Yolanda Morazzo

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O que sou
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Sou pedra e flor
Ave e pensamento
Riso de criança
Chamas e vulcão
Vento do mar largo
Canto do Poeta
Morte nos ciprestes…
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.............Sou a Voz do Silêncio!...
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Yolanda Morazzo
(Mindelo, 16.12.1928 – Lisboa, 28.01.2009)
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Nasceu na ilha do Porto Grande. Neta do poeta José Lopes da Silva. Portanto, legítima herdeira de Hesperitanas e Jardim das Hespérides. Sonhadora, também...
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Foi uma das poucas vozes poéticas femininas no período anterior à independência de Cabo Verde, deixando uma herança que as novas gerações de mulheres abraçam, confiantes noutros destinos...
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Estudou no antigo Liceu Gil Eanes, tendo prosseguido os seus estudos em Lisboa. Viveu parte da sua vida em Angola, donde regressou após a independência daquele país, permanecendo em Lisboa. Colaborou com várias revistas literárias de Cabo Verde, Angola e Portugal.

«a propósito» do Obama

Na noite de 5 de Novembro, Mia Couto viu-se encharcado em lágrimas de emoção, e pensou: “E se Obama fosse africano?

“1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado "ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.”

Publicado a 14/11/2008, no jornal Savana, Maputo


É difícil não nos embalarmos nas doces palavras do Mia Couto. Mas a verdade é que desde que o artigo do Mia Couto veio ao público, tendo circulado como um foguetão, muitas discussões, murmures e sorrisos tem suscitado. Procurando pôr os necessários pontos nos iii, depois da tarde de 20 de Janeiro, Inocência Mata avança:
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[...] encaminhava-se oportunamente para a relativização do que representa, nos Estados Unidos, a eleição de um presidente negro quando, como lembrou o próprio no seu discurso de tomada de posse, há menos de 50 anos, o seu pai não seria servido num qualquer bar – apenas por ser negro. Subjacente está o estafado discurso do mérito, como se o mérito fosse um absoluto sem laços nenhuns com a realidade, funcionando, deste modo como noção que busca desqualificar as desigualdades, as assimetrias e as discriminações, e acabando por concorrer para a naturalização de uma situação de desequilíbrio sem qualquer questionamento sobre a condição subalterna dos sujeitos que fazem parte do segmento não representado nas instâncias de poder, em todos os seus circuitos: social, económico, etnocultural, racial.

Relacionada com esta questão está uma possível discriminação de Barack Obama caso ele fosse um candidato africano, como refere Mia Couto no seu tão celebrado artigo de opinião. Se muitos duvidam da possibilidade de um Obama africano por não ser negro talvez seja por não terem conhecimento do que vem acontecendo em África, nomeadamente com Jerry Rawlings, ex-presidente do Gana, filho de pai escocês; Seretse Khama Ian Khama, presidente do Botswana, filho de mãe inglesa; Fradique de Menezes, presidente de São Tomé e Príncipe, filho de pai português. Além de que, conviria não esquecer, o próprio não se consideraria negro – considerar-se-ia diferente e pertencente a «outro» grupo. Por isso, quanto a este aspecto mais facilmente haverá um Obama africano do que um Obama europeu (e escusado será dizer que provavelmente não haveria uma primeira-dama negra). Por outro lado, e como disse mais do que uma vez, podem ser traçados paralelismos entre a presença do negro na Europa e do branco em África. E se formos honestos, concordaremos quanto à muito maior visibilidade deste do que daquele. Assim sendo, porque será mais grave não haver um Obama africano do que não haver um Obama europeu? Além disso, olhando para os meandros do poder em muitos países africanos (sociais e culturais, quando não económicos e/ou militares), como falar de «marginalização e discriminação» de um segmento que, mesmo minoritário, se move no topo de uma pirâmide social?! Estranha discriminação! E sobre discriminação, acreditem, não sou apenas espectadora intelectual – sou catedrática!

O perigo de uma ideia repetida até à exaustão é ela começar a acreditar-se verdadeira. Por isso, convém relativizar a frase de Obama segundo a qual a sua história só ser possível na América. Em muita África tem sido possível: isto é, a presença de «outros» na ciranda dos muitos poderes (porque se teima em reduzir o poder à esfera política?). Convém que as convicções ideológicas não turvem a análise cultural e científica.”

