Contaram‑me tudo, tintim por tintim. Então, disseram‑me que foi no final da tarde, quando toda gente preparava‑se para jantar no sossego das suas casas. Uma chuva das grossas começava a cair, relampeando na terra como nunca dantes. Tombavam sangue dos antepassados que habitavam a aldeia. As bocas berravam tal acontecido facto. A aldeia fervilhava num redemoinho de vozes destoantes. E as humanas almas estremeciam de tamanha injustiça cometida aos antepassados.
Antes do sol raiar, numa reunião na Escola Nova, um grupo de homens e mulheres da aldeia, por unânime unanimidade, concordaram que alguma coisa devida era necessário fazer para apaziguar os espíritos que deambulavam pela aldeia em impetuosa agonia. Os putos urgentaram-se em espalhar a decisão tomada. Surgiram duas ou três vozes que protestaram‑se, mas logo enxergaram‑se que era preciso deixar a moleza e recuperar a paz da aldeia. Pouco depois, nas repartições públicas e nas residências particulares, choviam telefonemas para as Américas, as Europas e as Áfricas.
Numa exacta semana, os filhos e as filhas do concelho – que se escondiam em diversos cantos do país e do mundo – chegaram com os conhecimentos adquiridos e as fortunas acumuladas. A partir desse dia, tudo mudou. O que vou contar foram os meus olhos que testemunharam. O sonho parecia realidade, encostada numa almofada de algodão tão macia.