O mês de Fevereiro de 2008 ceifou a vida de uma das mulheres mais antigas da Calheta. Maria Miranda foi uma figura proeminente do seu tempo. Vivia em Cutelo Miranda, donde provinha o seu nome de família. Cutelo sempre pertenceu por nascença à família Miranda, que cresceu ao longo do tempo, tendo padecido de fome durante os maus anos agrícolas, como o resto da minha aldeia piscatória.
A pequena casa de Maria Miranda, feita de pedra e de barro, fica localizada entre a casa de Txabinhu e Maria d’Txabinhu e a casa de Totó e Lourdes d’Totó, lá no topo habitável de Cutelo Miranda. Conhecida pelas suas mãos angelicais, que traziam ao mundo as crianças da Calheta, Maria Miranda ganhou o título de “Parteira do Povo”, cunhada pela belíssima jornalista Aidé Carvalho. Esta mulher respeitada pelos seus dotes medicinais, sobretudo no que se respeita à obstetrícia, era proprietária de uma pequeníssima mercearia, ao lado da loja de Nho Nuna e Nha Diminga. Com a sua balança de quilo certo, Maria Miranda mercava a banana verde para o kaldu pexi boka-portuense, muitas vezes sem o esperado peixe.