Então, no passado mês de Maio, houve tanta confusão por causa de um bodeku desaparecido... Mas isso não interessa agora!... Retomando o sonho, Djon‑Da‑Kruz Kamundongu começou a fazer geminações aqui e acolá. É só geminações!... Disseram-me que cunharam-lhe de Kamundongu por causa do seu paladar afinado. Como bafiu, tartarugas e pombas, não! Ele toca noutra banda! Disseram-me que ele prefere lagartixas fritas e gafanhotos grelhados. E até dizem que é por isso mesmo que Djon‑Da‑Kruz Kamundongu tem um físico atlético, invejado pela malta da oposição local. Bom, indo directamente ao sonho, Djon‑Da‑Kruz Kamundongu conseguiu um montão de computadores e materiais didácticos para as escolas e centros juvenis do concelho; quase meia dúzia de autocarros, sendo três especificamente para deslocar a malta universitária; ambulâncias para levar os casos de emergência directamente ao Hospital Regional de Santiago Norte.
Os rapazes da oposição local invejaram a obra do Djon‑Da‑Kruz Kamundongu. Numa das suas visitas ao concelho, Ti‑toru Bazofu e Octávion Kankan avançaram com inaugurações. Ti‑toru Bazofu abriu as portas de um Centro de Emprego, em Veneza. Na qualidade de membro do gang d’Zema, Ti‑toru Bazofu aproveitou para fazer o seu discurso ao povo: “aqui não queremos malandrecos e malandrecas a dormirem a sesta nas sombras das nossas acácias floridas. Se quiserem emprego, temos um centro cheio de ideias e recursos. Tragam os vossos sonhos que nós transformamos em projectos! Hoje és um pescadorzinho ou uma peixeirinha, mas amanhã podes ser um empresário ou uma empresária. És um imigrante cheio da grana, venha até nós que te ajudamos a fazer aplicação certa. Nu bai gentis, nu bai, tudu pa micro‑empreendedorismuuuuu! Nos e bazofu propi!!! Não é poesia, nem filosofia... É puro troco no bolso! Acabou a era do kaldu pexi sen pexi. Gosi kada boka‑portuese ten direitu a sê laska‑pexi. Y quiçá bodeku també! Nu bai gentis, nu bai...”
Bom, Nhu-Kankan també ka fika pa traz. E meti si mô na bolsu na stilu capatas di MDR, e larga di sel: “educason pa tudu gentis! Tudu mundu pa scola! Tudu pa formason! Educason y formason pa tudu gentis! E mi propi ki flá!!! E verdadi nha povuuu... Dja nu manda fazi scola y jandim pa tudu greta, di cutelo dixi rubela. Djan papia ku Zema (ki gosi sta pueta!) pe manda tudu mundu pa scola, tudu mundu. Nu bai, nu bai guentis.”
Lá len di baxu-l, Nhu-Flipinhu ben ta katriça ku kuitosu baxu-l braçu (uma encomenda para a equipa do Zema, com um bilhetinho de agradecimento pelo empréstimo, e a boa-nova de que agora na nossa aldeia já não precisamos deste produto). Nhu-Flipinhu contra ku Nhu‑Beku Salú lá Passadera. “Odjú na bodeku!” - disse Nhu‑Flipinhu. “Mos, calma mos!.... Mi e más basofu ki bó, N ten odju d’gatu!...”- ripostou Nhu‑Beku Salú, na posi badjador di sakis. Trocaram mais duas ou três baboseiras, e, não sei por que razão, surgiu uma grande confusão à volta. Ninguém entendia ninguém. Pedrada por aqui e acolá. Até que um velho sábio apareceu para acalmar a confusão, acrescentando que somos de uma pequena aldeia, e somos primos e primas, independentemente da cor ou ausência desta na nossa camisola. E que qualquer ofensa ou soco no focinho de alguém seria uma afronta aos nossos antepassados. Então voltou‑se a paz.
Num botequim qualquer, na berma da estrada principal, Miguelu e Manuelon mintiravam acerca do que a equipa amarela ou a equipa verde pretendiam fazer não sei quando. Menino‑p‑D, o puto mais politizado da aldeia, passou e interrogou os políticos singuelados. Perguntou o que é que os dois deputados do círculo da Europa pretendiam fazer agorinha para o concelho, também não esqueceu de mandar mantenhas ao Zema por ter metido dois naturais da terra na sua equipa, e ainda concluiu favoravelmente acerca da pedalada do presidente da equipa verde. Bom, Menino‑p‑D confirmou que só depois desse djunta-môn é que ele se apercebeu de facto que São Miguel tem excelentes quadros lá na capital e noutras paragens. Os deputados nem entenderam a preocupação do miúdo, nem interessava-lhes. O importante é que naquela noite havia uma festança de confraternização na residência presidencial. Claro, iam comparecer para o habitual enchimento da pança...