de instituições públicas e da sociedade civil cabo-verdiana.

Santiago (antes)

(Coimbra, 6 de Dezembro de 2007)

Durante vinte e um dias, vou estar com Santiago, dando uma ou outra escapadela. Entre os meus compromissos de investigação e as minhas outras escritas, pretendo desfrutar de uns dias de intensa cumplicidade nos braços de Santiago. Preciso regressar com a minha cabeça fresquinha para continuar a pedalada.

Mais do que acomodar/acordar os meus gemidos silenciados, desejo a aura de dias orquestrados no meu corpo olvidado, onde habitam as gotículas em pó-badiu. Neste meu corpo, a pasárgada sonhada em contos húmidos, repousam ainda as marcas de breves dias passados com o amargo sabor do mel...

Tantas são as saudades: do cheiro da cultura d’terra; dos passeios de fim-de-tarde, quando a paz parece reinar na confusa cidade da Praia; dos reencontros com as ondas rabugentas de quebra-canela; das saídas programadas para o interior; das manhãs de orvalho em Assomada; das noites ao relento na praça do Porto de Calheta; dos mergulhos na praia da Batalha; das conversas afiadas e das risadas da juventude boka-portuense; do milho assado da Anália d´Pundéka; di rapuzada da Sugunda d´Katilina; do doce-de-coco da Lálá; d@s nov@s e velh@s amig@s... Infelizmente, não vou poder dar aquele abraço a tod@s, o mar ciumento não me permite deslizar tanto.

ANTONIETA CUNHA (faz a diferença)


“Antonieta Cunha, 38 anos, é agente da Polícia Nacional na Praia e uma das suas maiores batalhas é a luta contra a violência baseada no género. Trata cada caso, cada pessoa com atenção especial. Dá o seu número pessoal às vítimas e afirma-se disponível 24 horas. É firme e transmite segurança a quem chega até si à procura de ajuda, tenta sossegar as vítimas e garante-lhes que tudo vai ficar bem. Mas, às vezes, também chora de noite as dores que mulheres e crianças lhe levam todos os dias” (www.asemana.cv).

TAVARES

Na passada quinta-feira (29/11/2007), o poeta cabo-verdiano José Luís Tavares, nascido lá pelas bandas do Tarrafal de Santiago, esteve em Coimbra para participar num colóquio dedicado aos claridosos.

O poeta surpreendeu-me com a sua infância revisitada, num diálogo íntimo com o Chiquinho (que, hoje, mocinho já não é, mas permanece assim no imaginário da obra que o protagonizou). A melodia cuidadosa imprimida na “Carta ao Chiquinho” contagiou a assistência. Eu até escutava as risadas inocentes do mocinho Chiquinho e do menino Tavares, enquanto galopeavam. Com a sua poesia, o poeta tinha já acordado o Mondego por ocasião do “VI Encontro Internacional de Poetas”. Desta vez, remexeu nas memórias da sua infância, nem tanto perdida.

Dizem que, desde o seu primeiro livro (Paraíso Apagado por um Trovão), este poeta tem feito um esforço extraordinário de invenção linguística. Infelizmente, ainda não li Paraíso... Nem por isso sinto mais receosa para falar da imaginação poética de José Luís Tavares. Pois, tenho entre as minhas mãos o segundo livro de poesia deste nosso poeta (Agreste Matéria Mundo). Trata-se de um livro com qualidade literária inestimável. Está na minha mesa-de-cabeceira. Por ser bastante denso, ainda não cheguei ao fim. Nem quero chegar ao fim! Prefiro roubar, sempre que me apetecer, um poema e mastigar devagarinho durante horas.

“Nenhum destino está escrito nas estrelas. O meu, construí-o por caminhos de cabras e de pedras, ouvindo perto o rugido do mar e os gemidos dos ventos da serra, entre gente de humilde condição, porém, de uma altivez tal apenas comparável aos impassíveis penhascos que outrora me vigiaram a infância”.
José Luis Tavares

HIV/SIDA

1 de Dezembro - Dia Internacional de Luta contra a Sida

1) O HIV/SIDA tem atingido brutalmente o continente africano, sendo de destacar a elevada taxa de incidência na categoria feminina. Como a principal via de transmissão tem sido a sexual, torna-se imprescindível a sua prevenção (nomeadamente através do uso de preservativos). Contra todos os preconceitos, devemos lutar por uma saúde sexual responsável!

2) A detecção precoce da infecção pode ajudar bastante no seu tratamento, bem como combater a propagação do vírus.

3) Nunca é demais insistir com as acções de sensibilização sobretudo para a prevenção do HIV/SIDA.

CARA EILEEN (II)

Queria começar esta carta da seguinte forma: “Calheta, aos 30 de Novembro…”. De repente, apercebi-me de que estou em Coimbra e apaguei o que tinha já registado. Então, voltei à vida virtual para responder as tuas questões. Antes disso, vou tentar analisar o debate fomentado por sete blogs: Albatrozberdiano, Filinto Elísio; Pedrabika, Amílcar Aristides; Soncent, Eileen Barbosa; Son di Santiagu, Djinho Barbosa; Ala Marginal, Abrãao Vicente; So pa Fla, Chissana Magalhães; Igualdade na Diferença, Eurídice Monteiro.

(Albatrozberdiano, Filinto Elísio) Num post sobre a problemática do bilinguismo (18/08/2007), intitulado “O bilinguismo nosso de cada dia”, Filinto Elísio refere à necessidade de tradução para crioulo cabo-verdiano tanto da Bíblia, como também da Constituição Nacional. Ressalta a necessidade desta língua ser usada também nas situações de comunicação formais, como nas cerimónias religiosas e nas próprias instituições públicas (a Assembleia Nacional, os Tribunais, os Hospitais, as Escolas...). Ainda refere à necessidade da introdução do crioulo cabo-verdiano nos anúncios durante os voos da TACV, juntando assim ao inglês, francês e português. Numa melodia pessoana, Filinto Elísio afirma: “a minha pátria é a língua cabo-verdiana”. Contudo, não deixa de exaltar a língua portuguesa como a sua segunda natureza. Assim, defende a oficialização do crioulo, em prol da construção progressiva de um real bilinguismo, dando especial atenção ao papel central do Estado no que concerne à política linguística. Reforça o papel do português enquanto um recurso estratégico fundamental para o desenvolvimento e a inserção neste mundo globalizado. Neste post, importa realçar a problemática da marginalização do crioulo cabo-verdiano sobretudo no seio da “pequena elite intelectual” e da padronização linguística no que se refere ao domínio da escrita.

(Igualdade na Diferença, Eurídice Monteiro) Numa análise sobre a problemática linguística (19/08/2007), intitulado “A(s) Língua(s)”, tento realçar a diferença “portuguística” no espaço da CPLP. Lembrando do post no Albatrozberdiano sobre o bilinguismo no contexto cabo-verdiano, não deixo de reconhecer que o debate sobre a(s) língua(s) merece ser aflorado e levado a sério pelos responsáveis directos no processo de afirmação do crioulo cabo-verdiano. Para além disso, tento ressaltar duas questões. Por um lado, a questão da geopolítica da língua, referindo à questão do alfabeto unificado no quadro da “dita” CPLP e alertando para a necessidade de ter em atenção os jogos de poder(es) neste espaço em que o português nos (des)une. Por outro, o fenómeno da globalização, afirmando que, ao mesmo tempo que o uso do inglês se intensifica à escala global, faz todo sentido a afirmação da língua cabo-verdiana, sendo que aceitar que é inútil o investimento na língua cabo-verdiana significa “sacrificar a diferença em nome de um princípio de assimilação”. Por fim, frisei o direito e o dever do povo berdiano no sentido da valorização do crioulo cabo-verdiano, não só enquanto elemento cultural, mas também como veículo de produção de conhecimentos, mesmo que sejam (ou sobretudo porque são) os conhecimentos “catalogados” como tradicionais.

As minhas considerações suscitaram alguma discussão, reunindo vinte cibercomentários. Em termos gerais, importa ressaltar duas questões problematizadas ao longo da discussão. Em primeiro lugar, a língua enquanto elemento identitário. Em segundo lugar (e mais problemática), a questão da oficialização, chamando a atenção para a falta de paciência relativamente ao próprio processo e aceitando que o crioulo cabo-verdiano ainda não encontra-se preparado para ser uma língua oficial, tendo sido ressaltado a problemática da escrita.

(Pedrabika, Amílcar Aristides) Tendo tido uma participação activa no meu post sobre “A(s) língua(s)”, Amílcar Aristides (5/10/2007) lança o debate no seu blog, que suscitou comentários no sentido da valorização das diferentes variantes do crioulo cabo-verdiano. Uma questão importante realçada prende-se com o reconhecimento do simbolismo cultural e das práticas sociais associadas às diferentes variantes.

(Soncent, Eileen Barbosa) “Em badio é que nos entendemos?” Com esta interrogação começas o teu post (23/11/2007), gerando polémicas na blogesfera berdiana. Contas que ficaste surpreendida ao ouvir as boas vindas de uma assistente de bordo, primeiramente, na variante de Santiago e, depois, em Português, Francês e Inglês. Tendo perguntado a uma das assistentes acerca desta novidade, ficaste a saber que, até Janeiro, o crioulo cabo-verdiano vai ser introduzido em todos os voos daquela companhia.

