I.5. festança

Assembleia da Aldeia decretou que o ambiente deve ser preservado para o conforto das nossas gentes e para as futuras gerações... Aprovamos a construção de três complexos hoteleiros de padrão internacional para o povoamento do Monte Txota, do Monte Serrado e da vizinhança do Cemitério de Ponta Verde, com o imprescindível lema de turismo ecológico, tendo a natureza como a protagonista em qualquer actividade (um dia desses, vou acompanhar um grupinho numa caminhada pelo concelho, subindo e descendo os montes, e, no final, nada melhor do que ver peixinhos no fundo do mar!).

Depois do regresso da paz, a Assembleia da Aldeia decidiu fazer uma festança. Convidámos os concelhos vizinhos. De Cidade Velha, chegaram vasilhas de grogue; de Assomada, sacos de milho; de São Domingos, batatas e cenouras para o guisado; de Picos, feijão verde; de Pedra Badejo, atum fresco; do Tarrafal, mariscos; dos Órgãos, frutas de três variedades; da Praia, uma carrada de rusgadores. Antes das visitas chegarem, a casa já estava arrumada, y Máxima d’Guida trazi bodeku, na korda. Foladu bodeku, matadu porku y piskadoris trazi txitxaru fresku pa grelhada. Foi uma grande festa, com artistas locais e nacionais. Inclusive, elementos do grupo‑kanekinha reapareceram (fiquei um pouco triste, porque, após dois singuelada, Nelu desatinou e, numa música desaforada, rematou com esta: “nhós bá garbata mar!” Nelu, nunca mais diga isso!). Apesar desse pequeno chateanço, fartei‑me de dançar o batuque na melodia da Nasia Gomi e da Mimita Pereira. Nunca tinha dançado tanto... E nunca ninguém tinha assistido a uma festa dessa, nem nas aldeias vizinhas.

Pe. Arlindo, Pe. Angelino e Pe. Teodoro chegaram para benzer a obra, louvando um povo que cedo aprendeu a dançar ao som das ondas, e a contar estórias às estrelas.

I.4. bodeku


Então, no passado mês de Maio, houve tanta confusão por causa de um bodeku desaparecido... Mas isso não interessa agora!... Retomando o sonho, Djon‑Da‑Kruz Kamundongu começou a fazer geminações aqui e acolá. É só geminações!... Disseram-me que cunharam-lhe de Kamundongu por causa do seu paladar afinado. Como bafiu, tartarugas e pombas, não! Ele toca noutra banda! Disseram-me que ele prefere lagartixas fritas e gafanhotos grelhados. E até dizem que é por isso mesmo que Djon‑Da‑Kruz Kamundongu tem um físico atlético, invejado pela malta da oposição local. Bom, indo directamente ao sonho, Djon‑Da‑Kruz Kamundongu conseguiu um montão de computadores e materiais didácticos para as escolas e centros juvenis do concelho; quase meia dúzia de autocarros, sendo três especificamente para deslocar a malta universitária; ambulâncias para levar os casos de emergência directamente ao Hospital Regional de Santiago Norte.

Os rapazes da oposição local invejaram a obra do Djon‑Da‑Kruz Kamundongu. Numa das suas visitas ao concelho, Ti‑toru Bazofu e Octávion Kankan avançaram com inaugurações. Ti‑toru Bazofu abriu as portas de um Centro de Emprego, em Veneza. Na qualidade de membro do gang d’Zema, Ti‑toru Bazofu aproveitou para fazer o seu discurso ao povo: “aqui não queremos malandrecos e malandrecas a dormirem a sesta nas sombras das nossas acácias floridas. Se quiserem emprego, temos um centro cheio de ideias e recursos. Tragam os vossos sonhos que nós transformamos em projectos! Hoje és um pescadorzinho ou uma peixeirinha, mas amanhã podes ser um empresário ou uma empresária. És um imigrante cheio da grana, venha até nós que te ajudamos a fazer aplicação certa. Nu bai gentis, nu bai, tudu pa micro‑empreendedorismuuuuu! Nos e bazofu propi!!! Não é poesia, nem filosofia... É puro troco no bolso! Acabou a era do kaldu pexi sen pexi. Gosi kada boka‑portuese ten direitu a sê laska‑pexi. Y quiçá bodeku també! Nu bai gentis, nu bai...

Bom, Nhu-Kankan també ka fika pa traz. E meti si mô na bolsu na stilu capatas di MDR, e larga di sel: “educason pa tudu gentis! Tudu mundu pa scola! Tudu pa formason! Educason y formason pa tudu gentis! E mi propi ki flá!!! E verdadi nha povuuu... Dja nu manda fazi scola y jandim pa tudu greta, di cutelo dixi rubela. Djan papia ku Zema (ki gosi sta pueta!) pe manda tudu mundu pa scola, tudu mundu. Nu bai, nu bai guentis.”

