Dona
Chica sintonizou o pequeno rádio
À cata
de novidades de seu sofrido país.
Anunciou-se
a chegada da Democracia
Sob os
auspícios de Desenvolvimento e Liberdade
Para
promover o progresso da nação.
Pela
manhã, os jornais em enormes manchetes
Elogiaram
tanto a Democracia, que dona Chica
Imaginou-se
soberana Dama com poderes especiais
Para
realizar o milagre tão almejado do progresso.
Dona
Chica soube por uma professora local
Que a
Democracia se instalou no acanhado bairro
Ali,
na esquina, pertinho de sua casa.
Então,
dona Chica, como nos bons tempos, se enfeitou
Para
uma visita à distinta Dama que chegara.
E qual
não foi seu espanto ao encontrar a Democracia
Esfarrapada,
magra, olhar mortiço.
Depressa,
dona Chica voltou ao modesto recanto
Pegou
sua única galinha, preparou apetitosa canja
Para a
democracia, levando-lhe seu melhor vestuário.
Retornou
no dia seguinte, esperando encontrá-la melhor.
Grande
a sua decepção! A Democracia estava pior,
Quase
agonizante, e a nova roupa também corroída.
Foi
buscar sua única cabra, pediu à professora trajes decentes
E
ambas foram socorrer a venerada Democracia.
Ao
terceiro dia, o estado da paciente a preocupou
E dona
Chica procurou um médico, versado em política.
Este,
só de olhar para a Democracia, diagnosticou:
– Está
afetada pelo vírus do afro sistema político vigente.
Dona
Chica removeu a moribunda para sua pobre casa
Em
trapos, esmaecida, já quase inerte.
Pelas
portas, janelas e buracos do tecto, os abutres
Invadiram
o casebre, numa atrocidade
[própria das matas palacianas.
[própria das matas palacianas.