Do teu post e dos quarenta comentários que suscitou, surgem um conjunto de questões que, embora não sendo inéditas, não deixam de ser preocupantes: 1) a problemática da oficialização do crioulo; 2) a “guerrilha linguística” entre a variante de Santiago e a variante de São Vicente (mais do que isso, entre “badiu” e “sampadjudu”); 3) a influência do português nas diferentes variantes do crioulo cabo-verdiano; 4) o português como língua que une (ou cria zonas de contacto/entendimento) entre @s cabo-verdian@s; 5) a mudança de posição na hierarquia linguística com a oficialização do crioulo cabo-verdiano.

Para além dessas questões, não posso deixar de fazer referência a duas passagens no teu post: “(…) di fora”; “eu até acho o Badio uma língua bonita (…)”. Podemos pensar também nos não ditos implícitos no teu post. Acredito que tenha sido apenas um descuido da tua parte, que, nem sequer, imaginavas que ias acordar os fantasmas da cabo-verdianidade que encontram-se atrás das marcaras da nossa modernidade forjada. Portanto, tocaste na velha ferida (sempre aberta, mas politicamente silenciada), acabando assim por suscitar tamanha polémica.

(Son di Santiagu, Djinho Barbosa) Num post intitulado “O post da Eileen é NORMAL?” (26/11/2007), Djinho Barbosa sugere uma análise crítica do discurso do teu post, sublinhando as partes mais problemáticas. Para além disso, Djinho Barbosa chama a atenção para o lado depreciativo associado ao “badiu”.

(Ala Marginal, Abrãao Vicente) No seu post (28/11/2007), Abrãao Vicente começa por abordar as discussões acerca de “badiu” e “sampadjudos” e os preconceitos que foram sendo enraizados na nossa cultura, com marcas bairristicamente traçadas. Ultrapassando a mera questão linguística, Abrãao Vicente belisca os pressupostos básicos escondidos atrás de um simples debate sobre a problemática linguística, remetendo para a própria problemática da construção identitária no nosso espaço insular.

(So pa Fla, Chissana Magalhães) Chissana Magalhães (28/11/2007) introduz na discussão a distinção entre língua e dialecto, que sistematicamente tem sido referido no âmbito dos debates sobre a problemática linguística sobretudo nas antigas colónias. Ainda realça a diferença que existe no interior da variante de Santiago, bem como as diversas formas de subalternização d@s falantes “di fora”. Para além disso, ressalta o esforço da malta berdiana no que se refere a outras línguas, questão que eu também tentei deixar clara na primeira carta que te escrevi.

[Irmandade Crioula!?...] Tive que recorrer ao debate que encontra-se aberto nos blogs berdianos, porque não podemos ignorar as suas implicações. E, agora, sem rodeio, aproveito para dizer-te que, o escândalo das tuas palavras prende-se com o facto de a Eileen ser uma jovem aberta e esclarecida, que acompanha as mutações da nossa contemporaneidade. No meu entender, devias fazer uma auto-reflexividade acerca do teu post e, por conseguinte, apresentar um pedido de desculpas por ter ferido a susceptibilidade de muit@s leitor@s do teu blog, nomeadamente por causa da seguinte afirmação: “achei mais piada que outra coisa”. Um pedido de desculpas evidenciará a tua maturidade e o respeito para com as nossas diferenças internas, sem comprometer a tua liberdade de expressão.

Bom fim-de-semana!
Eury

QUERIDA EILEEN (I)

Na nossa última conversa instantânea no messenger, tu estavas na Irlanda, desafiando o frio gélido e aquecendo a tua alma com poemas rabiscados por ti directamente na língua inglesa. Gostei deveras daquele poema ("Keep low profile"), especialmente dos últimos versos que quase sinto deslizar nos meus lábios como o meu gloss da Clinique: “Don’t you stare/ Put down your chin/ Don’t show pride/ When you need to hide”.

Enquanto conversava contigo, eu fazia um esforço tremendo para ignorar as lembranças que, teimosamente, persistiam em cada objecto na minha escrivaninha. Por mais que tentava fugir dessas lembranças, algo mais forte me trazia mensagens de momentos registados num pergaminho ou apenas ecoados no chão vermelho do meu coração doentio de tantas saudades. Quando virava para o Norte, pensava no Nikolai e sentia das Parfüm des Schnees. Scheisse! Ainda sinto a suavidade dos fios loiros do Nikos e a inquietação das duas lanterninhas verdazuis deste menino de Berlim. Quando contornava para o Sul, aparecía la imagen del cabrón de Carlos con sus historias de los indígenas de Chiapas. Ainda encravada no Sul, recordava das conversas de horas perdidas com a Eliana e até sentia o meu corpo mexer de tanto pensar na galera do samba. Lembro-me como se fosse ontem da feijoada brasileira feita pela Alene, da caipirinha da Mary, do caldo de mancarra do Julião, do frango de caril do André, dos jantares multiculturais no Casarão e da poesia em diversas línguas e sotaques que mais não eram do que uma forma rebelde de projecção da diversidade de povos e culturas que habitam no meu oceano tempestuoso.

Lembro-me que, quando comecei a conversar contigo, eu tinha acabado uma conversa com a Shahd. No dia anterior, durante um seminário do Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a linguista Clara Keating tinha ficado maravilhada ao perceber que estava perante um grupo marcado pela diversidade linguística: a Shahd tinha trazido o Árabe; a Oriana o francês; eu o crioulo cabo-verdiano (variante de Santiago); as portugas Salomé, Ana Paula, Alexandra, Cristina, Teresa, Dina, Marta, Filipa e Olga acentuavam de modo distinto na língua lusa. Éramos doze jovens numa tarde de Outono poeirento, partilhando as nossas experiências linguísticas. A maestrina da tuna poliglota tentava insistentemente saber mais e mais sobre as nossas vadiagens no reino das palavras. Apesar da ditadura mundial do inglês, tentávamos expressar noutras línguas, que transportavam a nossa própria identidade. Mesmo entre as jovens que tinham uma relação de proximidade com o português, era visível a diferença “portuguística”.

Ontem, após uma visita mais demorada aos blogs berdianos, apercebi-me que, no contexto cabo-verdiano, o debate sobre a problemática linguística merece ser mais incitado, sendo necessário estimular diálogos entre as diferentes variantes do crioulo cabo-verdiano. Digo-te que fiquei surpreendida pela forma como abordaste a variante de Santiago. Não esperava essa atitude da tua parte, sobretudo porque percebo que tens uma mentalidade aberta e a capacidade para compreender (se assim o quiseres) as mensagens de falantes que não se expressam na variante de São Vicente.

Antes de sair para estudar em Coimbra, tive a oportunidade de participar em digressões e encontros juvenis no nosso país. Convivi com jovens das nove ilhas habitadas do nosso arquipélago e fiz amizades que arrastaram no tempo. Mas a minha relação mais calorosa com gentes de outras ilhas começou quando estacionei nesta cidade distante. Aqui apercebi-me que, por mais que estivesse longe da minha terra e da minha família, tenho sempre um ombro berdiano onde posso me encostar quando a saudade aperta. Com vontade de compreender e de ser compreendida, fui-me familiarizando com as diferentes variantes do crioulo cabo-verdiano. Claro, nem sempre compreendo expressões próprias de determinadas ilhas ou localidades. Nunca senti receio de dizer que não faço ideia do que significa determinada palavra, nem de perguntar como devia dizer certas coisas numa variante diferente da minha. Podia passar horas aqui a falar-te da minha convivência no reino linguístico berdiano. Mas prefiro deixar-te com um belíssimo poema da poetisa guineense Odete Semedo.


Em que língua escrever

Em que língua escrever
Contando os feitos das mulheres
E dos homens do meu chão?
Como falar dos velhos
Das passadas e cantigas?
Falarei em crioulo?
Falarei em crioulo!
Mas que sinais deixar
Aos netos deste século?

Ou terei que falar
Nesta língua lusa
E eu sem arte nem musa
Mas assim terei palavras para deixar
Aos herdeiros do nosso século
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem
(...)

Deixarei recado
Num pergaminho
Nesta língua lusa
Que mal entendo
(...)

Odete Semedo

Beijinhos,
Eury

25 DE NOVEMBRO


Hoje, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, não podia deixar de pensar sobre as várias formas de violência (física, sexual e psicológica) que atingem a camada feminina.

Aproveito para fazer um apelo a tod@s no sentido de reflectirem sobre esta problemática no nosso quotidiano...

O FAZEDOR DE UTOPIAS


Hoje, pelas 18:30mn, a Casa Fernando Pessoa vai acolher o lançamento de O Fazedor de Utopias: Uma Biografia de Amílcar Cabral, da autoria do jornalista e escritor angolano António Tomás. A apresentação vai estar a cargo do escritor (também angolano) José Eduardo Agualusa.

Amílcar Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924, na actual Guiné-Bissau, sendo filho de pais cabo-verdianos. Em 1956, fundou o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Quase no fim da luta por ele engendrada, a 20 de Janeiro de 1973, foi assassinado numa noite ainda muito mal contada. Este biografado foi um homem do seu tempo, que conseguiu lançar utopias para além do seu tempo, tendo sido um acérrimo defensor da dignidade humana.

A TI, MULHER!

