Houve um tempo em que choveu muitoNão havia barcos na baía
Um temporal caíra sobre a terrinha
Na memória da minha tia AninhaChuva nunca tinha chegado tanto ass...
Pasarinh’azul


nh’amor é un violonmorna batuku finasonnun konpasu ritimadu
nes tardinha divagarreloji paradu pa tenpu ka fujinoti ta ben na mi di mansinhustrela na séu riba lá ta spretabrufa na mar ti madrugadapalmanhã na korda di violonson di pasarinh’azuldun ventura na ilha mai...
Gil di Jóia: Uma História, Uma Vida


...si agu-mar bira grogu,
ma Gil di Jóia ta bira pexi...
(Manel di Candinho)
Há algum tempo, fui ao Manguinho visitar os homens mais velhos da Calheta. Entre eles, claro, consta um homem singular: Virgílio Furtado, Diboia ou simplemente Gil di Jóia. O velho acamado ofereceu-me um exemplar da sua biografia: Gil di Jóia: Uma História, Uma Vida da autoria do seu afilhado Nataniel Vicente Barbosa e Silva (redigido a partir da Vila do Tarrafal, em 2006).
Gil di Jóia
«Nasceu na Calheta, a 3 de Fevereiro de 1930. De tez negra, estatura média, afável, bem-humorado, com grande amor à vida, solteirão, brincalhão, de espírito aberto, franco e leal, tocador de gaita nos tempos da juventude, conversador e conservador das suas raízes. De voz timbrada e rouca quando canta, o que não é sempre,...
Namoro Hojendia


Elas
estou
farta desse namoro
há
muita pressa, muita pressa
namorar
tem que ser devagar
na
praça e no cinema
fala sério, amiga!
não há tempo,
nem cavalheiros nem damas!
badio,
não!
fogo,
cruzes!
sintanton,
nenrasa!
soncent,
não dá!
brava,
não conheço!
diáspora,
mesma espécie!
outros
mundos, pouca variação!
china,
muito tempo só de viagem!
Eles
só
por uma noite, moss
não
deixe rastos
nem
promessas
rapidinha
noite
toda
tanto
faz, moss
oh, moss!
namorar é outra coisa!
sim,
mas com...
cunha no amor


deixa-me
rir de mim
agora que
estou só
nesta
minha perfeita solidão
quisera
minha amiga meter-me uma cunha junto de ti
minorar
os meus defeitos
pintar-me
de rosa
e
esconder a cicatriz que ainda trago no peito
por
orgulho recusei toda e qualquer cunha
convicta
de que das minhas conquistas cuido eu
recusei
toda e qualquer cunha no amor
assim
como recusei mendigar o teu regresso
rio-me
desta minha ansiedade
dos
versos sepultados na gaveta
do
telefone desligado
do
offline no facebook
do
post-it: «não hei-de chorar por ti!»
rio-me de
mi...
O Legado de Nhô Filili (por Luís Urgais)



Estou a ler este livro acabado de
sair, que conta uma história de amor em tempo de escravatura, entre uma «escrava» e o seu «senhor». O tal amor acontece na vila da Praia da ilha de Santiago, nas
barbas da alta sociedade local, com casamento de papel passado, no século XIX.
CURIOSIDADES::
Este é um livro sobre a história
do pai de Armando Napoleão Rodrigues Fernandes e avô da escritora Orlanda
Amarilis.
FALHAS GRAVES::
1) Rabelados surgiram na década
de 1940, numa luta contra a discriminação racial no seio da igreja católica. Portanto,
nunca foram uma comunidade de escravos fujões, pois, os tráficos negreiros - legal
e clandestino...
«O Vírus do Poder» | um poema de Artur Vieira (ilha Brava)


Dona
Chica sintonizou o pequeno rádio
À cata
de novidades de seu sofrido país.
Anunciou-se
a chegada da Democracia
Sob os
auspícios de Desenvolvimento e Liberdade
Para
promover o progresso da nação.
Pela
manhã, os jornais em enormes manchetes
Elogiaram
tanto a Democracia, que dona Chica
Imaginou-se
soberana Dama com poderes especiais
Para
realizar o milagre tão almejado do progresso.
Dona
Chica soube por uma professora local
Que a
Democracia se instalou no acanhado bairro
Ali,
na esquina, pertinho de sua casa.
Então,
dona Chica, como nos bons tempos, se enfeitou
Para
uma visita à distinta Dama que chegara.
E qual
não foi seu espanto ao encontrar a Democracia
Esfarrapada,
magra, olhar mortiço.
Depressa,
dona Chica voltou ao modesto recanto
Pegou
sua única galinha, preparou...
as águas subterrâneas


Na ilha
há anos
pelas esquinas do outro lado da
cidade
jazem as estátuas de velhas
promessas.
Porquê?
E todo este povo calado.
Do alto da ilha
nua
por dentro de tudo
tua voz de pedra
brada contra os murmúrios
dos subúrbios
desconhecidos
rogando pragas às raças malditas
quedando os sonhos
de todo este povo
da ilh...
«África-bunda»: a propósito da tal capa do novo romance de Gualberto do Rosário, Ex-Primeiro Ministro de Cabo Verde



«África-bunda»
Existem
hoje vários estudos críticos em torno da
imagética europeia sobre os trópicos. Parafraseando a expressão
camoniana «pretidão de amor», e analisando a literatura, a fotografia ou a pintura,
por exemplo, alguns estudos ressaltam o olhar de homens europeus, como também
de africanos, sobre as mulheres negras, que, exaltando a sua beleza, “apesar”
do seu tom da pele (“é pretinha mas bonitinha”), não deixam de as reduzir a uma
vertente carnal, sem densidade psicológica. E é assim que a sensualidade, o
exotismo e o erotismo ganham centralidade numa certa imaginação literária,
fotográfica e pictórica. Vejamos alguns exemplos...
Mudjer di nha tera...