Lá len di baxu-l, Nhu-Flipinhu ben ta katriça ku kuitosu baxu-l braçu (uma encomenda para a equipa do Zema, com um bilhetinho de agradecimento pelo empréstimo, e a boa-nova de que agora na nossa aldeia já não precisamos deste produto). Nhu-Flipinhu contra ku Nhu‑Beku Salú lá Passadera. “Odjú na bodeku!” - disse Nhu‑Flipinhu. “Mos, calma mos!.... Mi e más basofu ki bó, N ten odju d’gatu!...”- ripostou Nhu‑Beku Salú, na posi badjador di sakis. Trocaram mais duas ou três baboseiras, e, não sei por que razão, surgiu uma grande confusão à volta. Ninguém entendia ninguém. Pedrada por aqui e acolá. Até que um velho sábio apareceu para acalmar a confusão, acrescentando que somos de uma pequena aldeia, e somos primos e primas, independentemente da cor ou ausência desta na nossa camisola. E que qualquer ofensa ou soco no focinho de alguém seria uma afronta aos nossos antepassados. Então voltou‑se a paz.

Num botequim qualquer, na berma da estrada principal, Miguelu e Manuelon mintiravam acerca do que a equipa amarela ou a equipa verde pretendiam fazer não sei quando. Menino‑p‑D, o puto mais politizado da aldeia, passou e interrogou os políticos singuelados. Perguntou o que é que os dois deputados do círculo da Europa pretendiam fazer agorinha para o concelho, também não esqueceu de mandar mantenhas ao Zema por ter metido dois naturais da terra na sua equipa, e ainda concluiu favoravelmente acerca da pedalada do presidente da equipa verde. Bom, Menino‑p‑D confirmou que só depois desse djunta-môn é que ele se apercebeu de facto que São Miguel tem excelentes quadros lá na capital e noutras paragens. Os deputados nem entenderam a preocupação do miúdo, nem interessava-lhes. O importante é que naquela noite havia uma festança de confraternização na residência presidencial. Claro, iam comparecer para o habitual enchimento da pança...

1.3. Praça das Estórias

«Numa noite de Verão, à varanda da nossa casa frente ao mar e hoje frente à Praça, contemplava a minha aldeia mergulhada numa escuridão tremenda e eu, sonhadora e romântica, antevia Calheta num prisma diferente: uma Vila iluminada e com vida nocturna capaz de desafiar a própria Vila do Tarrafal. De mansinho, o mar beijava a praia na areia luminosa, como que debaixo do cântico da magia das sereias.»

Dionísia Velhinho


Utopicamente tinha pensado que em cinco dias ia conseguir dar conta do sucedido, mas, pelo andar da caminhada, apercebi-me de que vou precisar de mais diazitos para relatar este sonho. Bom, foi assim...

Nu kebra kel matacan de penedu kés botá dentu-l di nos Portu, reconstruímos a nossa Praça das Estórias, uma praça rasa para recordar a antiga praça do Porto. No lugar onde havia o Pelourinho, montámos dois pequenos Quiosques Turísticos simbolizando a ressurreição do monumento, bestialmente assassinado em meados da década de noventa do século XX.

Um camião de areia limpa e fresca encheu a baía negra de brilho. A Cooperação Japonesa desembarcou um barco de pesca todo branquinho na nossa baía. Salvador d’Kalina foi o primeiro a avistar o barco e logo recordou daquele tempo em que ele mesmo descobriu um Yate nas nossas águas e trouxe para repousar na nossa baía até que o dono veio buscar. Também recordou os bons anos em que a Landa repousava na baía, após uma boa pescada, trazendo peixes para o kaldu pexi da aldeia. Nunca dantes o nosso kaldu pexi teve tanto sabor de peixe! Então, por deliberação da Assembleia da Aldeia, o nosso barquito foi baptizado de Nossa Landa. Três lanchas de riscas passaram a descansar atrás da casa de Nhu‑Nuna e Nha‑Diminga para colorirem o Porto. Depois da ida ao mar, aparecem sempre pescadores enfadados que remendam as suas redes.

Falando nas praias da vila, a praia da Batalha recebeu como oferta um lindo projecto esboçado por jovens ambientalistas (brevemente, gostaria de partilhar convosco uma imagem da rejuvenescida praia da Batalha). Ainda esses jovens ambientalistas apresentaram o Plano B para a preservação das tartarugas que aninham nas nossas areias macias. Para além de que agora nenhum micaelense come carne das tartarugas ambulantes, conseguimos arranjar alternativas para a mulherada e criançada que extraia arreia nas nossas praias. Areia Branca voltou a encher­-se de grãozinhos dourados; Cadjetona é agora a menina de todos os festivais.

No antigo pedra-pexi edificámos o Monumento do Pescador, com a figura do mais antigo pescador da aldeia, observando o estado do mar. Cabiote foi um pescador impar de toda a aldeia, aparecendo no monumento ku dos pé di kalça ramangadu, mô na kexada ta kuda ngratidon di txuba y maré kasabi. Ao lado do monumento, o escultor praiense concordou que gravássemos um poema do nosso poeta, especialmente poetizado para não esquecer o sofrimento do povo de boka‑portu. Para completar, a família boka-portuense passou a receber periodicamente as dez páginas da Revista de Boka-Portu. E a jornalista Aidé Carvalho criou um site na Internet, onde alojou o Jornal da Aldeia.

