Para além dos poemas de Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Januário Leite e José Lopes da Silva, este último acertou em cheio numa questão que ainda hoje faz parte das reivindicações de mulheres do mundo inteiro:
“A educação que as caboverdianas recebem é quase totalmente doméstica e restrita aos costumes; mas a instrução, essa rudimentar instrução que tão escassamente se lhes proporciona, só a compartilham filhas de pais abastados e de medianos haveres ou de gente pobre a quem suceda residir nas proximidades das escolas. Assim, pois, a mulher caboverdiana, principalmente a do povo, não sabe ler, nem escrever, nem contar...” (José Lopes da Silva, séc. XIX).
É simplesmente singela esta generosidade do poeta com as mulheres em geral e as mulheres do povo em particular. Relativamente às mulheres nas ilhas de S. Nicolau, S. Antão, S. Vicente, Fogo, Santiago e Brava, no século XIX e princípios do seculo XX, a vida quotidiana era evidentemente constrangida por distinções de raça, classe e região, de maneira que a larga maioria da camada feminina não beneficiava de qualquer «direito à civilização». Assim, havia naquela época apenas um grupo de mulheres cujo acesso à educação lhes permitia tomar parte na vida cultural e nas altas rodadas das cidades e dos vilarejos.
Mesmo assim, tais mulheres privilegiadas eram afectadas pelas desigualdades de género, de maneira que, por mais que tivessem estudado nos colégios lusitanos e parisianos, a sua vida nas ilhas circunscrevia-se ao espaço da cozinha (os tais concursos de doçaria) e à animação dos saraus culturais em Nova Sintra, Ribeira Brava, S. Filipe, Praia e Mindelo. Embora tenham surgido algumas mulheres escritoras e jornalistas, perderam-se nas prateleiras da história. São elas: Maria de Spencer Freitas (S. Antão, primeira poetisa caboverdiana); Antónia Gertrudes Pusich (S. Nicolau, autora da primeira obra literária publicada de autoria caboverdiana); Emília Aguiar; Maria Luísa de Senna Barcellos; Gertrudes Ferreira Lima; Maria Cristina Rocha; Adélia Nobre Martins; Ida Loff Fonseca; Adelaide Maria das Neves; Maria Helena Spencer (Praia, uma das primeiras jornalistas e contistas caboverdianas), etc.
Adeus, até ao próximo ano! Um dia feliz para as mulheres de todas as ilhas, para as mulheres de outros mundos que residem nas ilhas e para as mulheres do mundo inteiro! E já agora: para os homens também!