Borrifar as flores com água da chuva

Creio que foi num sábado à tarde, nos primeiros tempos da mudança para este lugar, que titia inventou esta tese incontestável: «cuidar do verde dentro de casa dá sorte, atrai bons pensamentos e enxuta maus-olhados.» Lembro-me que me agradou a apreciação dela sobre o estado das plantas, e até comentei que me sinto bem com este jardim improvisado à janela da cozinha. Ela, mulher do campo que o destino obrigou a mudar para a cidade grande, parecia tão maravilhada. Levei-a a pensar na minha aflição sempre que ausento por um período superior a três dias. Disse-lhe que não sabia o que fazer com as plantas. Como se tivesse sonhado comigo, telefonou-me e perguntou-me há alguns dias por que razão não peço ao meu tio para me ajudar a resolver esse problema de uma vez por todas, instalando-me o sistema de rega gota-a-gota. Não achei má ideia. Até porque uma colega já me tinha sugerido algo parecido: «arranja umas garrafas de litro e meio de água e pendure numa corda acima da cabeça das plantas.» Também não achei má ideia. Acordei hoje com a chuva amiga batendo no portão, como se batesse no meu coração. Dei por mim apanhando às pressas os vasos de plantas para conduzi-las todas para varanda a fim de tomarem um banho de chuva. Pensei: «ter plantas dentro de casa quando chove lá fora é como aninhar peixinhos no aquário numa casa à beira-mar.» Às tantas olhei para o céu e não vi chuva caindo. Mas está tudo bem. Parece que hoje é dia de chuva.

 
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