Global Voices

Acordei com uma dor de cabeça terrível. Ao entrar no meu blog, verifiquei uma grande surpresa: o post que escrevi por ocasião do dia das mulheres cabo-verdianas teve ecos que desconheço a proporção. Partilho convosco esta alegria de ver uma citação sobre as mulheres cabo-verdianas no Global Voices.


Cape Verde: Woman's day

The point is that we try to understand the current situation and demand that, regardless of gender, people are treated with respect and have the necessary means to live with dignity.” - Língua Inglesa (trata-se de uma língua europeia, que tem vindo a ganhar terreno a nível mundial).

O que importa é tentarmos compreender a situação actual e exigir que, independentemente do sexo, as pessoas sejam tratadas com respeito e tenham as condições necessárias para viverem com dignidade.” - Língua Portuguesa (trata-se de uma língua europeia, exportada para as antigas colónias africanas, nomeadamente para Cabo Verde).

Ny zava-dehibe ankehitriny dia ny fiezahanay mamantatra izay toe-java misy sy ny fitatakianay, tsy misy fanavakavahana izay filahiany na fivaviany, ny hanajana ny zon'ny tsirairay sy ny mba hananany izay ilainy mba hiainany amin-kaja.” - Malagasy ou Malgaxe (trata-se de uma língua africana, do povo de Madagáscar).


Também chegou ao Japão (31/03/2008)

。「重要なのは、私たちが現状を理解しようとすることと、ジェンダーに関係なく、人びとが尊敬をもって扱われ、尊厳をもって生きるのに必要な手段を持つことだ。」- Língua Japonesa (trata-se de uma língua asiática, do povo de Japão).


……................................

(07/03/2008)

Aproveito para reagradecer a tod@s que contribuíram para espalhar essas breves linhas banais: Mpandika Tomavana, Hanako Tokita e Paula Góes. Não sei quem são, mas acho interessante a forma como vasculham a blogosfera!

Paula Góes, a dor de cabeça já passou…

P.S.: pela primeira vez, através de um simples post, senti vontade de abraçar os quatro continentes (África-América-Ásia-Europa). Então, aqui vai:

Um forte abraço

Mulheres Cabo-Verdianas

Sema Lopi

bu pari matcho, bu pari cordon
bu pari femia, bu pari labada
bu pari matcho, bu ba sirbi rei
bo qui pari femia, bu ba sirbi mundo


(música popular)


Hoje, Dia das Mulheres Cabo-Verdianas, na minha visita matinal pelo mundo da informação, tropecei-me numa nota acerca de uma sondagem aos/às leitor@s do asemana-online, onde os resultados apontam alguma reserva quanto à real emancipação das mulheres cabo-verdianas, sendo que apenas 22% considera que, no meu país, existe uma igualdade entre os sexos.

Aqui, já escrevi dois posts específicos sobre a situação das mulheres cabo-verdianas: Violências contra as Mulheres e Direitos Humanos das Mulheres. Acima de tudo, a minha preocupação é com a dignidade humana das mulheres (e também dos homens). Porém, sabemos que existem ainda inúmeras barreiras que entravam uma verdadeira emancipação das mulheres das ilhas. Não vele a pena atirarmos a culpa para as próprias mulheres ou para os homens. O que importa é tentarmos compreender a situação actual e exigir que, independentemente do sexo, as pessoas sejam tratadas com respeito e tenham as condições necessárias para viverem com dignidade.

Claro, fico furiosa quando vejo que a minha geração continua ainda a praticar actos que tão pouco merecem ser referidos aqui, na medida em que ilustram a grande resistência quanto à igualdade entre os homens e as mulheres. Infelizmente, temos ainda que insistir na luta para a promoção e protecção das mulheres. Claro, fico triste quando as mulheres são vistas como meras vítimas, frágeis e coitadinhas. É preciso uma outra postura em relação a essa problemática.

Não me venham dizer que as mulheres tendem a ser machistas sem mais! É preciso questionar. Sem dúvida que muitas mulheres continuam ainda a assumir essa posição, porque acreditam que para se triunfarem precisam pautar as suas acções de acordo com um ideal, sendo que este ideal assemelha muito a posicionamentos masculinos... Para o bem-estar da nossa nação secular, temos que lutar por uma cultura que respeita a igualdade na diferença e não humilhar/maltratar as mulheres do nosso país!...