A casa do falecido Tio-Pedro passou a ser o Posto do Pescador, onde encontra-se tudo o que um pescador ou um turista armado em pescador precisa para a pesca. A antiga mercearia da parteira Maria Miranda, passou a ser a Loja dos Remédios, contendo um conjunto variado de chás e óleos tradicionais para o parto, o reumatismo e até para uma simples gripe febril. Também a antiga Farmácia do Porto e o antigo Posto de Saúde da Calheta ressurgiram nos lugares de outrora.

Zita continuou na sua casa, agora pintadinha de cores do mar. Os seus bordados e rendas tradicionais passaram a render tostanitos. Maria Djuzé reabriu as portas do seu cinema caseiro, oferecendo filmes de acção às sextas e telenovelas brasileiras nas noites de manso luar. Na Praça das Estórias, a criançada da vila passou a ouvir estórias dos avós aos sábados e, de quando em vez, aparece lá o Nhu‑Puxim para desabrochar as gargalhadas mais bonitas do mundo.

Na antiga loja do Sr. Olímpio e Nha-Liminha, Djá abriu uma Lojinha de Retalhos. Na antiga loja da família Vicente Luciano, surgiu a Cozinha de Boka-Portu, um pequeno restaurante onde só servimos pratos típicos: katxupa rafogadu ku longuiça y ovu streladu; peixe fresco grelhadinho; salada de variedade nenhuma; peixes e mariscos de diversidades incontáveis. A açukrinha tornou-se o docinho para todos os miminhos. Até há donas que querem abrir uma Açukrinheira!

A casa da família Vicente Luciano foi transformada na municipal Pousada das Sereias. O velhinho sobrado da família Velhinho Rodrigues passou a ser o Museu da Poesia, recebendo visitas nacionais e internacionais e grandes doações de obras para cultivar a cultura. Em vez de petróleo, na Loja do Pompílu, Cida passou a comerciar materiais de iluminação, com destaque para as lâmpadas económicas. Brincando um pouco para passar a mensagem, Cida fixou à frente da loja uma caixinha para a venda de preservativos (1 por apenas 5$. Ubááa!!! Há mais: no Posto de Saúde da Calheta é gratuito e confidencial!).

Polivalente Grande foi remodelado, podendo receber torneios de futebol, andebol, voleibol, basquetebol e atletismo. Polivalente Pequeno foi doado à Associação de Estudantes de São Miguel, onde a malta estudantil pode viajar pelo espaço ciber na total gratuitidade, e usufruir das boas leituras. Antes que me esqueça, eu e a kota Zabel abrimos a tão esperada Livraria Monteiro, no segundo piso da casa-cor‑de‑rosa, agora na sua feição moderna‑tradicional, tendo lá dentro um espaço para materiais escolares, um cantinho encantado para a criançada e um pequeno esconderijo de poesia ao sabor de um chá quentinho.


joviando

No final do dia, passamos a assistir futebolanda na areia do Porto, antes do desejado mergulho na baía da nossa infância. Aos sábados, temos sempre o sagrado futebol feminino, arbitrado por jovens de tão sábios conhecimentos futebolísticos.


ruas recém-nomeadas

Com a fundação de Rua da Holanda, a tonelada de boka-portuenses residentes naquele país europeu decidiu fazer uma vaquinha e procurar financiamentos extra‑especiais para calcetar a dita rua, bem como trazer contentores novos para arquivar os lixos vidoeiros, papeleiros e plastiqueiros.

Foi uma chicosidade que a malta residente em França, desatinou e criou a Rua de Paris. Pouco tempo depois, nasceu a Rua de Lisboa. Entre estas ruas recém‑nomeadas, pode-se comer às quartas-feiras comida portuguesa, às quintas-feiras comida holandesa e às sextas-feiras comida francesa. Tudo na perfeita perfeição, com música ao vivo, que só um freguês ou uma freguesa avisado/a lembra-se de que afinal está na pacata vila da Calheta.

Para mata-bichar a população de boka-portu, Manuelon inaugurou a padaria Pão de Mar-ino, onde bolaxona e pão de sal saem directamente do forno para a manteiga. Zú não resistiu e meteu lenha no Forno da Titosa, alternativando com pão doce e bolinhos de areia.


batucando

Festival Funaná e Batuque voltou à sua aldeia, agora festivada em Cadjetona, iluminada por favas de luz. Sim, agora tudu mundu na areia ta sakuta nos tradison...

1.2. de alto à baixo


Se

Se cada gesto saísse solto
Se casa desejo tivesse corpo
De uma rocha de sol
Se cada lágrima cavasse a alma
E túnel fosse onde coubesse
Se com a força dos meus dedos
Rasgasse o vento (…)

Tacalhe


São Miguel Arcanjo, nosso intercessor lá no céu, batalhou contra os malvados espíritos que bolçaram sangue na nossa terra. Para fazer a justiça, durante três dias, não parou de chover, mansamente. Chovia na terra e no mar; chovia dentro de nós. Num piscar de olhos, um manto verde estendeu‑se pelo concelho, desde o cimo dos montes até às ribeiras. Verdejava ternamente. E as nascentes brotavam água como no antigamente, rastejando pelas ribeiras. Em Flamengos, Ribeira Principal, Ribeireta e Ribeira de São Miguel, as águas cristalinas relembravam os velhos tempos. Manguinho de Seti Rubera voltou a combinar o azul do mar com o verde da paisagem...

