I.1. tintim por tintim

Contaram‑me tudo, tintim por tintim. Então, disseram‑me que foi no final da tarde, quando toda gente preparava‑se para jantar no sossego das suas casas. Uma chuva das grossas começava a cair, relampeando na terra como nunca dantes. Tombavam sangue dos antepassados que habitavam a aldeia. As bocas berravam tal acontecido facto. A aldeia fervilhava num redemoinho de vozes destoantes. E as humanas almas estremeciam de tamanha injustiça cometida aos antepassados.

Antes do sol raiar, numa reunião na Escola Nova, um grupo de homens e mulheres da aldeia, por unânime unanimidade, concordaram que alguma coisa devida era necessário fazer para apaziguar os espíritos que deambulavam pela aldeia em impetuosa agonia. Os putos urgentaram-se em espalhar a decisão tomada. Surgiram duas ou três vozes que protestaram‑se, mas logo enxergaram‑se que era preciso deixar a moleza e recuperar a paz da aldeia. Pouco depois, nas repartições públicas e nas residências particulares, choviam telefonemas para as Américas, as Europas e as Áfricas.

Numa exacta semana, os filhos e as filhas do concelho – que se escondiam em diversos cantos do país e do mundo – chegaram com os conhecimentos adquiridos e as fortunas acumuladas. A partir desse dia, tudo mudou. O que vou contar foram os meus olhos que testemunharam. O sonho parecia realidade, encostada numa almofada de algodão tão macia.

 
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