Neste mês de Março, sem ignorar as demais instituições, aproveito para parabenizar: a OMCV, pelo trabalho que tem vindo a realizar, desde a sua fundação oficial a 27 de Março de 1981; a MORABI, pela contribuição, desde a sua criação a 28 de Março de 1992, sobretudo a nível financeiro, nesta luta pela melhoria da situação de muitas famílias e, especialmente, de muitas mulheres cabo-verdianas.

As minhas escolhas

Antes de tudo, o meu agradecimento ao Pedrabika por ter incluído “Igualdade na Diferença” na sua lista, ao lado do Djaroz.

Para dar continuidade a esta onda, que começou no Café Margoso, entre tantos blogs berdianos de que gosto, mas evitando o efeito repetição, aponto o meu dedo para dois super deliciosos: o primeiro, pelo verde e pela amizade, que começou na blogosfera e fortificou lá fora, no espaço real; o segundo, pelos seus belíssimos poemas, que me contagiam sempre que o acaso, quase habitual, me leva a aportar por aquelas bandas.


Blog d'kel Bom: Blog do Paulino e Soncent.

...a problemática do acesso à água potável

Afroinsularidade


Deixaram nas ilhas um legado
de híbridas palavras e tétricas plantações

engenhos enferrujados proas sem alento
nomes sonoros aristocráticos
e a lenda de um naufrágio nas Sete Pedras

Aqui aportaram vindos do Norte
por mandato ou acaso ao serviço do seu rei:
navegadores e piratas
negreiros ladrões contrabandistas
simples homens
rebeldes proscritos também
e infantes judeus
tão tenros que feneceram
como espigas queimadas

Nas naus trouxeram
bússolas quinquilharias sementes
plantas experimentais amarguras atrozes
um padrão de pedra pálido como o trigo
e outras cargas sem sonhos nem raízes
porque toda a ilha era um porto e uma estrada
sem regresso
todas as mãos eram negras forquilhas e enxadas

E nas roças ficaram pegadas vivas
como cicatrizes, cada cafeeiro respira agora um
escravo morto.

E nas ilhas ficaram
incisivas arrogantes estátuas nas esquinas
cento e tal igrejas e capelas
para mil quilómetros quadrados
e o insurrecto sincretismo dos paços natalícios.
E ficou a cadência palaciana da ússua
o aroma do alho e do zêtê d'óchi
no tempi e na ubaga téla
e no calulu o louro misturado ao óleo de palma
e o perfume do alecrim
e do mlajincon nos quintais dos luchans

E aos relógios insulares se fundiram
os espectros, ferramentas do império
numa estrutura de ambíguas claridades
e seculares condimentos
santos padroeiros e fortalezas derrubadas
vinhos baratos e auroras partilhadas

Às vezes penso em suas lívidas ossadas
Seus cabelos podres na orla do mar
aqui, neste fragmento de África
onde, virado para Sul,
um verbo amanhece alto
como uma dolorosa bandeira.

Conceição Lima (São Tomé e Príncipe)

máquina de costura


Ainda ontem, pensei em comprar uma máquina de costura, muito catita. Lembrei-me de que a minha avó tinha uma máquina de costura cheia de ferrugem, que apenas ocupava espaço lá em casa. Foi naquela máquina que a minha mãe e as minhas tias aprenderam a remendar. Num passo geracional, aquela máquina deixou de ter utilidade. Eu não aprendi a coser, não fui induzida a inscrever nos cursos de corte e costura na casa das irmãs-de-caridade... Não faço ideia onde é que aquela máquina anda, mas recordo de que era parecida com esta que acabei de encontrar na Internet.

treze contos em duas noites

Waldir Araújo, quando te conheci, aqui neste espaço que denominaste por “mar de desabafos”, percebi pelas tuas primeiras palavras a poesia que existe na tua alma. Ao procurar saber mais sobre ti, através do Rio Geba, descobri a tua música poética, embrulhada em estórias da tua Guiné-Bissau. Desde o primeiro momento, fiquei fascinada pela simplicidade dos teus gestos e das tuas palavras.

