Coimbra

Aqui a noite é quase tão mágica como na minha Calheta, a vida académica é feita de poesia e tudo parece eterno...

O meu mano parece que não gosta muito da mansidão dos dias em Coimbra. Chegou da Calheta para feriar em Portugal, passou por Coimbra, mas não demorou mais do que uma semana. Arranjou logo uma desculpa para ir à Lisboa: um tal imperdível Benfica‑Porto lá no Estádio da Luz. Bom, tentei argumentar que podíamos ir assistir a um jogo da Académica, mas não adiantou. Sendo assim, acabaram-se as minhas férias e amanhã tudo volta ao normal...

Lisboa

Lisboa rima com Pessoa. Claro, gosto de Pessoa! Porém, quando o tema de conversa é Lisboa, tento fugir o máximo possível e imaginável. Posso dizer que não tenho muita simpatia por essa cidade, apesar de uns sítios e encantos que merecem alguma reserva. Entretanto, ultimamente, tenho ido lá várias vezes.

Desta vez, fui à Lisboa para paródias familiares. Descobri um primo do meu pai escondido nessa cidade. Fui conhecê-lo e, como seria de esperar, foi uma maravilha cada segundo que passei com esse meu mais novo tio. Aproveitei para conhecer os meus mais novos primos e as minhas mais novas primas. Resumindo e concluindo, foram dias de festa com boa música e muitas gargalhadas!

Sintra para Sonhar

Não encontro palavras em justas porções para descrever aquela quinta‑feira em Sintra. Os detalhes todos foram imaginados previamente. Desde a viagem de Comboio, na companhia da poesia em pessoa, até os temas de conversa na quinta. Tinha previsto passar dois dias em Sintra, mas sussurraram‑me ao ouvido que, durante o Outono, os dias e as noites são mais nostálgicos nessa vila historicamente conhecida pelo seu ambiente sublime. Por esse motivo, o regresso foi logo anunciado...

Chegámos à Sintra pela manhã, daquele dia encantado. O anfitrião esperava-nos amavelmente na estação. Para não quebrar a melodia da vila, tomámos um café ali perto, antes de seguirmos para a Fundação Eugénio Tavares, sediada na Quinta Verde Sintra, um cantinho singelo de promoção do turismo rural, com um clima favorável à entoação das mornas das ilhas.

O dia estava com vontade de chorar, mas tinha receio de desmontar o nosso passeio pelo jardim. Fizemos uma visita geral à quinta, aproveitando para registar cada espécie vegetal de Nova Sintra transplantada agora em Sintra. Não foram só as coloridas flores e as plantas, mas também os móveis, os azulejos e a harmonia, que cativaram a minha atenção. Gostei de cada pormenor, que realça a sensibilidade de um ilhéu em terras estrangeiras, trazendo a casa às costas como um caracol. Percorremos passo a passo, desde a recepção até os recantos mais escondidos da quinta. Os quartos, os apartamentos e os espaços comuns são agradáveis para quem pretende usufruir de dias sossegados longe das grandes cidades. Da quinta, contemplámos a magnífica vista da Serra de Sintra e agendamos uma visita ao centro histórico desta vila, considerado património mundial.

Vila Nova de Gaia

Desfilámos por vilas piscatórias do Grande Porto, observando a mansidão do mar. Depois seguimos para Vila Nova de Gaia. Numa dessas voltas, cruzámos com a Loja do Pescador (que me fez recordar de o Monumento do Pescador, algures em Caminha). Percorrendo a borda de Gaia, cheirámos o famoso vinho do Porto. Passámos pelo Cais de Gaia, área turística de belíssimas esplanadas, agradáveis restaurantes e simpáticos bares, na margem esquerda do rio Douro. Com as pernas fraquejadas, sentamos numa tasca típica da região para um almocito, tendo à frente a zona histórica do Porto, eleita património mundial.

