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Sentado
desenhas a espuma
que dos ossos dos sonhos se erige
e progride rente à noite do martírio
De pé
frondoso entre as frondosas árvores
estilhaças o crânio
das antigas odes e das suas rememorações
para o teu povo celebrar
e os seus heróis
erectos no alfabeto de um novo tempo
Debruçado
sobre a lonjura
dos séculos de dor e esperança
tal sombra em busca de corpo
escrutas o azul
que do silêncio em mar se transfigura
Expectante
as penedias entre os regaços
e as secas ribeiras sobre o dorso
do mar constróis
um novo verde mar
que se petrifica entre os dedos
inundados de sol e suor
Caminhante
floresces um hino infante dos séculos
que em pátria se plasmam
na sua demanda do verde
ainda apenas pressentido
e
a espuma
é então
o rosto mais recente
a face mais dançarina
da memória e da esperança
nuas e límpidas
na pátria dos nossos avôs
Praia, 13 de Fevereiro de 1992
Lisboa, 1 de Abril de 2004
(Versão refundida do poema “Hino”,
publicado na revista Fragmentos, 9/10.
O autor dedica este poema
à memória de Amílcar Cabral
e em homenagem ao primeiro
hino nacional de Cabo Verde.)
José Luís Hopffer Almada