Inocência Mata, Angolense 24 a 31 de Janeiro‏

Tomada de Posse

O tempo da malta

A «geração de Cabral» – décadas de 50-70 – vivia num tempo da malta, distinto por causa das movimentações estudantis, dos direitos cívicos, dos feminismos e das independências. A malta desse antigamente recente saiu das então províncias ultramarinas para a sua formação na antiga metrópole.
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Essa geração foi marcada pelo contacto com a Casa de Estudantes do Império, ironicamente, o berço dos nacionalismos africanos, contribuindo para a “reafricanização dos espíritos” e pela procura da solução única aceitável para os povos das antigas colónias.
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Infelizmente, muitos não tiveram a graça de verem o hastear da bandeira dos seus países. E os que ficaram farta(ra)m-se de portar mal, mas há sempre esperança!
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Celebração do dia
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No outro lado do mundo, na terra onde ontem foi recordado o sonho de Martin Luter King, hoje Barack Obama vive o sonho.
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jovem baleado: a manifestação e os comentários

Houve uma manifestação, em Casal da Boba, Amadora, à propósito da morte de um jovem de 14 anos, baleado por um agente da PSP, numa distância de 10cm da cabeça. Deixo aqui a gravação da manifestação e mais comentários. Casos desses nos fazem pensar sobre a situação da malta jovem, sobretudo de origem cabo-verdiana, em muitos bairros de Lisboa, e ainda na forma como muitas vozes da sociedade portuguesa reagem face a um problema gerado no seu seio…

Foto: Sara M

Um pouco de CABO VERDE


Cabo Verde tem uma longa tradição migratória. Se hoje a emigração já não é tão romantizada ou sofrida como dantes, o que parece não mudar são as saudades. Basta ver a forma como a diáspora cabo-verdiana procura manter laços afectivos com as ilhas perdida no meio do mar!

Portugal é hoje um dos países onde a diáspora cabo‑verdiana se encontra melhor representada, acabando de ganhar mais um novo membro – Cristiano Ronaldo!, bisneto de uma berdiana que fugiu das ilhas, nos anos idos das secas, à procura de melhores condições de vida, aliás razão principal que tem impulsionado a emigração cabo‑verdiana.

Da mesma forma que a dita bisavó de Ronaldo por cá ficou, tantas outras almas berdianas vagueiam pelas terras lusas. Por mais anos que não visitam o país, por mais que as suas vidas se cruzem com outras vidas e se desvaneçam as possibilidades de regresso às ilhas, guardam sempre, para lá das lembranças, um pouco de CABO VERDE.

Ultimamente, tenho conhecido almas de origem berdiana que mesmo não partilhando as minhas loucas paixões pelas ilhas afortunadas, mesmo sem contactos reais com o arquipélago, guardam um pedaço de ternura que só pode ser berdiana. E o brilho que enche nos seus olhos quando ouvem falar dos destroços que o poeta nem sabe de que continente são. De repente, reabrem o baú de memórias, e desfolham episódios inesquecíveis. SODADE é a única palavra que conseguem pronunciar. Não importa quantas outras línguas conheceram, a palavra mágica traz o sotaque de um recanto qualquer do arquipélago. Ai como eu gostaria que, pelo menos, este sábado não acabasse nunca, fosse eterno!...

Eu, ...


Leitura do dia

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«A democracia é um sistema político mutável e, ao mesmo tempo, vulnerável. Para a revitalizarmos, é hoje indispensável conjugar a representação e a participação, a economia e a política, a família e as instituições.»

Paul Ginsborg, A democracia que não há. Que fazer para proteger o bem político mais precioso dos nossos tempos

Sonhei uma ilha

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Sonhei uma ilha
onde a chuva
de madrugada
beijava os campos
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……….
boca a boca
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sonhei uma ilha
onde o coração do sol
sorria alegre
aos camponeses
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……….sorriso a sorriso
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ao amanhecer
a chuva poisava
um beijo quente
na respiração dos monte
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……….
suspiro a suspiro
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e o azul do ar
sorria-me nas mãos
azul a azul
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Carlota de Barros

 
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