BUGANVÍLIAS

Acordei a pensar nas Buganvílias, num jardim invadido pelas buganvílias. Abracei o poema da Vera Duarte sobre as “Buganvílias Lilazes”. Procurei O Sangue da Buganvília da Ana Paula Tavares, mas não encontrei. Pesquisei imagens no gogle e roubei uma para brindar os/as visitantes deste “blogville”.



Faz hoje dois meses de dissecações, de partilhas e de emoções neste esconderijo poético para uns e académico para outros... Pelos emails que tenho vindo a receber, o post sobre “Boka-Portu” e o pequeno poema “A Dor das Raízes” foram os que mais agradaram os/as cibermergulhadores/as. Agradeço a tod@s, por esses dois meses de imaginação poética, sociológica e filosófica...

SIRA BA

Na Casa Municipal da Cultura, aqui em Coimbra, ainda está a decorrer uma exposição de fotografias sobre Timor Leste, intitulada “Sira Ba” (por eles/elas ou eles/elas por). As fotografias parecem representar a ansiosa esperança do povo timorense. Foi essa a sensação com que fiquei depois de ter visto: a linda fotografia do pôr-do-sol, guarnecendo o deslizar das ondas na face da areia negra aureolada; a praia do Cristo Rei; a multidão de bandeira içada; a serenidade da vendedeira de banana, manga e outros frutos que mal conheço; a palidez dos militares australianos, (teimosamente) perpetuando num território que almeja a liberdade; o sorriso das crianças inocentes, esperando o futuro que tarda a chegar... E o que parece ser um simples acto de votar ilustra o desejo sublime da implantação de um sistema soberano sustentado pela vontade do povo...

MODELOS POR UM DIA...

Na sexta-feira, estive a vasculhar o meu ficheiro de fotografias e lembrei-me da campanha pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, em Portugal. Por várias razões, eu só podia abraçar o movimento “Cidadania-Responsabilidade”. Portanto, estive do lado do SIM.



A “não te prives”, uma associação coimbrã, convidou um grupo de jovens investigadoras/estudantes activistas pelos direitos das mulheres para participarem no cartaz de campanha, em Coimbra. Ponderando um pouco, acabei por aceitar. O mais engraçado (embora muito difícil!) foi posar para o fotógrafo. Ele só queria um retrato meu. Até que fiz boa figura. Mas os meus olhos tristes? O poeta disse que são olhos sonolentos. Na falta de alternativas animadoras, preferi acreditar na teoria do poeta.

FEMICÍDIO

Nesta terça-feira (18/09/2007), na Quinta da Portela, um jovem de 23 anos assassinou brutalmente aquela que era a sua namorada. A jovem degolada tinha apenas 20 anos de idade. Ambos frequentavam o curso de Engenharia Civil, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Como seria de esperar, a juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Coimbra aplicou a medida de coacção mais pesada ao jovem homicida: prisão preventiva.

Este acontecimento trágico, que tanto envergonha a comunidade universitária coimbrã, foi abordado com consternação na cerimónia de abertura oficial do novo ano lectivo, tanto pelo Reitor da Universidade de Coimbra (Doutor Seabra Santos), como pelo Presidente da Associação Académica de Coimbra (Paulo Fernandes). Em vez de remeter para o silêncio, este episódio tresloucado chama a atenção para a necessidade de questionar a “violência” aqui nesta universidade secular e cosmopolita (certos gestos ligados à praxe académica, a agressão frequente entre casais de namorados, etc.).

HIGIENE MENTAL

Estou muito ansiosa! Tem sido complicado aguentar os dias nesta cidade distante (distante da minha terra, distante da minha gente e distante de mim própria).

Ainda não fui de férias... Entretanto, tenho ainda que despachar mais algumas coisitas antes de usufruir de uns diazitos de férias. Não terei muito tempo!

Preciso descobrir um esconderijo e passar um fim-de-semana com o silêncio (sem livros, sem computador, sem telemóvel). Apenas preciso de breves momentos de contemplação, descanso total, desfrute das maravilhas que a natureza oferece sem malícia. Tendo em atenção a minha disponibilidade momentânea, pensei em três alternativas:

- (praia de Mira) deliciar-me-ia a mergulhar no fundo de uma piscina verdazul, intervalando com mergulhos em água salgada.

- (Oliveira do Hospital) aventurar-me-ia a subir a Serra da Estrela ao sabor do vento. E, lá no cimo da montanha, gritar “Obikueluuuuuuuuuu” (só para escutar a voz que vem de dentro).

- (Alentejo) observar o azul do céu estampado, sentir o calor do sol, contar estórias para as estrelas... Satisfazer-me-ia uma casinha abandonada na redondeza alentejana. Uma porta para entrar e outra para sair. Pois, “janelas para quê?”...

