não quero ouvir adeus, que seja até breve!




Oh, Lino, quase me fizeste gotejar com o teu segundo parágrafo. Porém, após uma respiração funda, percebi que as tuas razões não me satisfazem. Acho que podias continuar com o teu cantinho intimista, sem que isso atrapalhe os teus outros compromissos e responsabilidades. E no teu blog sabes que podes escrever quando quiseres e como bem entenderes. Esta é a grande vantagem em relação aos outros ciclos que fechaste no passado. Não consigo entender as tuas justificações, pois acredito que a vida é feita de múltiplos ciclos, muitos deles em simultâneo. Muitas vezes, perco minutos a reler o meu blog e pergunto para mim mesma se “quando for grande” irei continuar com o meu blog que é tão intimista e numa escrita afectiva, sensual e feminística. Não encontro resposta. Certamente, poderei adoptar uma outra forma de escrita, mais sociológica ou cronicada. Isto é para te dizer que, enquanto uma das blogueiras que gosta do teu blog e vai lá muitas vezes, acho que talvez chegou o momento em que devias adoptar um outro estilo de escrita e com outra periodicidade, mas nunca fechar o teu blog. Por exemplo, há um blogueiro na vizinhança (não o conheço pessoalmente, mas é amigo de uma tia minha e de um tio meu, mas ele não sabe…) que tem uma vida profissional de loucos, mas consegue colocar bons posts no seu blog. Faça uma visitinha até “Passageiro em Trânsito”! E há muitos/as outros/as blogueiros/as (tanto em Cabo Verde, como por outras bandas do planeta) que não têm muita disponibilidade, mas conseguem provocar debates e despertar ideias nos seus blogs.

No meu caso, nem imaginas a vida que tenho! Não tenho nem tempo para pensar em mim. É muita coisa em cima da minha cabeça: os meus compromissos académicos, profissionais e o activismo; as minhas responsabilidades pessoais e familiares. É muita coisa para os meus 26 anitos. Mas consigo tirar bom proveito do meu blog. Escrevo para partilhar as minhas angústias, emoções, reflexões e até consigo fazer amigos/as, o que já é bom porque tenho uma vida muito fechada entre “o meu quarto” e a faculdade. É um correr para aqui e para ali, que quando chego à casa no final do dia farto-me de aliviar com os meus passeios pela blogosfera.

Lino, desde o primeiro dia que te conheci na blogosfera, fiquei encantada com o teu sorriso verde, as tuas caminhadas na minha ilha, o teu espírito aberto, a tua forma alegre de encarar a vida, a tua paixão pelas coisas boas e a tua solidariedade, cooperativismo e atenção ao mundo que te rodeia. Passei a gostar mais da tua ilha, a ver pequenas coisas que às vezes na fugacidade dos dias esquecemo-nos de prestar atenção. Fui pessoalmente até Fajã Domingas Bentas. A tua mãe Silva de Junzim d'Polina recebeu-me com um alegre sorriso. Na companhia do teu irmão e da minha amiga-colega Elinha, a teimosia me levou a calcorrear pela montanha ti sukuru fitxa. O teu irmão disse-me que, por mais duas vezes naquele ritmo, eu podia ganhar qualquer maratona na Praia. E disse-me mais: “podes dizer ao Paulino que agora conheces Fajã melhor do que ele!” Foi uma linda caminhada e as gentes do teu cutelo foram amáveis comigo. E o teu irmão tão atencioso, não só contou-me estórias do teu cutelo, como mostrou-me sítios e encantos e apresentou-me pessoas que já conhecia através do teu blog ou através do teu livro “Gentes das Ilhas”. Veja lá o que estás a fazer comigo com este “teu gesto egoísta” (não combina contigo, pois não?) de fechar o blog que já não é apenas teu! É meu também e é de tantas outras pessoas que por lá passam para um chá ou um groguinho de Sintanton. Caramba, já basta o feiticeiro Barbosa que desapareceu sem deixar rastos ou o aprendiz de feiticeiro Djoy que saiu de fininho (vi que ele já regressou, mas não consigo meter nenhum comentário no blog dele. ele deve ter escolhido uma opção que está a bloquear a colocação de comentários – veja lá, Djoy!)!!! E mais, Lino, não me queiras ver chateada grrrrrrrrrrrrr!

Independentemente da tua opção em deixar a blogosfera berdiana (durante algum tempo, ainda indefinido), querido vizinho na blogosfera e na capital, desejo-te as maiores felicidades e quero continuar a ver-te nas minhas próximas idas às ilhas!

Um beijinho com muitos miminhos…



Um Poema Para Ti

Emprestei um poema da minha ilha para te oferecer. Quem melhor do que um poeta de Assomada (também ela verde) para te falar desta «cor mais bela, porque é a cor da esparança»!


Permanência

A pedra continua inerte
A loucura continua efémera
O sonho continua eterno
O solilóquio da solidão continua terno
O caminho das lanternas continua traiçoeiro
As promessas da madrugada continuam incertas

A água de cada dia continua térmica
O trópico de Câncer de olhar posto em Santiago
----------continua aridamente hemisférico
Os insultos no estádio da várzea continuam esféricos
O amor na praça da cidade continua desinibidamente espérmico
A aurora para além dos labirintos do subúrbio continua quimérica
O polegar de txibita continua cadavérico
----------e ressequido sobre o deserto do seu crânio
Os pedintes continuam elegantemente raquíticos
----------e sentados compõem o requiem do quotidiano

A ilusão continua verde
(do verde lunar das serenatas)
neste país
de pedras
que sonham
na face imaginada da água
e rejubilantes
digerem
a esperança
sempre erecta
no seu verdejar
----------na aurora do pedinte…

Lisboa, Julho de 2008
(versão ligeiramente refundida
do poema homónimo, constante
do volume II da obra poética
À Sombra do Sol, Praia 1990.
O autor dedica este poema ao Mito.)

José Luís Hopffer Almada

 
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