A ti
Que no teu seio
Recolheste e fecundaste
O gérmen do meu ser
E regaste
O meu corpo
Com o sangue
Das tuas veias

[...]

A ti
Parceira
Certa e quente
Dos meus ardentes
Momentos
Eva sensual
Dos meus
Libidinosos sonhos
E esquivas aventuras

A ti
Mulher
Escrava liberta
Amazona indomável
Da nossa luta

A ti
Mulher
De balaio à cabeça
Enxada ao ombro
Espingarda em punho
Ou livro aberto

A ti
Mulher
De menino às costas
Soprando lume
Ou cochindo milho
Nas ladeiras
Catando lenha
Ou ao sol do meio-dia
Construindo diques
E abrindo estradas
No hospital curando
Ou na escola ensinando
Soldado
Em todas as frentes
participando

A ti
mulher

A ti
Fonga
Munana
Titina
Naia
Muntura
Nhamina

A ti
Mulher
De Chã de Tanque
Rabil
Cova Figueira

Monte-Sossego
Coculi
Nossa Senhora do Monte
Pedra de Lume
Morro
Carriçal

A ti
Mulher de Cabo Verde

A ti
Mulher-mãe
Mulher-filha

A ti
Mulher-esposa
Mulher-amante
Mulher-amada
Mulher-amor

A ti
Minha irmã
Camarada
Amiga
Companheira
Parceira

A ti
Mulher

A ti
Um Verso
Um Poema
Um Hino

A ti
Sempre uma Homenagem!


D.H.A. (26/08/1984)

Filha do Mar

Quando nasci, no dia primeiro da segunda metade de um jucundo Novembro, a minha pequena aldeia parecia serena. A vizinhança escutava a dor da mãezinha, segurada pelo enfermeiro confiante, que recusou chamar a parteira.

A Afrodite preparava-se para pousar no silêncio da noite, acompanhada pela melodia das ondas, que lambiam a areia negra sonolenta. Porém, um manto largo castanho-avermelhado estendia-se no céu, desde o cimo de Monte Serrado. As lágrimas dos deuses e das ninfas começavam a cair. Até pareciam conduzir Orfeu às profundezas do Hades para resgatar a Eurídice.

Algures entre as montanhas e os vales, no momento em que a povoação se preparava para embalar na mansidão da noite, entoei o meu primeiro grito. Emprestaram-me o nome da bela ninfa auloníade, reencarnando subitamente um amor eterno. Para o meu desassossego, semearam o meu cordão umbilical no mar e traçaram o meu destino com o primeiro relâmpago.

...

Já agora, parabéns para a Ana Preste lá no Brasil e para a minha prima Larissa em Cabo Verde, que também fazem anos hoje… E para tod@s outr@s amig@s que (re)nasceram no mês de Novembro, em especial: Elinha, António CeS, Evy e Shely (14 de Nov); Carla Sofia, BSS e Miriam Elizabeth (15 de Nov); Diva (17 de Nov), etc. Ainda um especial abraço a outr@s novembristas: Sara Araújo, que se encontra numa fase de pesquisa empírica em Moçambique; Ondjaki, pelo Há Prendisajens com o Xão, que escolhi para “chãonhe-ser-me”.

PARABÉNS AO MESTRE

Nasceu no dia quinze de Novembro, do ano de mil novecentos e quarenta, em Coimbra. Hoje, é conhecido como sociólogo, professor universitário (professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e professor convidado na Universidade de Wisconsin-Madison), poeta e activista. Através do Centro de Estudos Sociais por ele dirigido, tem vindo a se afirmar como um dos principais intelectuais da área de Ciências Sociais, com mérito internacionalmente reconhecido.

Deixo aqui neste esconderijo, um especial abraço ao meu amável professor e orientador BSS (Boaventura de Sousa Santos), cujo trabalho representa uma forte influência na minha vida académica e pessoal. Mais uma vez, aquele agradecimento por tudo o que com ele tenho vindo a aprender e a (re)descobrir.

SUJEITOS ACTIVOS


No dia 16 de Novembro, pelas 18:30 mn, no Hotel Trópico (Praia, Cabo Verde), será apresentado o livro Género e Migrações Cabo-verdianas, organizado pelas investigadoras: Marzia Grassi (Economista do Desenvolvimento, Investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e autora de Rabidantes: Comércio Espontâneo Transnacional em Cabo Verde) e Iolanda Évora (Psicóloga Social e Investigadora do Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa).

Nesta colectânea, composta por textos de um conjunto de especialistas internacionais sobre as migrações contemporâneas, a diáspora cabo-verdiana é analisada numa “perspectiva de género”, frisando a trajectória migratória do povo das ilhas. Como realçam as organizadoras desta coletânea, a pertinência do “género” na compreensão da cultura cabo-verdiana prende-se grandemente com a posição que as mulheres assumem na estrutura familiar da nossa sociedade, que lhes atribuem a responsabilidade para o sustento e a reprodução do agregado, sendo que as mulheres migrantes levam consigo esta responsabilidade para as sociedades de acolhimento. Nos diversos estudos de caso incluidos nesta coletânea, as mulheres são vistas como sujeitos activos, que adoptam diferentes estratégias de integração na diáspora cabo-verdiana.

A apresentação estará a cargo do Doutor Gabriel Fernandes (especialista em Sociologia Política e autor de A diluição da África: Uma Interpretação da Saga Identitária Cabo-verdiana no Panorama Político (Pós)colonial e de Em Busca da Nação: Notas para uma Reinterpretação do Cabo Verde Crioulo).


Organização da Colectânea

Introdução
Marzia Grassi e Iolanda Évora

Capítulo 1
Cabo Verde pelo Mundo:
o género na diáspora cabo-verdiana
Marzia Grassi

Capítulo 2
«Minha gente, minha terra»:
as atribuições sociais do papel de emigrante
Iolanda Évora

Capítulo 3
Badiu na Galiza:
mar di homi, tera di mudjeres
Luzia Oca Gonzaléz

Capítulo 4
As mães e os seus filhos dentro da plasticidade parental:
reconsiderando o patriarcado na teoria e na práica
Isabel Fêo Rodrigues

Capítulo 5
Nem homens, nem mulheres, só contratados.
Apontamentos sobre relações de género entre cabo-verdianos
nas roças de São Tomé e Príncipe
Augusto Nascimento

Capítulo 6
Tão longe e tão perto.
Emigração feminina e organização familiar:
Boa Vista (Cabo Verde)
Andréia de Souza Lobo

Capítulo 7
Mulheres que ficam e mulheres que migram:
dinâmicas duma relação complexa na ilha
de Santo Antão (Cabo Verde)
Martina Giuffrè

Capítulo 8
O papel da independência, da emigração e da World Music
na ascenção ao estrelato das mulheres de Cabo Verde
JoAnne Hoffman

AZÁGUA


A sementeira era uma actividade presente na vida da população boka-portuense. Os mais-velhos e as mais-velhas acreditavam que havia de chover, dando milho em abundância para que o país não voltasse a padecer de fome. Sabiam como o país dependia do milho semeado. Por isso, aguardavam com ansiedade a vinda da chuva e alegravam-se quando ouviam notícias de terra molhada nos arredores da Serra de Malagueta.

Os mais-jovens e as mais-jovens (menos crentes!) não depositavam esperança na chuva, nem tinham memória dos tempos famintos vividos nas nossas ilhas. Pronto, havia o Dota com as suas estórias sobre a fome de ´47. O Dota contava que ele resistiu à fome por causa de três grãos de milho cozidos em cinza quente. As suas mãos até tremiam, quando ele relatava as suas memórias de (sobre)vivência.

BOKA-PORTU (registos quase-esquecidos)

(Coimbra, 7 de Novembro de 2007)

Hoje, acordei com uma sensação esquisita. Não sabia se eram os excessos de saudades, ou se eram apenas os efeitos das noites mal dormidas. Quando me levantei da caminha, sintonizei a RDP-África. O meu diário cor-de-rosa continuava aberto, na mesma página que deixei antes de adormecer. Estiquei o meu braço esquerdo e apanhei-o para (re)ler os registos sobre a minha infância-juventude na pequena aldeia onde nasci.

Apetecia-me reescrever algumas linhas sobre a Calheta da minha infância. Como devia recomeçar? Era uma vez... Assim, não me agradava! Pensando um pouco na forma como devia reescrever os registos do meu diário, acabei por decidir que o processo de reescrita seria mais elaborado se eu estivesse sentada na praça do Porto, com a cara virada para o mar. Comecei a rever as gentes, a sentir a brisa do mar, a dançar na areia... Lembrei-me de que...

Calheta ficou conhecida pelo seu Porto, registando as estórias dos barcos que passavam no alto mar e de alguns que se encalhavam na baía rasa. O mar fazia parte da vida das pessoas deste pequeno povoado. Até houve canções de homens aclamando para que a água do mar se transformasse em singuelu (desculpem o anacronismo!), com a intenção de se transformarem em peixes. Em vez de um copinho aqui e um copinho ali, os homens preferiam mergulhar no fundo do mar para verem sereias.