Um conjunto de equipamentos e infra-estruturas multiplicaram-se no concelho. Logo na primeira semana, a atenção foi canalizada no básico: rede de abastecimento de água, rede de esgoto, recolha e evacuação do lixo e iluminação pública. Nessa semana, dedicada ao ambiente, homens e mulheres entraram nos bairros da vila armados com martelos, picaretas, machados, pás de lixo e vassouras. E dois bulldozers circulavam-se pela vila, arrastando as inutilidades para uma lixeira. Recolhemos toda a lixarada de ruas e kobons para a reciclagem, enchendo a vila de árvores parideiras de frescas sombras. E as mulheres de mãos floridas, ofereceram cores nas suas varandas cheias de trepadeiras e girassóis.

Engenheiros, quase todos de Pilão Cão, queriam arrumar a vila. Do sol, do mar e do vento, colheram quantidade certa de energia; instalaram wireless nas principais praças da vila; montaram uma Rádio Comunitária para contar os feitos das gentes do concelho. A rádio tem sido um sucesso: cantigas da criançada, hip-hop da malta jovem, estórias da velharada, filosofias da malta sabichona e promessas de políticos...

Através da Cooperação Austríaca, a municipal câmara obteve verbas para resgatar os monumentos do concelho e as casas estóricas da vila que estavam a cair em pedaços, mantendo as feições do antigamente. As desabitadas casas do Porto foram adquiridas pelo município, tendo sido restauradas com a finalidade de preservarem a memória de boka‑portu.

Uma gorducha verba chegou à Espinho Branco, entrando na comunidadi d’rabeladus, contribuindo para a construção de bons funkus d'padja e proporcionando melhores condições de vida para aquela comunidade, «símbolo de resistência», que tem vindo a receber visitantes nacionais e internacionais com interesse em conhecer a sua ciência da vida, os seus hábitos e costumes. Inclusive, têm vindo a feirar as suas obras de artes tradicionais. Também um espacial donativo cambou pela Ribeira Principal para a produção do Singuelu, tanto para o consumo local e nacional, como para a sua exportação às comunidades de emigrantes do concelho.

Em Txatxa, Gongon, Cutelo Gomes e Mato Correia, as criancinhas encheram‑se de alegria com os novos jardins‑de‑infância e praças de diversão, pulando pelas ribeiras e kutelus de contentamento. Em Achada Monte, Pilão Cão, Ponta Verde, Veneza e Calheta, o desenvolvimento urbano e sime-urbano começou a flutuar aos olhos vistos.

Em meia dúzia de segundos, tudo voltou ao normal, numa versão moderna‑tradicional em harmonia com o passado, mas de olhos postos lá no futuro. Nunca tinha visto tão admirável sistema djunta-môn! Não consigo explicar tudo o que conseguimos ajeitar, mas nas próximas tecladas vou tentar resumir o que aconteceu no centrinho da vila.

I.1. tintim por tintim

Contaram‑me tudo, tintim por tintim. Então, disseram‑me que foi no final da tarde, quando toda gente preparava‑se para jantar no sossego das suas casas. Uma chuva das grossas começava a cair, relampeando na terra como nunca dantes. Tombavam sangue dos antepassados que habitavam a aldeia. As bocas berravam tal acontecido facto. A aldeia fervilhava num redemoinho de vozes destoantes. E as humanas almas estremeciam de tamanha injustiça cometida aos antepassados.

Antes do sol raiar, numa reunião na Escola Nova, um grupo de homens e mulheres da aldeia, por unânime unanimidade, concordaram que alguma coisa devida era necessário fazer para apaziguar os espíritos que deambulavam pela aldeia em impetuosa agonia. Os putos urgentaram-se em espalhar a decisão tomada. Surgiram duas ou três vozes que protestaram‑se, mas logo enxergaram‑se que era preciso deixar a moleza e recuperar a paz da aldeia. Pouco depois, nas repartições públicas e nas residências particulares, choviam telefonemas para as Américas, as Europas e as Áfricas.

Numa exacta semana, os filhos e as filhas do concelho – que se escondiam em diversos cantos do país e do mundo – chegaram com os conhecimentos adquiridos e as fortunas acumuladas. A partir desse dia, tudo mudou. O que vou contar foram os meus olhos que testemunharam. O sonho parecia realidade, encostada numa almofada de algodão tão macia.

I. Imaginar São Miguel --- 25 a 29 de Setembro


«O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.»

Fala de Tuahir (Terra Sonâmbula, Mia Couto).


