SONHEI COM FLAMENGOS

Flamengos, Flamengos!... O dia estava radiante. Passei o dia todo em Flamengos. Vi o milheiral mexendo ao som do vento. Vento fresco que controlava os meus passos pela encosta. Eu e o Francisco Lopes, fomos até à Casa Grande “Centro de Trapiches e Alambiques”. Ao contrário do que o nome indica, é um recinto pequeno, que guarda as marcas/manchas de um passado ainda recente e sempre presente no imaginário das pessoas desta pequena localidade à beirar-da-estrada.

Depois desci pela encosta cantarolando. Percebi algo de estranho! Quase senti um calafrio. Cheguei à ribeira com o cordel da minha sandália desapertada. Parecia que estava a caminhar em direcção a um espaço mítico. O sol já se tinha acalmado. Era perto das 16h... Sentei-me num penedo e o Francisco noutro. O Francisco observava com atenção a muralha de areia que estava à nossa frente. Ele apontou-me o dedo para um buraco. Levantamos e, para nosso espanto (!), vimos correr uma fila de água fina... Era sangue. Só percebi isso quando olhei para a cara entristecida do Francisco. O sangue que escorria ainda estava fresco e com o cheiro de suor.

A ribeira verdejante de outrora estava feita em grandes buracos, entrelaçados com as muralhas de areia. Estas escondiam a cara de mulheres e crianças, que as tinham erguidas. Reparei que as areias não tinham brilho nenhum e que a ribeira parecia coberta por uma manta de sangue escurecido. Lembrei-me do poema da Ana Paula Tavares, O Lago da Lua. Então, pensei que aquela manta de sangue podia ser o primeiro sangue das rapariguinhas lavadas na ribeira, quando havia sinal de águas cristalinas. Foi uma explicação que encontrei!...

 
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