Ao registar estas linhas, lembrei-me da canção do Gil d’Jóia: “si agu-mar bira grogu, ma Gil d’Jóia ta bira pexi”. O nho Donda preferia as anedotas, os provérbios e os pensamentos marotos: “raxa, cosi; duspi, deta (!)”. Já o Biaricá não era para brincadeiras, atirava palavrões sempre que se atropelava na sua muleta. Ninguém esquece esse coxo que se conseguiu aguentar firme até aos 110 anos. Deve ter comido muita katchupa. Acho que sim!...

Na sua lancha e a remar, os pescadores iam ao mar. Sozinhos ou acompanhados, iam buscar peixes para o sustento da sua família. Muitas vezes, voltavam com a lancha vazia, mas não desistiam de ser pescadores. Consolavam as suas tristezas com um groguinho e partilhavam as suas angústias com os homens que desciam à boka-portu. Também não havia muitas alternativas. As alternativas mais palpáveis eram a agricultura e a pastorícia. Como chovia pouco, mesmo essas alternativas não eram bem vistas pelos pescadores. Un linguadu o un bidion animava qualquer pescador. Dava para fazer un caldu-pexi o da gostu na katchupa e a família confortava-se com o pouco que havia. Ás vezes, o facto de encontrar a isca para a próxima pesca era motivo para animar os pescadores. O Cabiote conhecia a vida-no-mar melhor do que ninguém. Ele sabia como era difícil voltar de mãos vazias, vendo a Nhambina a soprar o lume e não sabendo o que dizer para plantar um sorriso na cara da esposa...

Os pescadores conseguiam perceber o estado do tempo através do som das ondas. Então, quando pensavam que o tempo não ia ser bom, preferiam ficar em casa. Alguns iam ajudar a esposa na sementeira ou a resolver alguns problemas domésticos. Outros preferiam ir ao Porto para jogar conversa-fora.

No Porto morava a elite da época, voltada para o comércio. Então, os pescadores sentavam na praça à sombra das tamareiras, depois de beberem na loja do Sr. Olímpio ou do Sr. Vicente Luciano. No pelourinho, encontravam sempre algum bafiu. Falando no Porto, não podia deixar de referir ao sobrado do Sr. Velhinho. Este sobrado guardava muitos mistérios do Porto. Hoje, ninguém comenta, mas suponho que está assombrado! Nas minhas brincadeiras de infância, nunca tive a coragem de me esconder nos quartos escuros deste sobrado quase abandonado...

Quando havia temporal, seguido de chuva, se houvesse pescadores no alto mar, a população ficava preocupada. Não sei se sabem, mas na Calheta chuva era mesmo só no mar. Lembro-me do Cabiote a regressar do mar com a cara preocupada, anunciando que chovia no mar... Todos os anos, a população boka-portuense lamentava a falta de chuva: “boka-portu ka ta txobi”. Só de quando em vez, chovia para o desespero dos pescadores, que tinham de adiar a ida ao mar; também para a despesa das peixeiras, pois tinham que ir ao Tarafal ou à Santa Cruz comprar peixes para venderem. Os agricultores enchiam-se de esperança, embora se desiludissem com o tardar do regresso da chuva. Para as criancinhas, a vinda da chuva era uma maravilha: tomavam banho-de-chuva, aproveitando para jogar à apanhada e outros jogos. Quando o campo se cobria de verde, os miúdos/jovens pastores começavam a desfilar com o seu rebanho...

CLARA SPENCER


Clara Spencer acabou de regressar de Cabo Verde, após cinco meses de pesquisa empírica sobre o programa de luta contra a pobreza a nível comunitário (na ilha de São Nicolau). Esta temática tem ocupado o centro da atenção desta jovem investigadora cabo-verdiana, que se encontra a preparar a sua Dissertação de Mestrado em Sociologia, aqui na Universidade de Coimbra.

Hoje, fui lanchar na casa da Clarinha, que trouxe coisas da terra para adocicar a minha imaginação. Eu, a Clarinha, a Eloisa (de São Nicolau) e a Joana (de Santo Antão) passamos o final da tarde a jogar conversa fora sobre o nosso país. Com o cair da noite, fomos espreitar as fotografias que a Clarinha conseguiu sacar durante o seu trabalho etnográfico. Os gestos, o sorriso e a musicalidade, perceptível em cada fotografia, (re)desenhavam na minha face a terrível saudade e uma vontade enorme de regressar à casa.

Parece que os dias não passam. Tudo na minha frente mais não é do que uma neblina ardilosa. Esta cidade não é minha. Este lugar não me pertence. Conto os dias que me faltam para dormir na minha cama, mergulhar os meus pés na areia da minha ilha imaginada, ver o Porto da minha varanda, abraçar as minhas gentes, etc. São apenas as saudades, a eterna dor do povo das ilhas...

ESPUMA DOCE E SUCULENTA

O que dizer? Contra a poesia não há argumentos! Vou imprimir num papel perfumado para recordar o nosso primeiro olá, naquele final de tarde, numa estação quase perdida... No cambar da noite, os meus olhos (com sabor a melancolia) diziam coisas que só o poeta entendia.

Que mulher não gostaria de ser a ninfa da inspiração do poeta?... Noutros tempos, eu pedia às ondas do mar que trouxessem o poeta para o meu regaço e que este malandro/mentiroso/misterioso com tanta mestria-poesia me roubasse um beijo. O poeta mente. Eu sei! Porém, a mentira do poeta é espuma doce e suculenta!

...O nosso jantar ficou registado para mais tarde recordarmos. No livro de poemas (frutas), guardo carinhosamente as flores do artista, outro ser manhoso que teima em deslizar as suas mãos pela imaginação transportada numa tela. O sorriso da tia e a meiguice dos meninos continuam escondidos no meu peito...

AFINAL, QUEM ERA BADIA? (II)


...era aquela que nos seus olhos, espelhos,
me dizia coisas tatuadas no seu corpo,
moldado pelo tempo

nas suas tranças emaranhadas,
quão enredo viçoso,
tecia o dia e a noite

os seus pés desfolhavam,
sangrando para fertilizar a terra,
e no lodo redesenhavam novos caminhos

o batuque era a voz do seu silêncio,
entoado com o cair da chuva,
que iluminava a sua doce negrura
-----------[entre um passado longo e um presente tardio...

Eurídice

Imagem: Tony Barbosa

NÃO ERA BADIA (I)

Não tinha olhos arredondados
Nem cabelos crespos feito tranças
Nem tinha pés encrostados

A sua koxa não conhecia a sulada
Não sentia o som do batuque
E nem se enchia de alegria por ver a chuvada

Eurídice

A ILHA DA BATALHA


num cutelo raso
cercado pelo mar
provei o luar

cresci na Ilha da Batalha
batalhando ao sabor da maré
tão ingrata quanto a chuva

para trilhar caminhos incertos
apoderei-me da espada de Miguel
espetando firme na terra salgada

percorri mundos distantes
conheci gentes estranhas
escrevi poemas de saudades

Eurídice

SUJEITOS HISTÓRICOS


Tenho entre as minhas mãos um livro da historiadora portuguesa Maria Alice Samara (Operárias e burguesas: As Mulheres no Tempo da República), que evoca as mulheres enquanto sujeitos históricos. Neste livro, a autora apresenta a biografia de algumas mulheres que, no final do século XIX e princípios do século XX, iniciaram uma dura e longa batalha pela sua emancipação e igualdade a nível social, político e cultural no contexto português.

Entre as mulheres biografadas, importa realçar três delas: Domitila de Carvalho, a primeira mulher a entrar na porta férrea da Universidade de Coimbra; Maria-Rapaz, a mulher que se fez passar por homem para conseguir melhores condições de vida; Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal.


Exemplo

“Carolina Beatriz Ângelo (médica, lutadora sufragista e fundadora da Associação de Propaganda Feminista) foi a primeira mulher a votar em Portugal, embora vivesse num país em que o sufrágio universal só seria instituído passados mais de sessenta anos, ou seja, depois do 25 de Abril de 1974.

O voto depositado nas urnas para as eleições da Assembleia Constituinte, em 1911, pela médica Carolina Beatriz Ângelo, constitui um episódio deveras exemplar de luta pela cidadania e pela emancipação da situação das mulheres em Portugal, numa altura em que o direito de voto era reconhecido apenas a ‘cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família’.

Invocando a sua qualidade de chefe de família, uma vez que era viúva e mãe, Carolina Beatriz Ângelo conseguiu que um tribunal lhe reconhecesse o direito a votar (à revelia) com base no sentido do plural da expressão ‘cidadãos portugueses’ cujo masculino se refere, ao mesmo tempo, a homens e a mulheres.

Como consequência do seu acto, e para evitar que tal exemplo pudesse ser repetido, a lei foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam votar.

Carolina Beatriz Ângelo foi assim, também, a primeira mulher a votar no quadro dos doze países europeus que vieram a constituir a União Europeia (até ao alargamento, em 1996).” [http://www.mulheres-ps20.ipp.pt]

DORIS LESSING - NOBEL DA LITERATURA


A escritora Doris Lessing foi galardoada com o Nobel da Literatura, após um percurso que registou o seu nome na escrita do século XX. Aos 87 anos de idade, esta escritora (marcadamente feminista, embora não se reconheça como tal) é a décima primeira mulher a receber o Nobel da Literatura.