Em cinco dias, vou deixar aqui pedaços de contestação sobre o estado do concelho de São Miguel. Trata‑se de um sonho para fazer andar a estrada... Este sonho será contado em cinco tecladas: I.1. tintim por tintim; I.2. de alto à baixo; I.3. Praça das Estórias; I.4. bodeku; I.5. festança.

Basta!!!

Na minha aldeia, ensinaram-me a receber bem as visitas, com a necessária morabeza e a oferecer pelo menos um copo de água fresca. Também ensinaram‑me que, na casa das outras pessoas, não devemos nunca esquecer as regras da boa educação, entrando e saindo sem provocar sarilhos em espaços alheios. Não recordo qual procedimento é mais indicado para lidar com as visitas quando começam a ser incómodas. Longe de nós da aldeia mandar alguém para fora da nossa humilde casa! Enquanto penso nisso, vou aquecendo os músculos...

Como sou eu a dona deste blog, vou manter a opção «anónimo». Não me interessa quem é o «anónimo I» ou o «anónimo II», nem descodificar a lista de nomes que começaram a chover neste blog, nos últimos dois meses. Se alguém tiver alguma coisa para dizer ao fulano ou beltrano, faça isso longe daqui! Se alguém tiver alguma coisa para me dizer (se não gosta do meu novo corte, do preto azulado dos meus cabelos, do par de ténis que comprei, do livro que ando a ler, etc.), pode usar o meu email, que vou aplicar aquela máxima metodológica: «sigilo e anonimato»! Quem quiser participar nos debates, apresente ideias e seja firme, mas sem confusão! O que não vou admitir mais é que incomodam a tranquilidade das pessoas que por aqui passam para um curto mergulho ou horas na praia! Ouviram?

boas vindas à caloirada

cidade, universidade e diversidade

Coimbra é «uma espécie de estufa» preparada para a universidade e para a malta estudantil. É desta forma que muitas pessoas definem a cidade de Coimbra. Por albergar a mais antiga universidade lusa, Coimbra é distinguida pelas suas tradições académicas seculares...

A malta estudantil é recebida de braços abertos nesta cidade, que sem o brio juvenil mais não é do que uma alma penada. E o ambiente coimbrão marca a vida de cada estudante que por aqui passa.

A universidade oferece condições óptimas para a revelação de grandes estudantes (com ricas bibliotecas, vastíssimos depósitos de obras milenares, reputados laboratórios e centros de investigação, catedrátic@s professor@s, etc.), mas debaixo de um clima de tensão por causa da tradição, mantida através da repressão. Aqui existe uma estrutura hierárquica que verticaliza as relações institucionais e pessoais. As faculdades estão todas escalonadas. Da mesma forma, o corpo docente é todo ele definido pela porção de poder atribuído a cada elemento que o constitui. Entre a malta académica, meu deus! A caloirada é a ralé da população estudantil. Desde humilhação pública à repressão severa, a caloirada experimenta de tudo um pouco. A obediência é a palavra de ordem. Há estudantes que decidem contestar a praxe académica ou recusar participar neste tipo de socialização feita de repressões-e-emoções. Apesar dos desmandos da malta veterana, que tresloucadamente se auto‑proclama como portadora dos saberes da academia e das experiências na cidade e não se coíbe de exercer o seu poder paternal perante a caloirada, a tradição académica coimbrã é linda, muito linda!

Nestes dias, a cidade está a festejar a chegada da caloirada. Nas tendas fincadas no pátio da minha faculdade, passando ao longe, vi uma carrada a seguir os desmandos da camada veterana. Ontem, ouvia‑se sussurros e ordens para isso ou aquilo. E, eu, enxutada já no caixote de antig@s estudantes da casa, invejava as tontices da caloirada, desejando voltar a ter todo tempo do mundo para redescobrir Coimbra. Ai como o tempo voa! Ainda ontem cheguei e hoje kota me consideram... Por isso, caloirada, aproveitem essa fase boa que a vida vos oferece! Estudem, divirtam‑se e sejam muito felizes! Quanto à malta dos palops, não se guetizem, misturem­‑se nas festinhas e preparem‑se para conhecer outros povos que habitam esta maravilhosa cidade. Sei que é difícil passar os dias aqui, mas, como o tempo tem asas, nem vão sentir o passar dos segundos. E depois fica sempre a eterna saudade de Coimbra, da malta e dos amores...

«Anónimos»


Cavalheiros, se quiserem dar coices, procurem o curral mais próximo! Se quiserem resolver problemazinhos antigos que ainda vos assombram, esperem para quando se cruzarem! Enfrentem-se! Dois ou três socos (risosss…) não faz mal... Não quero com isso incitar a violência, pois basta o que os thugs estão a fazer lá na nossa capital. Mas também estar aqui a ouvir as vossas fúrias... Upss… ai como eu sofro!!!

………

Estou a gostar dessa experiência na blogosfera. Porém, manter um blog dá muito mais trabalho do que inicialmente pensava. Para além de preparar os posts, dialogar com blogistas da vizinhança, receber as visitas e reagir aos comentários, ainda querem que eu compre uma lanterna para vigiar os anónimos.