Poucos segundos depois, apareceu na nossa mesa uma senhora poliglota. Respondia ao empregado transmontano, falava com o turista italiano da mesa oito, acudia a uma espanholita que queria saber onde fica não sei o quê, despedia do casal francófono, mandava sentar o britânico escaldado... Quando chegou na nossa mesa, entoei as minhas saudações na língua cabo-verdiana, variante de Santiago, pensando que ela ia desmanchar-se em incompreendismos. Muito pelo contrário! A dona de cara linda virou para mim e disse num sorrisso gargalhado: “a menina é cabo-verdiana! Olha que tive uma colega da Praia. Deve conhece-la! O nome dela é Fátima... Mas já só me lembro da palavra kretxeu e também da Cesária Évora.” Fartei‑me de rir com a animação da senhora tão expert no seu ofício como as rabidantes lá da minha terra...

No cambar da tarde, regressámos para Coimbra. Aproveitei para revestir a minha sacola extra e trocar acessórios na minha mochila. Depois segui sozinha para a segunda parte das minhas férias. Desta vez, para além de uma estadia prevista em Lisboa, tinha planos para uma escapadela até Sintra.

Caminha

Estando em Viana do Castelo, optamos por dar um saltinho até à vila da Caminha. Visitámos o Chafariz do Terreiro, a Torre do Relógio, a Igreja da Misericórdia, o Castelo de Caminha, a Igreja Matriz de Caminha e as Muralhas. Foi uma linda manhã, numa vila admirável! Do outro lado do atlântico, a bela Espanha apontava sinais da sua proximidade. Pena foi não termos ido à Vila Nova de Cerveira, ali ao lado!...

Viana do Castelo

Do longe, vimos o Templo de Santa Luzia, o nosso primeiro olhar do lugar. De olhos fechados fechadinhos, subimos até ao monte da santa. Ao colo da santuska, vislumbrei a magnífica paisagem que tinha aos meus pés: atrás de mim, a serra toda ela verdíssima; numa das laterais, o mar, embora não era parecido com o das minhas saudades; à minha frente, o rio Lima. Ao olhar a magnífica paisagem desse lugar, pensei num suspiro só: meu deus, como é possível uma cidade escondidinha contemplar os mistérios do mar, da serra e as águas do rio! Porque é que só agora descobri Viana do Castelo? Certeza apenas a de que desejo voltar...

Depois da visita à cidade, guardei três imagens na minha mochila: o Templo de Santa Luzia, pois não consegui afugentar os fragmentos de memória daquela ilha solitária lá no meu arquipélago, aquela entre as três que ainda não conheci; o Gil Eanes (misterioso barco que apareceu à minha frente depois de uma longa caminhada, respirando o cheiro fresco do mar e o odor das algas) com as lembranças daquele liceu mindelense nos anos idos do século XX cabo-verdiano; o Castelo de Santiago da Barra, plantado na margem do rio Lima, outrora com a função de defender a povoação.

Início da viagem... foi uma maravilha!

Este ano, com a chegada do «verão quente», aceitei o desafio de redescobrir bocados da terra lusa. Como adoro cidades históricas, sobretudo aquelas pacatas que quase ninguém dá por elas, foi com muita emoção que peguei na minha velha mochila de couro, metendo lá dentro um diário cor‑de‑rosa, um lápis afiado, uma máquina fotográfica digital, um livro de poesia com folhas soltas e uma caixinha de maquilhagem com um bâton de cor nenhuma e um pequeno espelho. Numa sacola extra, levei um protector solar, uma garrafa de água, uma escova azul para os dentes e uma outra para os cabelos, entre outras tralhas de mulheres... Saí de casa preparada para o grande sol que se previa: uma boina, uns óculos bué da giros, pernocas ao léu e uma blusa verdazul. Entrei na viagem.

A passagem mágica pela Ponte da Arrábida, que liga Porto e Vila Nova de Gaia, foi a primeira grande maravilha da viagem. O silêncio do rio Douro convidávamos para uma outra viagem, mas não caímos na tentação e seguimos o nosso percurso previamente delineado. Continuamos a flutuar pela auto-estrada com muita música, prosa e suspiros...