Mulheres Premiadas com o Nobel da Literatura
1909: Selma Lagerlöf, Suécia;
1926: Grazia Deledda, Itália;
1928: Sigrid Undset, Noruega;
1938: Pearl Buck, Estados Unidos da América;
1945: Gabriela Mistral, Chile;
1966: Nelly Sachs, nascida na Alemanha e radicada na Suécia;
1991: Nadime Gordimer, África do Sul;
1993: Toni Morrison, Estados Unidos da América;
1996: Wislawa Symborska, Polónia;
2004: Elfriede Jelinek, Áustria;
2007: Doris Lessing, Pérsia/Irão.

CHE GUEVARA

(14 de Junho de 1928 – 9 de Outubro de 1967)

"REINO MARAVILHOSO"


Na onda das comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga, O Teatrão tem em cena o espectáculo “TerraTorga”, até 17 de Novembro, no Museu dos Transportes (em Coimbra). Baseando na escrita de Miguel Torga, a encenação sensorial apela à descoberta de um “reino maravilhoso”, que o escritor identifica com Trás-os-Montes (a sua terra natal)...

SEXO SEGURO

O HIV/SIDA tem atingido brutalmente o continente africano. No contexto cabo-verdiano, os dados disponíveis mostram que a taxa de prevalência deste flagelo tem vindo a crescer significativamente. A principal via de transmissão tem sido a sexual, sendo imprescindível a sua prevenção (nomeadamente através do uso de preservativos).

Tod@s por uma saúde sexual responsável!...

…E AS MULHERES

Estava a pensar no amor, nessa palavra mágica que transforma tudo o que em nós habita... Dessa vez, peguei no poema Entre os Lagos da angolana Ana Paula Tavares. Realmente, essa poetisa fala de “coisas amargas como os frutos”.


Entre os Lagos

Esperei-te do nascer ao pôr do sol
e não vinhas, amado.
Mudaram de cor as tranças do meu cabelo
e não vinhas, amado.
Limpei a casa, o cercado
fui enchendo de milho o silo maior do terreiro
balancei ao vento a cabaça da manteiga
e não vinhas, amado.
Chamei os bois pelo nome
todos me responderam, amado.
Só tua voz se perdeu, amado,
para lá da curva do rio
depois da montanha sagrada
entre os lagos.

Ana Paula Tavares
(in Dizes-me Coisas
Amargas como os Frutos
)


Revendo o Namoro de Viriato da Cruz, vejo Entre os Lagos da Ana Paula Tavares como uma das possíveis “respostas” ao poeta angolano da geração anterior. Com elegância e sensualidade, essa poetisa traz a voz de uma mulher que, ansiosamente, sofre à espera do seu amado. A poesia da Ana Paula Tavares surge num contexto em que, até há pouco tempo, a voz feminina não era escutada, quer porque não possuía condições-de-pronunciação, quer porque era silenciada.

AMOR, PAIXÃO...

Normalmente, costumo ler um poema antes de dormir. Ontem, depois da minha navegação nocturna na blogesfera, senti uma tremenda vontade de reler o Namoro de Viriato da Cruz. Que poema lindo de morrer! Acredito que já não se fazem homens como antigamente.


Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista
-------------------------[nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seu seios, laranjas - laranjas do Loge
seus dentes... - marfim...
--------------Mandei-lhe essa carta
--------------e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
--------------E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
--------------E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
--------------E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" - Não viu... (ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí, Benjamim!"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Viriato da Cruz
(
in Antologia Temática de
Poesia Africana I
)


Não é lindo a imaginação poética de Viriato da Cruz?... Viriato, onde estás tu? Reencarna numa estrela e ilumina as noites poéticas cá na terra!

UM MERECIDO DESCANSO

(sábado e domingo, 29-30 de Setembro)

O dia acordou com vontade de chorar. As previsões indicavam sinais de chuva no interior de Portugal. Mesmo assim, depois de uma manhã de exercício auto-biográfico num seminário de Estudos Feministas, segui para Oliveira do Hospital com a Ana Paula, que me instigou a não registar no meu diário as suas qualidades ao volante. Por volta das 14h, estacionamos em Santa Ovaia, uma pequena aldeia portuguesa.

Quando cheguei, fui recebida com o afago de sempre. Entretanto, importa realçar que cheguei num momento sensível para a minha família oliveirinha: a avó queixava-se de uma das pernas; a filha preparava-se para o início da sua aventura universitária (tal como o irmão, ela sempre ambicionou estudar em Coimbra); o filho recém-licenciado parecia animado com o Peugeot 308, acabadinho de ser apresentado pelo concessionário Automóveis do Mondego; o pai aguardava o Benfica-Sporting, mas orientava as nossas conversas sobre o sistema judicial português; a mãe de lindas madeixas estava preocupada com as mudanças por que passava a família, mas aproveitava sempre para atestar o meu paladar. O jime, um novo membro da família, não me conhecia, mas tão cedo parou de latir.

Depois do almoço, da habitual ida ao café e de uma volta em Oliveira do Hospital, apanhamos a auto-estrada para Figueira da Foz. Portanto, fizemos marcha-atrás no percurso que eu tinha acabado de trilhar. Observamos o desfile dos gigantes eucaliptos, animados pelas entoações de Rui Veloso. Na praia de Buarcos, vimos o cair da chuva no mar, a fúria das ondas, os sinais de relâmpagos, as gaivotas na areia... Com insistência, alguém repetia um conhecido provérbio: “gaivotas em terra, tempestade no mar”. O cemitério frente ao mar foi o que mais me surpreendeu. Fui informada que a vila guarda a memória de trágicos naufrágios. Depois rodeamos para Figueira da Foz, onde não recusamos um delicioso gelado. Com o cair da noite, deslizamos para a Santa Ovaia.

Queria galgar a Serra da Estrela, mas o mau tempo que se fazia sentir atrapalhou os meus planos. Acabei por ficar pelos arredores da Santa Ovaia. Tive a oportunidade de avistar: a Vila de Avô; a Aldeia das Dez; a Vila Pouca da Beira. Fiquei muito emocionada com a Vila de Avô, banhada pelo rio Alva e depositária de um castelo medieval. Esta vila tem sido apresentada como a terra do poeta-guerreiro Brás Garcia Mascarenhas e onde viveu o médico-poeta Vasco de Campos... No domingo, voltei para Coimbra com a vontade de regressar à Varanda de Avô.

MONDEGO


(sexta-feira, 28 de Setembro...)

Fui ao Mondego, na companhia de um amigo francês. A noite estava perfeita, vislumbrando um céu limpo, no qual a lua solitária vagueava. O ar puro engendrado pelo Parque Verde do Mondego refrescava a minha imaginação, trazendo mantenhas das brisas húmidas nas noites de boka-portu. Confesso que as águas do rio abrandaram as minhas saudades do mar, mexendo nas lembranças engraçadas da minha infância, não muito distante…

BUGANVÍLIAS

Acordei a pensar nas Buganvílias, num jardim invadido pelas buganvílias. Abracei o poema da Vera Duarte sobre as “Buganvílias Lilazes”. Procurei O Sangue da Buganvília da Ana Paula Tavares, mas não encontrei. Pesquisei imagens no gogle e roubei uma para brindar os/as visitantes deste “blogville”.



Faz hoje dois meses de dissecações, de partilhas e de emoções neste esconderijo poético para uns e académico para outros... Pelos emails que tenho vindo a receber, o post sobre “Boka-Portu” e o pequeno poema “A Dor das Raízes” foram os que mais agradaram os/as cibermergulhadores/as. Agradeço a tod@s, por esses dois meses de imaginação poética, sociológica e filosófica...

SIRA BA

Na Casa Municipal da Cultura, aqui em Coimbra, ainda está a decorrer uma exposição de fotografias sobre Timor Leste, intitulada “Sira Ba” (por eles/elas ou eles/elas por). As fotografias parecem representar a ansiosa esperança do povo timorense. Foi essa a sensação com que fiquei depois de ter visto: a linda fotografia do pôr-do-sol, guarnecendo o deslizar das ondas na face da areia negra aureolada; a praia do Cristo Rei; a multidão de bandeira içada; a serenidade da vendedeira de banana, manga e outros frutos que mal conheço; a palidez dos militares australianos, (teimosamente) perpetuando num território que almeja a liberdade; o sorriso das crianças inocentes, esperando o futuro que tarda a chegar... E o que parece ser um simples acto de votar ilustra o desejo sublime da implantação de um sistema soberano sustentado pela vontade do povo...

MODELOS POR UM DIA...

Na sexta-feira, estive a vasculhar o meu ficheiro de fotografias e lembrei-me da campanha pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, em Portugal. Por várias razões, eu só podia abraçar o movimento “Cidadania-Responsabilidade”. Portanto, estive do lado do SIM.



A “não te prives”, uma associação coimbrã, convidou um grupo de jovens investigadoras/estudantes activistas pelos direitos das mulheres para participarem no cartaz de campanha, em Coimbra. Ponderando um pouco, acabei por aceitar. O mais engraçado (embora muito difícil!) foi posar para o fotógrafo. Ele só queria um retrato meu. Até que fiz boa figura. Mas os meus olhos tristes? O poeta disse que são olhos sonolentos. Na falta de alternativas animadoras, preferi acreditar na teoria do poeta.