Bom, nunca preocupei‑me com o anonimato, nem quero ter essa preocupação. Interessa‑me o diálogo, desde que seja com base na partilha de ideias, no respeito pelas diferenças e, claro, com uma necessária dose de seriedade e honestidade. Acho que a liberdade de recorrer ao anonimato deve ser respeitada. É por isso que, como sempre tratei e fui tratada com ternura e confiança, nunca preocupei‑me com o anonimato.

Acontece que, no post sobre a antologia Destino de Bai, cheguei a ficar furiosa. No início, estava com uma ponta de curiosidade em relação à identidade dos anónimos, porque estava a gostar do debate, das diferentes perspectivas e preferências, bem como das sugestões. Recebi piropos que não me desagradaram de todo.

Foi divertido o bate papo! Entretanto, fiquei furiosíssima ao perceber que um dos anónimos, estava a deixar pistas demasiado óbvias, podia ser uma certa pessoa. Também houve um comentário assinado por um que disse que é português, contando coisas sobre a literatura cabo‑verdiana que só um(a) estudioso(a) ou um cabo‑verdiano(a) próximo(a) do meio literário cabo-verdiano podia saber. Acho eu! Nada disso apoquentou-me, até que... apareceu um anónimo apelidado de «Marcos», que, no comentário seguinte, assinou o mesmo nome sem o “s”. Caramba, uma pessoa de nome «Marco» dificilmente pluraliza o seu nome. Disso sei eu! O meu melhor amigo de todos os tempos chama‑se MARCO (Marquito para a malta) e sei como ele fica chateado quando é chamado no plural. Marco é um nome singular! Ok, anónimo Marco-s!? A pluralização do nome do meu melhor amigo é imperdoável!...

Houve mais nomes usados para vestir o anonimato. E, desde aquele post, tem chovido nomes estranhos no meu blog... Parece que o meu blog está a ganhar simpatias extra-especiais ou há quem quer manter a sua presença aqui e sente receio de assumir a sua identidade. Se respondo aos comentários, alguns com um ligeiro atraso, é porque acho que merecem consideração. Agora, apelo à seriedade e honestidade no acto de comentar! Sabiam que tenho medo de lobo-mau? Então não manchem o meu diário!...

Houve momentos em que pensei em partir a loiça. Desabafei com um amigo coimbrã que tentava seguir o debate. Ele aconselhou‑me a não ir por essa via, porque o tal anónimo até que foi simpático. Talvez não quis se expor na blogosfera. Isso não é mal nenhum. O que é pouco correcto é fingir não ser e atirar flechas aos meus poetas. Bom, o JLT apresentou uma longa resposta, bem serena.

Adoro os meus poetas!!! Sim, adoro os meus poetas! Porque é que vou fingir que não exercem influência em mim, se adoro terminar o dia lendo coisas que escrevem... E basta dizer que só temos medíocre, porque os meus poetas cabo‑verdianos são tão maravilhosos, quantos os meus poetas ingleses, portugueses, brasileiros, etc. Agora, podem me dizer o teu poeta x não se compara com o poeta y ou estás a deixar ser levada pela subjectividade, pelas emoções e pela proximidade. Pois digo‑vos, cavalheiros, sou feita de emoções, filha de um grande amor (papai e mamãi amavam‑se muito... e desejam um mundo de sonhos e emoções para a filhota, como qualquer outro pai e outra mãe). E não quero ver a vida sem uma certa dose de emoção.

Voltando à questão dos anónimos, houve muitos deslizes e pouca ética (pelo menos por parte de um dos anónimos e ele percebeu a minha frieza nos últimos comentários que fiz naquele post) que nem valiam a pena. Gosto de receber visitas e ficaria alegre se houvesse seriedade e honestidade. Este blog é uma praia de águas «limpas e tépidas». Portanto, agradecia a tod@s que não poluíssem esta minha(nossa) praia. Há jovens e idosos que também gostam deste blog (passam por aqui, mesmo sem deixar rastos). E é para eles que dedico as páginas soltas que constituem este meu diário de ternura.

Pátria


Julinhu d’Morera

Não me lembro em que classe andava. Julinhu d’Morera, colega de turma do meu mano Lindo, era demasiado distraído. O pai ralhava‑lhe sempre por causa da desatenção indevida que dedicava à leitura e aos estudos.

Bom, naquele ano, num exame da primária, após ter lido um texto sobre a “Pátria”, onde suponho que uma mãe vagamente explicava ao filho o significado da Pátria, a sua querida professora Clarisse perguntou:
- menino Júlio, o que é a Pátria?
- hummm... (murmurou durante segundos).
- Júlio...
- Prusora, prof... A Pátria é a minha Mãe!

Foi assim que respondeu o Júlio, com a insegurança contida na resposta que lhe valeu a reprovação naquele triste ano lectivo para a família do velho sapateiro Morera.

Quando o meu mano Lindo regressou da escola, com um sorriso de menino aprovado, contou-me a estória da Pátria do Julinhu. Fartei-me de rir, mesmo sem enxergar o sentido improvisado que o Julinhu atribuíra à sua pátria.