Ao marinar no teu livro, Admirável, sucumbi e fui devorada pelos treze contos em duas noites. Apetecia-me dizer sim que os teus contos são “esteiras suaves e boas de adormecer, onde a verdade das coisas nos atrai por não ser tão real quanto a verdade do que foi escrito porque foi sonhado” (usando as palavras ditas pelo Ondjaki no prefácio).

Esta semana, andei atarantada atrás do carteiro, que tardou a chegar. Pensei no Mimito Adão, “o escritor ambulante”. Talvez fosse a pessoa mais indicada para me ajudar a escrever meia dúzia de linhas sobre os teus contos, mas suponho que Mimito Adão anda mais é fascinado com os beijos na boca da Mina Sandi. Enquanto esperava sofregamente pela chegada de uma mensagem das Tágides, imaginava as andanças do Admirável Diamante Bruto, as discussões das mulheres da ilha de Etionkó, a nova vida do Carlos Nhambréne, o sorriso do pobre pai natal, as mortíferas flores do Rachid Ismael, o desgosto da Sara... Porém, faltam-me ainda palavras para te transmitir o meu tamanho deleite ao beber desta tua primeira poção mágica. Antes de terminar esta minha pequena nota, deixo cair uma migalhinha do conto que mais gostei:


O dia do amor-próprio

“(...) Naquela reunião de mulheres, as verdadeiras chefes desta ilha de Etionkó, no arquipélago dos Bijagós, discutia-se a atitude de Ernesto Nanqui, que foi encontrado, alcoolizado, a tentar mutilar o seu pénis como protesto pelo desprezo a que a sua mulher o tinha votado nos últimos tempos (...).”

...…………………………

Apresentação em Lisboa

Nesta sexta-feira, 14 de Março, pelas 18:30mn, na Casa Fernando Pessoa, será apresentado em Lisboa o primeiro livro do jornalista e escritor Waldir Araújo, intitulado Admirável Diamante Bruto e Outros Contos, sendo que a apresentação estará a cargo do jornalista e poeta Toni Tcheka. A primeira apresentação pública deste livro decorreu no dia 12 de Fevereiro, na Póvoa do Varzim, no âmbito das Correntes d’Escrita.

...para que serve o dia 8 de Março?


Este ano, tirei a tarde do dia 8 de Março para mim. Aproveitei para fazer coisas de que quase já não me lembrava do seu sabor. Gostei de ter lembrado de mim mesma!

Alguma vez já pensaram no significado do dia 8 de Março, na sua história?

Será que é uma data apenas para as mulheres receberem mais flores, palavras bonitas especialmente desenhadas para esse dia, telefonemas de pessoas amigas e amigas da luta por uma maior inclusão da camada feminina nas nossas sociedades...?

batuque... apenas um ensaio

Maria Miranda

O mês de Fevereiro de 2008 ceifou a vida de uma das mulheres mais antigas da Calheta. Maria Miranda foi uma figura proeminente do seu tempo. Vivia em Cutelo Miranda, donde provinha o seu nome de família. Cutelo sempre pertenceu por nascença à família Miranda, que cresceu ao longo do tempo, tendo padecido de fome durante os maus anos agrícolas, como o resto da minha aldeia piscatória.

A pequena casa de Maria Miranda, feita de pedra e de barro, fica localizada entre a casa de Txabinhu e Maria d’Txabinhu e a casa de Totó e Lourdes d’Totó, lá no topo habitável de Cutelo Miranda. Conhecida pelas suas mãos angelicais, que traziam ao mundo as crianças da Calheta, Maria Miranda ganhou o título de “Parteira do Povo”, cunhada pela belíssima jornalista Aidé Carvalho. Esta mulher respeitada pelos seus dotes medicinais, sobretudo no que se respeita à obstetrícia, era proprietária de uma pequeníssima mercearia, ao lado da loja de Nho Nuna e Nha Diminga. Com a sua balança de quilo certo, Maria Miranda mercava a banana verde para o kaldu pexi boka-portuense, muitas vezes sem o esperado peixe.

 
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