FEMICÍDIO

Nesta terça-feira (18/09/2007), na Quinta da Portela, um jovem de 23 anos assassinou brutalmente aquela que era a sua namorada. A jovem degolada tinha apenas 20 anos de idade. Ambos frequentavam o curso de Engenharia Civil, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Como seria de esperar, a juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Coimbra aplicou a medida de coacção mais pesada ao jovem homicida: prisão preventiva.

Este acontecimento trágico, que tanto envergonha a comunidade universitária coimbrã, foi abordado com consternação na cerimónia de abertura oficial do novo ano lectivo, tanto pelo Reitor da Universidade de Coimbra (Doutor Seabra Santos), como pelo Presidente da Associação Académica de Coimbra (Paulo Fernandes). Em vez de remeter para o silêncio, este episódio tresloucado chama a atenção para a necessidade de questionar a “violência” aqui nesta universidade secular e cosmopolita (certos gestos ligados à praxe académica, a agressão frequente entre casais de namorados, etc.).

HIGIENE MENTAL

Estou muito ansiosa! Tem sido complicado aguentar os dias nesta cidade distante (distante da minha terra, distante da minha gente e distante de mim própria).

Ainda não fui de férias... Entretanto, tenho ainda que despachar mais algumas coisitas antes de usufruir de uns diazitos de férias. Não terei muito tempo!

Preciso descobrir um esconderijo e passar um fim-de-semana com o silêncio (sem livros, sem computador, sem telemóvel). Apenas preciso de breves momentos de contemplação, descanso total, desfrute das maravilhas que a natureza oferece sem malícia. Tendo em atenção a minha disponibilidade momentânea, pensei em três alternativas:

- (praia de Mira) deliciar-me-ia a mergulhar no fundo de uma piscina verdazul, intervalando com mergulhos em água salgada.

- (Oliveira do Hospital) aventurar-me-ia a subir a Serra da Estrela ao sabor do vento. E, lá no cimo da montanha, gritar “Obikueluuuuuuuuuu” (só para escutar a voz que vem de dentro).

- (Alentejo) observar o azul do céu estampado, sentir o calor do sol, contar estórias para as estrelas... Satisfazer-me-ia uma casinha abandonada na redondeza alentejana. Uma porta para entrar e outra para sair. Pois, “janelas para quê?”...

Em todas essas possibilidades reais, o que me acalma mesmo é a doçura do pôr-do-sol.

UMA SINGELA ENCOMENDA

(sexta-feira, dia 14 de Set, 19h42...)

Tive uma semana muito difícil... Entretanto, acabei de chegar ao meu esconderijo mágico e encontrei uma encomenda da Nancy T: Navega de Mayra Andrade, com um especial autógrafo. Gostei dos sonhos, do carinho e da mulher! Gostei demais...

Ouvi cada tema do álbum com ternura. No seu todo, o álbum revela a delicadeza, voluptuosidade, exuberância e serenidade da doce jovem cabo-verdiana. Dos temas (en)cantados, “lua” e “navega” prendem a minha concentração. Há algum tempo que ando de mãos dadas com o tema “lua”, especialmente nas noites em que transformo-me na Lua e vagueio no silêncio da madrugada. Por sua vez, o tema “navega” leva-me a (re)imaginar o meu porto, versejando a mulher-de-pescador à espera do barquinho...

...Promessa feita: quando a Lua apresentar ao seu cutelo, haverá “lua”...

RAGAZZA CON OMBRELLO


Gostei do postal, motivo que me levou a visitar o esconderijo ciber da Barbara Berardicurti... Mais um postal, desta vez de uma italiana, anima o meu espaço de ReivindicAção.

O MITO BERDIANO

Acordei com os dedos tremendo, com uma enorme vontade de registar alguma nota sobre esse dia, que reaviva o mito do povo berdiano. Desde pequena, eu ouvia dizer que esse povo resultou do caldeamento de raças e culturas. Como o mundo cabia nas minhas mãos, eu pensava que, a panela tripé da mamãi Dinora (cheia de tisna), tinha ajudado a misturar os europeus e as africanas...

Sempre encontrei justificação para as minhas idiotices de infância. Em relação ao surgimento do povo berdiano, concentrei a minha atenção na panela tripé entisnada. Eis que me ocorreu a ideia de que essa panela tripé entisnada podia simbolizar a mãe negra na rota da escravatura (América, Europa e África). Foi uma explicação que encontrei!...

No dia 12 de Setembro de 1924, nasceu aquele que viria a lutar para que a mãe negra tivesse voz, despertando do sono profundo causado pela opressão colonial. Amílcar Cabral!!! O herói do sonho berdiano. Cabral nasceu no solo guineense, sendo filho de pais cabo-verdianos. Essa ligação umbilical pode ser avançada como um dos argumentos justificativos da sua vontade de levar avante uma luta de libertação bi-nacional (Guiné e Cabo Verde).

Como reza a mitologia berdiana, Cabral fez os seus estudos primários e secundários em Cabo Verde. Em 1945, recebeu uma bolsa para frequentar os estabelecimentos de ensino superior em Portugal e matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa...

Em 1956, juntamente com outros colegas, Cabral fundou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). De 1956 a 1973, altura em que foi assassinado, Amílcar Cabral (pseudónimo de guerrilheiro: Abel Djassi) lutou pela libertação da Guiné e Cabo Verde...

O povo berdiano ainda canta: “Kabral ka morrê”. E espera o eterno amanhecer...

CARTAS DE CHAMADA

Neste domingo, pouco depois das 13h, na RDP-África, a investigadora Margarida Calafate Ribeiro começou a falar sobre a África no Feminino. Neste livro, a autora realça o papel das portugas na guerra colonial, numa tentativa de reanimar a memória cultural colectiva lusa a partir da perspectiva das mulheres que acompanharam os seus maridos nas três frentes de guerra (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau).

Muitas dessas mulheres foram arrastadas pelas “Cartas de Chamada”, acabando por juntar aos seus maridos numa missão imperial frustrada e frustrante (com sinais visíveis no pós-guerra, sendo de realçar as marcas sombrias que acompanham várias famílias portugas). Tem sido realçado alguns dados financeiros do desmoronamento trágico do sistema colonial e da lastimável ditadura salazarista, mas ainda não foram sistematizados os traumas do pós-guerra.

A África no Feminino aparenta-me como uma tentativa no sentido de ressaltar a participação das portugas em diferentes frentes, dimensões e modalidades. Portanto, as mulheres aparecem como sujeitos históricos da Guerra Colonial (1961-1974), quebrando assim o silêncio da maldita guerra silenciada (desculpem a redundância!). Por conseguinte, o livro abre as possibilidades realísticas para uma análise psico-sociológica dos confortos e desconfortos coloniais...

CONFISSÕES MUANGOLEADAS


(quarta-feira, 22 de Agosto, 11h10...)

No Jardim Zoológico, apanhei o metro para Marquês de Pombal. Como nunca tive tempo para descodificar o enigma rodoviário lisboeta, perguntei a um jovem como devia fazer para chegar ao Restelo. A mobilidade urbana nesta área metropolitana me parece ser um bicho-de-sete-cabeças, a tal ponto que o jovem (ainda desconhecido) aprontou-se a me acompanhar até a paragem do autocarro 727, acabando por embarcar comigo até Belém.

Foi preciso menos de meio minuto para criar um clima de amiguismo, visíveis nos nossos risos e gargalhadas descomplexados perante a luminosidade solar. Pouco depois, o jovem rapaz começou com as proverbiações rimáticas a volta dos nomes Cícero e Eurídice. Foi um desfilar de patetices greco-romanas. De qualquer maneira, a risada foi boa!

O sotaque do jovem rapaz (de nome Cícero) não me era estranho e punha a nu as suas origens. Eis que me atrevi a dizer:
- Tenho um grande amigo muangolé!
- Sou muangolé, mas sem os defeitos.
- Sem os defeitos?
- Sim. O bicho angolano pensa que é o dono do mundo. Em Angola, nós não temos essa coisa vossa (!): a cordialidade...

Fiquei a pensar no meu amigo Tavira, nas nossas conversas sobre o povo angolano e, em especial, sobre as mulheres angolanas. A diferença é que o Tavira enche a boca e afirma:
- Eu sou um angolano! “Raça negra”, como vem explícito no meu BI.

Depois de postar esta nota, um amigo meu me confirmou que ele e o irmão (filhos dos mesmos pais) foram considerados pelos responsáveis do registo notariado lá em Cabinda como pertencendo a duas raças diferentes (ele da “raça negra” e o irmão da “raça mista”). Sinceramente, não percebi qual o critério para a classificação dos/as angolanos/as segundo a raça!...

E NOS ESTUDOS...

Bolsas de Mérito 2007:
1) Bárbara Spencer (Ribeira Grande [19,42 valores]);
2) Kathia Garcia (Tarrafal [19,29 valores]);
3) Glenda Garcia (São Filipe [19,29 valores]);
4) Cintia Ramos (Praia [19,22 valores]);
5) Jaquelino Barbosa (São Miguel [19,00 valores]).

Observei com atenção o mapa com o resultado do concurso de Bolsa de Mérito para formação superior em Portugal, que ilustra as melhores classificações a nível nacional. Comecei por analisar a proporção de elementos do sexo feminino nesse mapa de classificação. Entre os cinco elementos contemplados, quatro são do sexo feminimo, conquistando 80% das bolsas concedidas. Para além dessa análise em função do sexo, percebi também que havia um elemento do concelho de São Miguel...