Estátua Imaginada

.
Sentado
desenhas a espuma
que dos ossos dos sonhos se erige
e progride rente à noite do martírio

De pé
frondoso entre as frondosas árvores
estilhaças o crânio
das antigas odes e das suas rememorações
para o teu povo celebrar
e os seus heróis
erectos no alfabeto de um novo tempo

Debruçado
sobre a lonjura
dos séculos de dor e esperança
tal sombra em busca de corpo
escrutas o azul
que do silêncio em mar se transfigura

Expectante
as penedias entre os regaços
e as secas ribeiras sobre o dorso
do mar constróis
um novo verde mar
que se petrifica entre os dedos
inundados de sol e suor

Caminhante
floresces um hino infante dos séculos
que em pátria se plasmam
na sua demanda do verde
ainda apenas pressentido
e
a espuma
é então
o rosto mais recente
a face mais dançarina
da memória e da esperança
nuas e límpidas
na pátria dos nossos avôs


Praia, 13 de Fevereiro de 1992
Lisboa, 1 de Abril de 2004
(Versão refundida do poema “Hino”,
publicado na revista Fragmentos, 9/10.
O autor dedica este poema
à memória de Amílcar Cabral
e em homenagem ao primeiro
hino nacional de Cabo Verde.)


José Luís Hopffer Almada

«Tribunal de Opinião»: Perfil Político de Amílcar Cabral

Amílcar Cabral, líder e teórico da luta pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde, ficou registado na história do século XX, com a sua contribuição contra o colonialismo português. A sua obra tem sido estudada pelo mundo fora. E é hoje uma referência no âmbito dos Estudos Culturais e dos Estudos Pós‑coloniais.

Feitas essas considerações, abro esta página para uma pequena discussão sobre Amílcar Cabral. Posso ser a «fada madrinha» de Cabral, e proponho o Anónimo I como «advogado do diabo». Cabe ao «advogado do diabo» uma postura crítica, procurando contestar as ideias de Amílcar Cabral e gerar pensamento crítico.

As pessoas que quiserem participar neste debate podem: 1) entrar no Grupo A, sentando na bancada do PRÓS; 2) entrar no Grupo B, sentando na bancada do CONTRA.

Ainda proponho o Jairzinho Pereira (natural de Cabo Verde, crítico em relação à «cabo‑verdianidade») como “comentador anti‑nacional”, e o Fabrice Schurmans (natural da Bélgica, crítico em relação à suposta «hegemonia ocidental») como “comentador contra‑hegemónico”.

Um, dois e três… o jogo vai começar!...

Amílcar Cabral

Diogo e Cabral

Diogo Gomi mora la di riba
Na lado de cá Presidente
Mora na mei de 3 Continente
Cabral
Li di baxo ta gritado biba
Diogo sta rostu pa Parlamento
Amílcar de cara pa cemitério
Nha guenti más ki mistério
Ê sodade ô ê esquecimento?

Mário Lúcio


Quando vi o retrato da “coincidência” postada em Djaroz, parei para pensar na estátua de Amílcar Cabral, fuliadu na kobon, algures em Taiti, bairro “descartável” da capital cabo‑verdiana...

Como refere o Sociólogo e Historiador António Leão Correia e Silva, Várzea devia ser sublimada por causa do seu papel no decurso da história do nosso país. Por isso, acho que não é de todo mau manter a estátua do fundador da nação cabo-verdiana num espaço que outrora fora palco de acontecimentos marcantes na (sobre)vivência das nossas gentes. A própria proclamação da independência nacional decorreu na Várzea, onde também foi construído o Palácio do Governo. No meu olhar contra a destruição da memória, o problema da estátua prende-se com o facto de ter sido jogado num mato bravio. Quem ousa visitar a estátua naquele espaço? Nem nacionais, nem estrangeiros. Bom, nem tudo parece perdido! Como Amílcar era Engenheiro Agrónomo, aquele mato bravio podia dar lugar a uma linda praça, com flores e plantas das ilhas. Transformá-lo num espaço verde digno de um verdadeiro herói e amante da terra já bastava para sossegar a alma das nossas gentes!...

Violência Urbana


«os nossos valores»


Num artigo de opinião, publicado no asemana online, Dulcineia faz um apelo para a mudança de atitudes, tendo em atenção a violência e a onda de assaltos na nossa Praia. Diz a cronista que “é angustiante viver numa sociedade onde pouco podemos fazer, porque vivemos amedrontados.” Ainda realça a sua angústia perante a fraqueza dos nossos valores para fazer frente a situações de violência na nossa pequena capital.

Para quem convive diariamente com a insegurança flutuante dos últimos anos na Praia, para quem se encontra na diáspora, ou mesmo para um/a turista, custa acreditar como a violência urbana penetrou fortemente a capital cabo‑verdiana. É lamentável como as autoridades pouco conseguem fazer para apaziguar o clima de insegurança instalado! Mas não é por esse caminho que a Dulcineia nos conduz. Ela questiona os nossos valores. Apela-nos. Coloca-nos entre as paredes.