Em todas essas possibilidades reais, o que me acalma mesmo é a doçura do pôr-do-sol.

UMA SINGELA ENCOMENDA

(sexta-feira, dia 14 de Set, 19h42...)

Tive uma semana muito difícil... Entretanto, acabei de chegar ao meu esconderijo mágico e encontrei uma encomenda da Nancy T: Navega de Mayra Andrade, com um especial autógrafo. Gostei dos sonhos, do carinho e da mulher! Gostei demais...

Ouvi cada tema do álbum com ternura. No seu todo, o álbum revela a delicadeza, voluptuosidade, exuberância e serenidade da doce jovem cabo-verdiana. Dos temas (en)cantados, “lua” e “navega” prendem a minha concentração. Há algum tempo que ando de mãos dadas com o tema “lua”, especialmente nas noites em que transformo-me na Lua e vagueio no silêncio da madrugada. Por sua vez, o tema “navega” leva-me a (re)imaginar o meu porto, versejando a mulher-de-pescador à espera do barquinho...

...Promessa feita: quando a Lua apresentar ao seu cutelo, haverá “lua”...

RAGAZZA CON OMBRELLO


Gostei do postal, motivo que me levou a visitar o esconderijo ciber da Barbara Berardicurti... Mais um postal, desta vez de uma italiana, anima o meu espaço de ReivindicAção.

O MITO BERDIANO

Acordei com os dedos tremendo, com uma enorme vontade de registar alguma nota sobre esse dia, que reaviva o mito do povo berdiano. Desde pequena, eu ouvia dizer que esse povo resultou do caldeamento de raças e culturas. Como o mundo cabia nas minhas mãos, eu pensava que, a panela tripé da mamãi Dinora (cheia de tisna), tinha ajudado a misturar os europeus e as africanas...

Sempre encontrei justificação para as minhas idiotices de infância. Em relação ao surgimento do povo berdiano, concentrei a minha atenção na panela tripé entisnada. Eis que me ocorreu a ideia de que essa panela tripé entisnada podia simbolizar a mãe negra na rota da escravatura (América, Europa e África). Foi uma explicação que encontrei!...

No dia 12 de Setembro de 1924, nasceu aquele que viria a lutar para que a mãe negra tivesse voz, despertando do sono profundo causado pela opressão colonial. Amílcar Cabral!!! O herói do sonho berdiano. Cabral nasceu no solo guineense, sendo filho de pais cabo-verdianos. Essa ligação umbilical pode ser avançada como um dos argumentos justificativos da sua vontade de levar avante uma luta de libertação bi-nacional (Guiné e Cabo Verde).

Como reza a mitologia berdiana, Cabral fez os seus estudos primários e secundários em Cabo Verde. Em 1945, recebeu uma bolsa para frequentar os estabelecimentos de ensino superior em Portugal e matriculou-se no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa...

Em 1956, juntamente com outros colegas, Cabral fundou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). De 1956 a 1973, altura em que foi assassinado, Amílcar Cabral (pseudónimo de guerrilheiro: Abel Djassi) lutou pela libertação da Guiné e Cabo Verde...

O povo berdiano ainda canta: “Kabral ka morrê”. E espera o eterno amanhecer...

CARTAS DE CHAMADA

Neste domingo, pouco depois das 13h, na RDP-África, a investigadora Margarida Calafate Ribeiro começou a falar sobre a África no Feminino. Neste livro, a autora realça o papel das portugas na guerra colonial, numa tentativa de reanimar a memória cultural colectiva lusa a partir da perspectiva das mulheres que acompanharam os seus maridos nas três frentes de guerra (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau).

Muitas dessas mulheres foram arrastadas pelas “Cartas de Chamada”, acabando por juntar aos seus maridos numa missão imperial frustrada e frustrante (com sinais visíveis no pós-guerra, sendo de realçar as marcas sombrias que acompanham várias famílias portugas). Tem sido realçado alguns dados financeiros do desmoronamento trágico do sistema colonial e da lastimável ditadura salazarista, mas ainda não foram sistematizados os traumas do pós-guerra.

A África no Feminino aparenta-me como uma tentativa no sentido de ressaltar a participação das portugas em diferentes frentes, dimensões e modalidades. Portanto, as mulheres aparecem como sujeitos históricos da Guerra Colonial (1961-1974), quebrando assim o silêncio da maldita guerra silenciada (desculpem a redundância!). Por conseguinte, o livro abre as possibilidades realísticas para uma análise psico-sociológica dos confortos e desconfortos coloniais...

CONFISSÕES MUANGOLEADAS


(quarta-feira, 22 de Agosto, 11h10...)

