«o verão trouxe-me»

Os sintomas do verão já atingiram a Ala Marginal e no conhecido Café Margoso não se fala de outra coisa. No meu caso, aqui nesta cidade distante a transpirar os 37º, entre os meus afazeres inadiáveis e os meus planos para uns dias de férias lá no norte, o verão trouxe-me uma tonelada de recordações infanto-juvenis, da aldeia onde nasci e onde está o embrião da minha família, apesar das tentativas do vento em espalhar pequenos retalhos pelos quatro cantos do mundo.

O verão trouxe-me a vontade de arrumar a minha velha mochila de couro e seguir viagem para Calheta. O verão trouxe-me uma fina saudade da baía do porto; do reencontro prolongado com a minha família boka-portuense, depois de um ano lectivo fora de casa; da minha varanda na casa caiada de branco, escutando o som das ondas lá no fundo; do sabor do silêncio da noite nos meus lábios; da ida às tranças na casa d’Angelina; dos jogos na minha rua; das minhas fantasias de sereia pura, filha do mar.

O verão trouxe-me a recordação das previsões do Cabiote (pescador da aldeia) acerca da chuva; da secura da minha aldeia; do pouco cheiro de terra molhada; do curto sorriso da mamãi Dinora; do amarelo das mangas madurinhas de Txan pa Riba; das conversas com o papai Yoto que me apontava para o pouco verde no Monte Galion, após as primeiras minguadas chuvas; do milho assado no forno fincado na cozinha de pedra; dos meus soluços até adormecer por não me terem deixado dar uma escapadela até à praça do Porto (injustiça, pá! o meu mano ia todos os dias, sem falta... no meu caso, nem valia a pena protestar!).

O verão trouxe-me as saudades, muitas saudades...

Imagem: João Lima

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Laundry Detergent Coupons