Aproveito para parabenizar @s contemplad@s e desejar-lhes bons resultados e momentos marcantes na nova fase que lhes espera.

GESTORAS DO LAR


No domingo, passei o dia todo na lida doméstica. Com o apartamento acabadinho de ser pintado de branco (da cor das nuvens), tive que ajoelhar-me para catar as pequenas gotas de tinta, que tinham percorrido além da fita adesiva. Depois disso, peguei na esfregona, fui deslizando pela sala, quartos e outros recantos.

Num momento de pura contemplação, fui escolhendo alguns livros para a minha mesa de cabaceira. Enquanto arrumava o meu espaço de imaginação poética e esperava pela magia da noite silenciosa, fui pensando na vida de incontáveis mulheres chamadas Donas de Casa.

Depois de passar o dia todo a virar de um lado para outro, a arrumar isso e aquilo, a pensar em tomates e batatas, cheguei à conclusão que é preciso fazer justiça ao trabalho realizado pelas Donas de Casa, a começar pela terminologia. Essas senhoras são as verdadeiras Gestoras do Lar!

Escusado seria dizer que as Gestoras do Lar têm como função a manutenção da ordem doméstica. Até podia deixar de suscitar polémicas se fosse reconhecido o valor económico do trabalho destas gestoras silenciadas e se estas deixassem de ser consideradas como inactivas. Por conseguinte, esse reconhecimento implicaria uma remuneração pelos serviços prestados ao agregado familiar, bem como a garantia de uma pensão quando a idade transmitisse sinais de pele cansada de tanto labutar. Já que estou neste misto de utopias, posso também acrescentar que deveria ser criando um sistema de protecção e segurança social para essas mulheres, que lhes permitisse um tratamento especial em casos de acidentes de trabalho (como as queimaduras na cozinha, as escorregadelas no chão acabado de limpar, etc.). Por enquanto, vou ignorar o caso da violência doméstica contra essas mulheres, ou seja, violência em local de trabalho (!). Vou deixar de lado também o caso das chefes de família, bem como o papel crucial das mães...

Fico por aqui! Não quero divagar agora sobre as demais problemáticas que atingem especificamente a família cabo-verdiana.

Imagem: Nela Barbosa

A DOR DAS RAÍZES


Sem querer
Cantas as tuas raízes
Escondidas entre as rochas

Maltratado pela angústia
Soluças o teu desconforto
Seco de tanto esperar

Protegido pelo muro da academia
Rodopias entre as luzes
Embutidas sobre prismas de escuridão

Mesmo xingando, gritando e fugindo
Para o teu próprio desespero
Palpitas esperança nas montanhas e nos vales

Eurídice

AFROBASKET

“Bravos crioulos”, “novos heróis”, “grandes guerreiros”... Várias expressões têm sido (re)inventadas para classificar a atitude dos jovens cabo-verdianos no Campeonato Africano de Basquetebol, que decorreu em Angola (entre 15 e 25 de Agosto).

Os nossos basquetebolistas deram um “show de bola” nesse campeonato, tendo conquistados o terceiro lugar. A aventura d’bronze tem sido aclamada no território nacional e na diáspora cabo-verdiana, sendo esta “o Pico de Antónia” na vida da selecção nacional no âmbito do Afrobasket.

Para além dessa honrosa classificação, dois atletas cabo-verdianos (Houtman e Rodrigo) foram incluídos na lista dos cinco melhores basquetebolistas africanos. Houtman foi ainda eleito o melhor lançador do Afrobasket2007. Para juntar ao Rodrigo, mais dois atletas cabo-verdianos (Houtman e Marito) foram escolhidos para trabalharem ao serviço de equipas angolanas.

Não podia ignorar a exibição da selecção angolana, que conquistou o nono título continental. Mas os meus olhares estão direccionados para o basquetebol cabo-verdiano, que avança a passos largos. Hoje, com a chegada da selecção ao país, haverá uma festança daquelas nunca dantes imaginadas.

Mesmo não tendo tido a disponibilidade para acompanhar os jogos, fui recebendo informações através de amigos/as e seguindo através de blogues e jornais online.

Aproveito também para deixar aqui os meus miminhos, abraços e beijinhos aos basquetebolistas cabo-verdianos, que deram o máximo para brotar mais um sorriso colectivo com assinatura da cordialidade cabo-verdiana.

BOKA-PORTU


Aprendi a nadar na baia do Porto. Quando era pequena, fingia que era sereia. Gostava de subir à pedra-preta, mostrando apenas a minha metade humana. Desejava ter cauda para mergulhar no fundo do mar. O mar fazia parte das minhas fantasias!

Enquanto brincava de sereia, o meu mano Lindo (Monga para os amigos da bola) tentava aprender a pescar. Em Bosta Minhoto, ele quase descobriu o segredo dos pescadores: uma vez, capturou um “manelon”; outra vez, conseguiu enforcar um polvo.

O ponto auge da sua distinta carreira de menino-pescador, foi no dia em que esmagou uma moreia. Os anos passaram e a baia do Porto foi se tornando pequena demais para tantos sonhos. Fugi para terras distantes, procurando uma universidade de que costumava ouvir nas conversas do meu avô. E o meu mano desistiu da arte de pescar, procurando o futuro entre a Sociologia e o Direito.
...............
(Todas essas lembranças vieram-me à mente depois de esbarrar no Hi5 do meu mano, que me brindou com uma linda fotografia da baia do Porto. Mau fotógrafo! Se esse fotógrafo tivesse virado pelo menos 2cm à direita, eu contemplaria a casa caiada de branco, onde cresci.)

“AS NOVAS CRUZADAS”

Ontem, a Néle Azevedo regressou da XIV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira, tendo como tema “As novas cruzadas”, pensado no sentido de desafiar os artistas a fazerem uma analogia entre as antigas cruzadas e as novíssimas guerras. Este bienal começou no dia 18 de Agosto, sendo previsto decorrer até o dia 29 de Setembro do corrente ano.

Impressionante, quase tudo me leva à São Miguel! Como sabem, 29 de Setembro é o dia de São Miguel Arcanjo, o padroeiro do meu concelho. Uma vez que São Miguel tem sido apresentado como o príncipe das milícias celeste, a data para o terminus da bienal parece que foi mesmo bem planeada.

A brasileira Néle Azevedo ficou conhecida pelo seu Projecto Monumento Mínimo, que já percorreu várias cidades e países. Esta artista adopta cada cidade como um cenário para a sua arrojada exposição, mostrando ao público diversificado as suas estatuetas de gelo. São figuras anónimas que se diluem na multidão em trânsito.

A(S) LÍNGUA(S)

Depois do jantar, o Julião começou com a treta sobre a língua portuguesa. O sotaque da Andreia e da Néle não disfarçavam a diferença “portuguística” no espaço da CPLP. O João conteve-se e não entrou na discussão, mas tinha o Julião como o seu legítimo representante da Guiné-Bissau. Mas eu não podia ficar calada!...

Lembrei-me logo do post no albatrozberdiano sobre a problemática da língua cabo-verdiana, melhor sobre o bilinguismo no meu país. Realmente, o debate sobre a(s) língua(s) merece ser aflorado e levado a sério pelos responsáveis directos no processo de afirmação da língua cabo-verdiana.

Nesta minha nota curta, quero realçar apenas duas questões que tentei introduzir na discussão com os/as meus/minhas amigos/as do Brasil e da Guiné-Bissau. Em primeiro lugar, a questão da geopolítica da língua. Pensando no quadro da “dita” CPLP, a questão do alfabeto unificado deixa-me com uma “pulga” atrás da orelha. Parece-me que torna-se necessário ter em atenção os jogos de poder(es) nesse espaço em que o português nos (des)une.

Em segundo lugar, o fenómeno da globalização. Comungo da ideia do Boaventura de Sousa Santos de que vivemos num mundo de globalização, como num mundo de localização. Por conseguinte, subscrevo integralmente a ideia do mesmo autor de que o global e o local são socialmente produzidos no interior dos processos de globalização e aquilo a que chamamos globalização é sempre a globalização bem sucedida de um determinado localismo. Portanto, se a globalização pressupõe a localização, então ao mesmo tempo que o uso do inglês se intensifica à escala global, faz todo sentido a afirmação da língua cabo-verdiana. Aceitar que é inútil o investimento na língua cabo-verdiana significa “sacrificar a diferença em nome de um princípio de assimilação”.

O teórico literário Walter Mignolo realça que, uma vez que as línguas não são algo que os seres humanos têm, mas algo que os seres humanos são, a colonialidade do poder e do saber veio gerar a colonialidade do ser. Com essa referência, quero frisar o direito e o dever que temos (refiro-me aos/às cabo-verdianos/as) de valorizar a língua cabo-verdiana, não só enquanto elemento cultural, mas também como veículo de produção de conhecimentos/saberes, mesmo que sejam (ou sobretudo porque são) os conhecimentos/saberes “catalogados” como tradicionais...

NEM AS LÁGRIMAS RESISTEM

Quando acordei, o sol do meio-dia já se fazia sentir. Sem sair do meu quarto, sintonizei a RDP-África e abri o meu computer. Para a minha alegria ou tristeza, um email de Rui Machado tinha invadido o meu esconderijo-ciber, trazendo uma encomenda enfeitiçada. Deliciei-me até a última gota da melodia. Não podia resistir às mornas, algo que nem as lágrimas resistem!