No Jardim Zoológico, apanhei o metro para Marquês de Pombal. Como nunca tive tempo para descodificar o enigma rodoviário lisboeta, perguntei a um jovem como devia fazer para chegar ao Restelo. A mobilidade urbana nesta área metropolitana me parece ser um bicho-de-sete-cabeças, a tal ponto que o jovem (ainda desconhecido) aprontou-se a me acompanhar até a paragem do autocarro 727, acabando por embarcar comigo até Belém.

Foi preciso menos de meio minuto para criar um clima de amiguismo, visíveis nos nossos risos e gargalhadas descomplexados perante a luminosidade solar. Pouco depois, o jovem rapaz começou com as proverbiações rimáticas a volta dos nomes Cícero e Eurídice. Foi um desfilar de patetices greco-romanas. De qualquer maneira, a risada foi boa!

O sotaque do jovem rapaz (de nome Cícero) não me era estranho e punha a nu as suas origens. Eis que me atrevi a dizer:
- Tenho um grande amigo muangolé!
- Sou muangolé, mas sem os defeitos.
- Sem os defeitos?
- Sim. O bicho angolano pensa que é o dono do mundo. Em Angola, nós não temos essa coisa vossa (!): a cordialidade...

Fiquei a pensar no meu amigo Tavira, nas nossas conversas sobre o povo angolano e, em especial, sobre as mulheres angolanas. A diferença é que o Tavira enche a boca e afirma:
- Eu sou um angolano! “Raça negra”, como vem explícito no meu BI.

Depois de postar esta nota, um amigo meu me confirmou que ele e o irmão (filhos dos mesmos pais) foram considerados pelos responsáveis do registo notariado lá em Cabinda como pertencendo a duas raças diferentes (ele da “raça negra” e o irmão da “raça mista”). Sinceramente, não percebi qual o critério para a classificação dos/as angolanos/as segundo a raça!...

E NOS ESTUDOS...

Bolsas de Mérito 2007:
1) Bárbara Spencer (Ribeira Grande [19,42 valores]);
2) Kathia Garcia (Tarrafal [19,29 valores]);
3) Glenda Garcia (São Filipe [19,29 valores]);
4) Cintia Ramos (Praia [19,22 valores]);
5) Jaquelino Barbosa (São Miguel [19,00 valores]).

Observei com atenção o mapa com o resultado do concurso de Bolsa de Mérito para formação superior em Portugal, que ilustra as melhores classificações a nível nacional. Comecei por analisar a proporção de elementos do sexo feminino nesse mapa de classificação. Entre os cinco elementos contemplados, quatro são do sexo feminimo, conquistando 80% das bolsas concedidas. Para além dessa análise em função do sexo, percebi também que havia um elemento do concelho de São Miguel...

Aproveito para parabenizar @s contemplad@s e desejar-lhes bons resultados e momentos marcantes na nova fase que lhes espera.

GESTORAS DO LAR


No domingo, passei o dia todo na lida doméstica. Com o apartamento acabadinho de ser pintado de branco (da cor das nuvens), tive que ajoelhar-me para catar as pequenas gotas de tinta, que tinham percorrido além da fita adesiva. Depois disso, peguei na esfregona, fui deslizando pela sala, quartos e outros recantos.

Num momento de pura contemplação, fui escolhendo alguns livros para a minha mesa de cabaceira. Enquanto arrumava o meu espaço de imaginação poética e esperava pela magia da noite silenciosa, fui pensando na vida de incontáveis mulheres chamadas Donas de Casa.

Depois de passar o dia todo a virar de um lado para outro, a arrumar isso e aquilo, a pensar em tomates e batatas, cheguei à conclusão que é preciso fazer justiça ao trabalho realizado pelas Donas de Casa, a começar pela terminologia. Essas senhoras são as verdadeiras Gestoras do Lar!

Escusado seria dizer que as Gestoras do Lar têm como função a manutenção da ordem doméstica. Até podia deixar de suscitar polémicas se fosse reconhecido o valor económico do trabalho destas gestoras silenciadas e se estas deixassem de ser consideradas como inactivas. Por conseguinte, esse reconhecimento implicaria uma remuneração pelos serviços prestados ao agregado familiar, bem como a garantia de uma pensão quando a idade transmitisse sinais de pele cansada de tanto labutar. Já que estou neste misto de utopias, posso também acrescentar que deveria ser criando um sistema de protecção e segurança social para essas mulheres, que lhes permitisse um tratamento especial em casos de acidentes de trabalho (como as queimaduras na cozinha, as escorregadelas no chão acabado de limpar, etc.). Por enquanto, vou ignorar o caso da violência doméstica contra essas mulheres, ou seja, violência em local de trabalho (!). Vou deixar de lado também o caso das chefes de família, bem como o papel crucial das mães...

Fico por aqui! Não quero divagar agora sobre as demais problemáticas que atingem especificamente a família cabo-verdiana.

Imagem: Nela Barbosa

 
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