Escutando a angústia do meu colega e amigo KaKa, acabadinho de regressar da capital, tirei minutos do meu tempo para reflectir sobre o artigo da Dulcineia. Sinceramente, não consegui pegar num livro sobre a violência urbana tão falada noutras cidades (Rio de Janeiro, Bissau, Lisboa, etc.). Mas a nossa Praia é tão pequenininha e nós somos primos e primas! Bom, fiquei sentada na minha poltrona a imaginar os segmentos da população cabo-verdiana com poder económico para esconder em condóminos fechados nas novas urbanizações, desinteressando completamente com o que se passa para além dos muros da sua segurança familiar; na quantidade de escudos/euros/dólares gastos em carros blindados; na nova moda de empregar «os homens da costa» como cães‑de‑guarda das vivendas no Palmarejo, bairro de estimação dos thugs... Mas a nossa Praia é tão pequenininha e nós transbordamos a morabeza e a elegância na nossa forma estar!...

Também “imagino o desespero de uma mãe, que às 6h da manhã acorda com a notícia que o filho está no hospital, porque foi espancado numa festa. Uma festa privada, num ambiente selecto.” Oh, Dulcineia, isso corta o coração de qualquer mãe! Porém, acho que enquanto a violência atingir os filhos das outras mães, enquanto não bater na porta da nossa mansão, continuaremos a dormir os nossos soninhos!...


E lá em casa?

A minha avó Dinora ficava acordada a noite toda, quando eu e o meu mano íamos para uma festa de aniversário no poial de cima. Quando havia música na praça do Porto, ela argumentava que era bem melhor ficarmos em casa, escutando a partir da nossa varanda. Nós, juventude rebelde, desaparecíamos feito foguetões e regressávamos nunca na hora prometida, encontrando a velhota com o coração nas mãos. Só depois de escutar os nossos passos pelos corredores da casa é que ela conseguia dormir sossegada. Graças à Nossa Senhora do Perpetuo Socorro e ao São Miguel Arcanjo, a velhota nunca teve razões para se preocupar com o nosso comportamento fora de casa!

Nos anos em que estudei na Praia e em Assomada e o meu mano no Tarrafal e em Assomada, a minha avó morria de saudades, rezando para que nada de mal nos acontecesse. Quando chegávamos para os fins-de-semana ou as férias na aldeia, escutávamos os seus ensinamentos acerca do respeito ao próximo e da não‑violência. No dia 10 de Novembro do ano 2000, ao pegar na minha velha mochila de couro para seguir viagem, a avó virou para mim e disse: “filha, respeita o próximo!” Este foi o último conselho que ouvi da boca da mulher que transmitiu os valores que norteiam a minha vida. Porém, durante a minha adolescência, achava chatíssimos os moralismos e aborrecidos os valores que, na altura, considerava retrógrados, mas a vida mostrou-me que afinal a velhota tinha razão ao fincar o pé na nossa educação, ao limitar as nossas saídas, ao exigir que chegássemos na hora combinada e ao nos mostrar o bolso vazio.

Servíamos o jantar às 19h e todos os membros da família tinham que estar em casa. Para mim, 19h era a pior hora do relógio. Tinha que interromper qualquer conversa na esquina, ou um jogo feminino no Polivalente Grande, porque temia o olhar severo do avô Yoto. Cresci atrevidinha, pensando que ia me libertar do temível 19h. Muito pelo contrário! Hoje, quando vou à capital, durante o dia tenho de me manter sempre atenta e, após as 19h, nem ouso sair de casa sozinha, nem chegar na companhia da minha própria pessoa. Não posso dar ao luxo de andar pela noite na minha capital, nem ir ao mar por aquela rotunda onde tudo pode acontecer. Pior mesmo é pensar em pegar um táxi. Nunca se sabe aonde os taxistas vão parar. Claro, há sempre o exagero na prevenção de um possível kaçu‑bodi, mas... Urgentemente, preciso de me libertar do medo de segurar no volante. Alguém me oferece um starlet!

Angola

Ondjaki

Hoje, dia das segundas eleições angolenses após a abertura política, para além de ter acordado com um sms do Tavira, recebi um email da Paredes com a lista de finalistas do Prémio Portugal Telecom de Literatura 2008. Mais uma vez, o escritor angolense Ondjaki encontra-se entre os dez nomes escolhidos para a grande final no dia 29 de Outubro. Bom, vou aproveitar a data do anúncio dos resultados para postar uma pequena nota aqui neste esconderijo sobre a escrita do Ondjaki. Por agora me apetece parabenizar o jovem escritor e as estórias de Luanda contidas em “Os da minha rua”! Um abraço bem forte ao velho abacateiro...


5 de Setembro: Bom Dia Angola!

Ainda deixo aqui um pacote de beijinhos para os meus amigos e amigas de Angola que se encontram na diáspora e tristes por não poderem votar (Patrícia, Tavira, Ricardo, Yaze, Afonso e Marquinha) e para aqueles que sentem o pulsar mais forte deste dia (Beto e Samuel). Votos de melhores dias para a vida política angolense!!!

 
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