Pensando na diáspora da música cabo-verdiana, o projecto “Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos”, coordenado por Rui Machado, aclama Lisboa como a capital da saudade, ou a capital da (décima) primeira ilha de Cabo Verde. Numa pesquisa instantânea sobre esse projecto, tropecei-me no mar...

De tantas saudades da baia de Achada Portinho, da praia da Batalha, de Bosta Minhoto e de Baxu-Ponta, não resiste-me a mergulhar com o B.Leza num Bejo de Sodade (“Onda sagrada di Tejo / Dixa’m bêjabo bô aga / Dixa’m dabu um bêjo / Um bêjo di mágua / Um bêjo di sodade / Pá bô lêvá mar / Pá mar lêvá nha terra” [...]).

AS DUAS CAMAS

Eram quase 17:30mn, fui andando pela calçada até a Avenida Dias da Silva. Virando à esquerda, encostadinha na minha segunda casa (a minha faculdade de sempre), fui caminhado no silêncio da cidade. Em vez de seguir para a rua Luís de Camões, esquivei pela esquerda e, ainda sempre à esquerda, avistei a Casa-Museu Miguel Torga, que estava escondido no fundo da Praceta Fernando Pessoa (nº 3).

Entrei pela meia-porta e segui em frente até ao jardim. Fiz uma volta 180º e, pela porta lateral, vi uma distinta senhora de cabelos cor d’oiro. Entrei com a minha atenção redobrada e, desde o hall de entrada, fui sendo confrontada com objectos pessoais de Miguel Torga. Esta casa onde vivia o escritor, recheada com objectos rústicos (artisticamente lapidados) como se fossem feitos de pau-brasil, guarda o espírito da escrita. Até parece que fertilizou a minha imaginação!

Foram instantes de muita admiração pelos objectos pessoais e pelo acervo documental do escritor (bibliografia activa, bibliografia passiva, artigos de imprensa, poemas manuscritos e dactiloescritos).A surpresa maior (estranha mesmo!) foi quando entrei no quarto de casal, quer dizer no quarto onde o escritor dormia com a sua esposa. Para meu espanto haviam duas camas individuais, separadas por uma mesa-de-cabeceira. A distinta senhora de cabelos cor d’oiro disse-me sorrindo que ter duas camas individuas em quartos de casais podia ser normal na “época”... Fiquei a pensar, com tamanha estranheza: 1) Mas em pleno século XX num Portugal contemporâneo? 2) E o terrível frio de Coimbra quando se inverna? 2) Talvez, o escritor não gostava de cotoveladas!...

“PASÁRGADA”

(quarta-feira, 15 de Agosto, 13h...)

A Andreia chegou ontem, lacrimejando as saudades de “A Terra de Vera Cruz” e partilhando a sua ainda curta vivência em Coimbra.

Passamos a noite toda a jogar conversa fora no msn com a Ana e o José, paulistas convictos. Quase nos apetecia aceitar o convite de Manuel Bandeira (Vou me embora pra Pasárgada) ou lamentar as saudades como o Osvaldo Alcântara (Itenerário de Pasárgada)... Com toda a minha rebeldia, preferi abraçar o Ovídio Martins (Antievasão) e afirmar categoricamente “não vou para Pasárgada [!]”.

“FEITIÇO”

...Chuva em Agosto. Acordei por volta das 10:30mn, a Andreia ainda está dormida e a chuva continua a cair para ninar a cidade que corteja mais um feriado religioso.

Neste momento, estou a ouvir o André Sardet cantar Feitiço, desejando também “não ter asas e poder voar / ter o céu como fundo / ir ao fim do mundo e voltar”. Mas no fundo, ”eu gostava que olhasses para mim / e sentisses que sou o teu mar / mergulhasses sem medo / um olhar, um segredo / só para eu te abraçar”...

15 DE AGOSTO

Acho que o título diz tudo... Não vale a pena dizer mais nada! Vou dormir. Já são 2:40mn. Estou com sono! Mas não estaria com tanto sonho, se estivesse lá... Lá na minha vila. Calheta, Calheta!

Desde o dia 8 de Agosto, que estou na contagem decrescente, imaginando a festa de Nossa Senhora do Socorro.

Neste momento, estaria no grande baile. Amanhã acordaria tarde, sem vontade de lambuzar na doçaria, arrependendo no dia seguinte. Vou dormir mesmo! Chega de imaginações férteis...

EILEEN NO PANORAMA BAR

Stop!!!... Notícia de última hora: o lançamento de Eileenístico: Contos e Crónicas passa a ser no Panorama Bar, em pleno Hotel Praia Mar. Já estou mesmo a ver! Hummm…

Para além da música, haverá poesia e beleza, características da morabeza cabo-verdiana.

“EILEENÍSTICO”

No dia 2 d’Agosto, o Centro Cultural do Mindelo recebeu a jovem cabo-verdiana Eileen Almeida Barbosa para a apresentação do seu livro Eileenístico: Contos e Crónicas.

Por sua vez, hoje o Tabanka Mar enche-se de música para acolher o lançamento desse livro na cidade da Praia.

Ainda não vi o livro, mas suponho que o sorriso alegre da Eileen tenha invadido a sua própria escrita, flutuando ao som das ondas acalentadas…

MIGUEL TORGA

Amanhã, o Município de Coimbra celebra o Centenário do Nascimento de Miguel Torga. Este escritor nasceu a 12/08/1907, em Vila Real; viveu em Coimbra e aqui morreu a 17/01/1995.

Miguel Torga foi considerado uma das mais marcantes figuras da literatura portuguesa do século XX. A sua produção literária abarca géneros como a poesia, o romance, o conto, o ensaio, as conferências, o memorialismo e a diarística.

O escritor esteve ligado à Revista Presença, tendo fundado a Revista Sinal e a Revista Manifesto. Foi proposto, por três vezes (1960, 1978 e 1994) para a atribuição do Nobel da Literatura. Entre vários prémios atribuídos ao escritor, destaca-se o Prémio Camões (1990).

Quanto às actividades programadas para a comemoração do centenário de Miguel Torga, importa realçar principalmente a Inauguração do Monumento a Miguel Torga (Largo da Portagem) e a Inauguração da Casa-Museu Miguel Torga...

MADDIE

(sábado, 11 de Agosto, 20h10...)

100 dias depois do desaparecimento da menina inglesa!... Depois desses dias de esperança, a Polícia Judiciária admitiu publicamente, numa entrevista à BBC, que a pequena princesa Madeleine McCann pode estar morta. Essa constatação, com base em pistas que foram recentemente encontradas no decorrer das investigações, não descarta as outras pistas de investigação.

Um pouco por todo o mundo, tem vindo a ser lembrando tantas outras crianças desaparecidas. A mediatização do caso Maddie tem contribuído bastante para quebrar o silêncio... Ninguém devia consentir com tamanha crueldade (!), que tem vindo a ser um drama frequente nos últimos anos.

Com o apoio dos pais da Maddie (Gerry e Kate), o YouTube vai disponibilizar um canal sobre crianças desaparecidas, tendo como nome “Don’t You Forget About Me” (Não te Esqueças de Mim). Neste novo canal do YouTube, serão colocados fotografias e vídeos de crianças desaparecidas. Também as pessoas serão encorajadas a darem informações às autoridades...

AGOSTO EM COIMBRA

No meu percurso diário, descendo e subindo pela calçada, mal escuto o vento assobiar.

Durante o dia, a cidade de Coimbra parece mergulhada numa eterna tranquilidade. Os sinais de trânsito deixaram de ter tanta utilidade.

Com o cair da noite, esta cidade adormece num silêncio sem fim, denunciando sobretudo a solidão dos bares e dos cafés. Não sei se há fado no Diligência, nem se há jantar no Casarão!...

Soube que, desde 1 d’Agosto, na minha vila piscatória, tem havido música boa na praça do Porto (rádio praça). Que saudade! A rouquidão da minha voz denunciava sempre uma noite ao relento, bebendo incansavelmente da brisa do mar... “Ah! Kaoberdi! Largau dja so si... ...” (usando a força poética de Káká Barboza).

O CIBER, A IDENTIDADE E A ÉTICA

O espaço ciber tem vindo a ser utilizado para fins diversos, sendo considerado um dos espaços mais democráticos do nosso tempo.

Apesar da desigualdade mundial no acesso ao espaço ciber, tem vindo a crescer de forma aceleradíssima o número de navegares no espaço virtual nos diferentes cantos do mundo. O ciber está na moda!...

A Internet pode ser um espaço de divulgação das nossas ideias e dos nossos valores, sendo fundamental para a difusão dos ideias por que tod@s lutamos (justiça social, democracia, cultura da paz, multiculturalismo, cidadania, equidade, reconhecimento, redistribuição, dignidade humana, etc.).

Entretanto, sabemos que circulam no espaço ciber um conjunto de outros gestos e acções que comprometem seriamente a ética, a democracia e o exercício da cidadania. Para ser clara, muitas pessoas usam a Internet para fins pouco éticos!... Daí que, uma das questões que deixo aqui para um possível debate é a relação entre o ciber, a identidade e a ética.

 
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