…E AS MULHERES

Estava a pensar no amor, nessa palavra mágica que transforma tudo o que em nós habita... Dessa vez, peguei no poema Entre os Lagos da angolana Ana Paula Tavares. Realmente, essa poetisa fala de “coisas amargas como os frutos”.


Entre os Lagos

Esperei-te do nascer ao pôr do sol
e não vinhas, amado.
Mudaram de cor as tranças do meu cabelo
e não vinhas, amado.
Limpei a casa, o cercado
fui enchendo de milho o silo maior do terreiro
balancei ao vento a cabaça da manteiga
e não vinhas, amado.
Chamei os bois pelo nome
todos me responderam, amado.
Só tua voz se perdeu, amado,
para lá da curva do rio
depois da montanha sagrada
entre os lagos.

Ana Paula Tavares
(in Dizes-me Coisas
Amargas como os Frutos
)


Revendo o Namoro de Viriato da Cruz, vejo Entre os Lagos da Ana Paula Tavares como uma das possíveis “respostas” ao poeta angolano da geração anterior. Com elegância e sensualidade, essa poetisa traz a voz de uma mulher que, ansiosamente, sofre à espera do seu amado. A poesia da Ana Paula Tavares surge num contexto em que, até há pouco tempo, a voz feminina não era escutada, quer porque não possuía condições-de-pronunciação, quer porque era silenciada.

 
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