1. Apanhar o comboio, com um colega berdiano, afiando a conversa enquanto a noite entoa o seu silêncio pelos caminhos da capital do Minho: Braga... Frio e chuva. Previsão de neve nos pontos altos da cidade, não intensamente, mas o mínimo para delirar algumas almas.
2. Não pretendo fazer um balanço geral do X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Nem vou me debruçar sobre as pessoas, as comunicações, a interdisciplinaridade, as partilhas, as actividades culturais, os jantares e as novas amizades.
3. Vinte anos depois do primeiro congresso, apesar das melhores intenções que têm mantido vivo o Luso‑Afro‑Brasileiro, «fantasmas e fantasias» continuam a povoar a (nossa!) imaginada comunidade de cientistas sociais dos países de língua oficial portuguesa. Não obstante os esforços da organização em ultrapassar algumas situações constrangedoras, houve episódios que provocaram um mal-estar quase generalizado. El congreso contou com especiais momentos cómicos. Vou me cingir à questão linguística: a) “não podemos temer a língua portuguesa!”, disse um fulano; b) “trata-se da nossa identidade, a identidade lusófona que nos une!”, rematou um beltrano. Uma coisa é partilhar a língua portuguesa e incentivar o intercâmbio científico no seio da comunidade; outra bem diferente é fundar uma identidade que nos levará ao progresso. Temos interesses comuns, mas também temos os nossos interesses específicos que não queremos sacrificar em nome de um todo homogéneo, e muito menos contribuir para sustentar interesses hegemónicos recalcados e/ou emergentes. Não à colonização linguística e simbólica, dentro e fora da comunidade dos países de língua oficial portuguesa! (ver outras críticas aqui, especificamente Braga 4.).
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4. Para complicar ainda mais, em plena Assembleia Geral do Congresso, um dos responsáveis da Universidade Lusófona, que já se expandiu para as cidades do Mindelo e de Bissau, se disponibilizou a realizar o XI Congresso, apresentando uma pequena lista de “sugestões turísticas” para fundamentar o interesse da sua universidade em realizar um evento desta natureza, entre as duas cidades.
5. Posto isso, não se admira tanto porque é que um taxista, às 4h da manhã, deixa flutuar do seu inconsciente ensonado o seguinte: “Vocês são d’África? Se eu tivesse menos vinte anos, iria ganhar a vida em África... Angola.” Hummm... Salazar ficaria contente, nem mais!