- ah, ok!

Uma horrível sinusite me levou hoje ao serviço de urgência do Hospital da Universidade de Coimbra. Contando ninguém acredita! Mas quando cheguei ao balcão de atendimento me informaram que, na última vez que lá fui, tinha desaparecido antes da alta médica.
- o quê?
- a menina foi-se embora antes da alta médica.
- eu? quando?
- foi há 8 anos atrás.
- Lembro-me de ter vindo cá, acompanhada por três amigos (Jó, Júlio e Gerson).
- Não confirmaram a alta médica. A menina tem que confirmar a alta ali! – apontou-me com o dedo indicador.
- ah, ok!

Fui ao balcão. Falei com um dos senhores que ali se encontrava. Virou para o seu colega, e perguntou-lhe como devia fazer para confirmar uma alta 8 anos depois.
- Se calhar estive em coma durante 8 anos! – intrometi-me sorrindo.
Rimo-nos.

Tudo ficou resolvido no mesmo instante. Entretanto, enquanto aguardava pela minha vez, dei por mim a matutar o que teria sido se realmente tivesse estado em coma; se eu tivesse perdido 8 anos da minha vida, estagnada numa cama de hospital! Arrepiei-me toda, e senti uma vontade enorme de abraçar alguém apertadamente.
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Retrospectiva

Começavam a desfilar à minha frente mil coisas que vivi nesses últimos 8 anos. Lembrei-me de quando cheguei cá em Coimbra, eu e a Beti. Tínhamos apanhado um autocarro em Lisboa, Oriente, e descemos no Mondego em frente do Hotel Astoria. Não tinha telemóvel. Fui à cabine de telefone do Largo da Portagem, e telefonei à Lourdes. Tarina, Solange e Lourdes estavam à nossa espera na rodoviária. Caminharam pela Avenida de Fernão Magalhães, e vieram ao nosso encontro, cheias de comentários sobre caloiras. Beti seguiu com a Tarina para São Martinho do Bispo, e eu fui com a Lourdes e a Solange para a famosa Rua António José de Almeida, primeira paragem para a maioria da malta de Cabo Verde.

Nessa mesma noite, fomos à Associação Académica. Encontramos um batalhão de estudantes da terra: Jó, Jéssica, Ben Johnson, Júlio, Adilson, Renato, Odair, Isolino, Samira, Moisés, etc. Estavam alegres, sobretudo porque na samana anterior a lista do Renato e Odair tinham vencido a lista do Adilson e Ben Johnson numa das eleições para a AECVC mais concorridas de sempre. De modo que, naquela altura todas as conversas iam parar no mesmo tema. Apresentaram-me o Adilson, depois o Renato. Havia na época muito dinamismo estudantil. Muita gente bonita, e polemista. Motivo para dizer que, Coimbra, era um bez!

Depois conheci os meninos do Seminário (Paulino, Irineu, Zé Maria Pianista, Zé Mário, Eduardo...), a malta da faculdade de economia e demais grupos da grande comunidade estudantil de Cabo Verde. Seguiram-se a festa de recepção da caloirada, a festa do Natal e a festa do fim de semestre. Das coisas grandes como um louco abraço ao Gi em plena Praça da República até às coisas mais banais como preparar uma katxupada na casa velha da Rua Padre António Vieira, onde morava o trio Jó, Samira e Moisés, recordei-me de muitos momentos de animação plena. Desde as leituras na Salinha; os jantares de curso; as visitas quase diárias ao Castelo (casarão da sindicalista, que fica mesmo ao lado da faculdade), onde vivia a malta mais ri-fixe da época – JP, Laurindo, Higino, Edson, Sam e Eduardo-Djedje. As reuniões com os meninos do Seminário lá no Instituto de Justiça e Paz; as assembleias magnas, latadas e queima das fitas; os acampamentos pelos cantinhos de Coimbra e caminhos de Portugal; as cartas de e para Cabo Verde; os piqueniques no Penedo da Saudade, Jardim da Sereia e Jardim Botânico; as festas na casa do Isolino e Odair; as festas na casa do Fidel e malta de Assomada; as irresistíveis receitas do Avelino; as visitas aos meninos da Ladeira de Seminário (Gi, Nené e Nuno); as danças tradicionais do grupo da Célia; a música do grupo da Sandra Horta (com a Ildy, o Keita e o Tony); o fanteatro de Edmir, Gilson e Samir; as letras rap do Madueno e Jerson; o ku-tornu da Dilma; a arrozada da Eneida e Ariana; o futebol das meninas e dos meninos; a mousse di kamoka da Josiane; os passeios com a Marly pelas margens do rio Mondego e as nossas caminhadas às 7 da manhã no calçadão; os treinos no Estádio Universitário; as aventuras minhas e da Marly pelas Europas; as visitas à residência, onde vivia a Helena e o Hermelindo; as longas prosas com o Jairzinho; as gargalhadas com o Arlindo; a declaração «lapidu na Tunia» do Samir; os amores e as crianças de Coimbra; e os êxitos, os fracassos e as tragédias (a morte do Aldo) na vida de estudantes em terras distantes...

 
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