Vou de férias!!!

portugando de alto à baixo em oito dias:
Caminha. Viana do Castelo. Vila Nova de Gaia. Coimbra. Lisboa. Sintra.

não quero ouvir adeus, que seja até breve!




Oh, Lino, quase me fizeste gotejar com o teu segundo parágrafo. Porém, após uma respiração funda, percebi que as tuas razões não me satisfazem. Acho que podias continuar com o teu cantinho intimista, sem que isso atrapalhe os teus outros compromissos e responsabilidades. E no teu blog sabes que podes escrever quando quiseres e como bem entenderes. Esta é a grande vantagem em relação aos outros ciclos que fechaste no passado. Não consigo entender as tuas justificações, pois acredito que a vida é feita de múltiplos ciclos, muitos deles em simultâneo. Muitas vezes, perco minutos a reler o meu blog e pergunto para mim mesma se “quando for grande” irei continuar com o meu blog que é tão intimista e numa escrita afectiva, sensual e feminística. Não encontro resposta. Certamente, poderei adoptar uma outra forma de escrita, mais sociológica ou cronicada. Isto é para te dizer que, enquanto uma das blogueiras que gosta do teu blog e vai lá muitas vezes, acho que talvez chegou o momento em que devias adoptar um outro estilo de escrita e com outra periodicidade, mas nunca fechar o teu blog. Por exemplo, há um blogueiro na vizinhança (não o conheço pessoalmente, mas é amigo de uma tia minha e de um tio meu, mas ele não sabe…) que tem uma vida profissional de loucos, mas consegue colocar bons posts no seu blog. Faça uma visitinha até “Passageiro em Trânsito”! E há muitos/as outros/as blogueiros/as (tanto em Cabo Verde, como por outras bandas do planeta) que não têm muita disponibilidade, mas conseguem provocar debates e despertar ideias nos seus blogs.

No meu caso, nem imaginas a vida que tenho! Não tenho nem tempo para pensar em mim. É muita coisa em cima da minha cabeça: os meus compromissos académicos, profissionais e o activismo; as minhas responsabilidades pessoais e familiares. É muita coisa para os meus 26 anitos. Mas consigo tirar bom proveito do meu blog. Escrevo para partilhar as minhas angústias, emoções, reflexões e até consigo fazer amigos/as, o que já é bom porque tenho uma vida muito fechada entre “o meu quarto” e a faculdade. É um correr para aqui e para ali, que quando chego à casa no final do dia farto-me de aliviar com os meus passeios pela blogosfera.

Lino, desde o primeiro dia que te conheci na blogosfera, fiquei encantada com o teu sorriso verde, as tuas caminhadas na minha ilha, o teu espírito aberto, a tua forma alegre de encarar a vida, a tua paixão pelas coisas boas e a tua solidariedade, cooperativismo e atenção ao mundo que te rodeia. Passei a gostar mais da tua ilha, a ver pequenas coisas que às vezes na fugacidade dos dias esquecemo-nos de prestar atenção. Fui pessoalmente até Fajã Domingas Bentas. A tua mãe Silva de Junzim d'Polina recebeu-me com um alegre sorriso. Na companhia do teu irmão e da minha amiga-colega Elinha, a teimosia me levou a calcorrear pela montanha ti sukuru fitxa. O teu irmão disse-me que, por mais duas vezes naquele ritmo, eu podia ganhar qualquer maratona na Praia. E disse-me mais: “podes dizer ao Paulino que agora conheces Fajã melhor do que ele!” Foi uma linda caminhada e as gentes do teu cutelo foram amáveis comigo. E o teu irmão tão atencioso, não só contou-me estórias do teu cutelo, como mostrou-me sítios e encantos e apresentou-me pessoas que já conhecia através do teu blog ou através do teu livro “Gentes das Ilhas”. Veja lá o que estás a fazer comigo com este “teu gesto egoísta” (não combina contigo, pois não?) de fechar o blog que já não é apenas teu! É meu também e é de tantas outras pessoas que por lá passam para um chá ou um groguinho de Sintanton. Caramba, já basta o feiticeiro Barbosa que desapareceu sem deixar rastos ou o aprendiz de feiticeiro Djoy que saiu de fininho (vi que ele já regressou, mas não consigo meter nenhum comentário no blog dele. ele deve ter escolhido uma opção que está a bloquear a colocação de comentários – veja lá, Djoy!)!!! E mais, Lino, não me queiras ver chateada grrrrrrrrrrrrr!

Independentemente da tua opção em deixar a blogosfera berdiana (durante algum tempo, ainda indefinido), querido vizinho na blogosfera e na capital, desejo-te as maiores felicidades e quero continuar a ver-te nas minhas próximas idas às ilhas!

Um beijinho com muitos miminhos…



Um Poema Para Ti

Emprestei um poema da minha ilha para te oferecer. Quem melhor do que um poeta de Assomada (também ela verde) para te falar desta «cor mais bela, porque é a cor da esparança»!


Permanência

A pedra continua inerte
A loucura continua efémera
O sonho continua eterno
O solilóquio da solidão continua terno
O caminho das lanternas continua traiçoeiro
As promessas da madrugada continuam incertas

A água de cada dia continua térmica
O trópico de Câncer de olhar posto em Santiago
----------continua aridamente hemisférico
Os insultos no estádio da várzea continuam esféricos
O amor na praça da cidade continua desinibidamente espérmico
A aurora para além dos labirintos do subúrbio continua quimérica
O polegar de txibita continua cadavérico
----------e ressequido sobre o deserto do seu crânio
Os pedintes continuam elegantemente raquíticos
----------e sentados compõem o requiem do quotidiano

A ilusão continua verde
(do verde lunar das serenatas)
neste país
de pedras
que sonham
na face imaginada da água
e rejubilantes
digerem
a esperança
sempre erecta
no seu verdejar
----------na aurora do pedinte…

Lisboa, Julho de 2008
(versão ligeiramente refundida
do poema homónimo, constante
do volume II da obra poética
À Sombra do Sol, Praia 1990.
O autor dedica este poema ao Mito.)

José Luís Hopffer Almada

«Eileenístico: Contos e Crónicas» – um ano depois


uma escrita jovem e citadina

Eileen Almeida Barbosa, nascida numa terça-feira de Carnaval, tem as suas raízes fincadas na ilha do Porto Grande e é a partir do Mindelo que emoldura a sua escrita. Aprendeu a gostar das letras ainda criança. No jardim‑de‑infância, ensaiava as suas primeiras palavras. Na escola primária e no Liceu, aprendeu a traduzir os desenhos em sinais datiloescritos e, inesperadamente, surgiram os seus primeiros contos e os seus primeiros poemas.

Com o livro Eileenístico, constituído por 48 belíssimos contos e crónicas, alguns embrulhados num aroma de sonhos floridos de uma menina da cidade, outros carregando a alma da cidade, a autora junta-se a um conjunto (ainda estreito) de vozes de jovens do pós‑independência. Em poucas palavras, ela apresenta-nos uma escrita cabo-verdianamente jovem e citadina.


Parabéns, Eileen!

Querida, muitas águas tens pela frente! Sabes que és capaz de navegar e tens a coragem (sim, digo coragem, porque é o que falta em muitas mulheres, quer nas mais maduras, quer nas mais jovens… estou a pensar concretamente nas mulheres das nossas ilhas) para seguir, seguir, como uma sereia na sua laginha! Sabes que podes voar, voar, como uma butterfly!...

Deixo aqui estas palavras – insuficientes para compensar o prazer que tive ao ler Eileenístico – como se fosse, não apenas um incentivo, em jeito de resposta a uma certa carta que ainda não respondi.

Beijinhos e um forte abraço cheio de sonhos.

 
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