Panu maradu, grasa na rostuPé finkadu ta ora propostuÉ mudjer di nha tera!
K sabi bafa dor [sabe esconder a sua dor]K konxi storia, k tem kusa-l fla... [conhece a história e tem muito que contar]É mudjer di nha tera! [é a mulher da minha terra]
Matakam di ser k ka ta tadjadu, [Ser de grandeza indomável]Karamba si dja tem mudjer fadjadu [pois, se existe mulher generosa]É mudjer di nha tera! [é a mulher da minha terra]
K ta argi pa si resamTa deta noti ta kuda manham,Ta panha tristeza ta fasi koragemNa kada kombersu ta passa um mensagem,É mudjer di Kau Berdi! [é a mulher de Cabo Verde]
K ta panha lágua ta fasi forçaTa panha xintidu ta fasi distinuLa undi k medu ta bira sorti,É mudjer di nha teráÉ mudjer di Kau berdi!
Eneida Nelly (15 Nov 1986 - 18 Jul 2011, Tarraf...
Nha Nácia Gomi | Jornada de uma Badia


Djobe li: [olha essa]
N ba ta pasa na rubera, [passando pela ribeira]
N atxa mudjeris ta kanga boi, [encontrei mulheres cangando bois]
rapariga nobu ta pika kana; [raparigas novas cortando canas]
N atxa móna-bédja ta po na birsi, [encontrei mulheres maduras trapichando]
ku ses boi sotadu, rabu nhemedu, [com os seus bois amansados e de cauda encurtada]
si kana piladu, bagas fuliadu, [com a sua cana moída e os bagaços retirados]
si kuba baredu, kalda korenti, [a sua cuba esvaziada e a calda correndo sempre]
si agordenti y agu na garafon! [o seu grogue e a água no garrafão]
Nha Nácia Gomi (Principal, 18 Jul 1925 - S. Cruz, 4 Fev 201...
Salvem os românticos! Do amor à política educativa...


Para além dos poemas de Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Januário Leite e José Lopes da Silva, este último acertou em cheio numa questão que ainda hoje faz parte das reivindicações de mulheres do mundo inteiro:
“A educação que as caboverdianas recebem é quase totalmente doméstica e restrita aos costumes; mas a instrução, essa rudimentar instrução que tão escassamente se lhes proporciona, só a compartilham filhas de pais abastados e de medianos haveres ou de gente pobre a quem suceda residir nas proximidades das escolas. Assim, pois, a mulher caboverdiana, principalmente a do povo, não sabe ler, nem escrever, nem contar...” (José Lopes da Silva, séc. XIX).
É simplesmente singela esta generosidade do poeta com as mulheres em geral e as mulheres do povo em particular. Relativamente às mulheres...
As Badias


Badias quer dizer indomáveis. Foram tantas, nem sei por onde começar... Vejo ao espelho: um bikini novo faz toda a diferença! E pronta para um mergulho. «Dona Beba, nha danu benson!» Ela, enchendo a cara de sorriso, disse-nos: «Deus dá nhós vergonha!» Uh, Dona Beba está muito contente, pois Dona Lilika está cá! E lá vão elas, mãe e filha... Há muito tempo que eu já não sentia a areia macia na planta dos pés. E assim, o tempo passa como um pássaro que voa voa. É difícil dizer: adeus, Tarrafal!
Aqui vou eu, subindo a Serra, e serpenteando a ilha toda. «Ah Somada», essa foi mesmo à Vanusa! Outrora, em cada rua de aqui, havia uma mãe de terrorista, como dizia a Pide. Na praça, havia jasmim e rosas, tão cuidadas por femininas mãos. Nesta hora, a minha bisavó solta o fio da memória, lembrando de...
A Ilha das Mulheres | Cesária Évora International Airport


Vou-te buscar no aeroporto da Cesária, depois ficas comigo na rua da Dra. Isaura Gomes. Almoças com a candidata Filomena Vieira. Às 15h, tens uma reunião com a directora do jornal. O nome dela é Filomena Silva, mas quem vai-te receber é a jornalista Matilde Dias. Logo, às 18h, poderás assistir ao lançamento da obra completa da poetisa Yolanda Morazzo, a cargo da poetisa Vera Duarte e da historiadora Elisa Andrade; ou terás a oportunidade de assistir à abertura da exposição das artistas plásticas Luísa Queiroz e Edith Borges. Haverá no sábado um jantar com as mulheres fundadoras da OM, entre as quais a Dra. Crispina Gomes e a Dra. Maria das Dores. Mas, hoje, a noite será «entre mornas e fados»:vozes: Celina, Titina, Nancy e Tetépiano: Tututaviola: Iloisa Monteiro[...]
E quem disse-te que Mont’Cara...
Nhánha Mudjer Balenti (1910) | «Guerra é Guerra»


Afinal os soldados vacilaram, quando Nhánha e um mar de gente marcharam em direcção ao presídio de Cruz Grande, exigindo a libertação das condenadas por furto de purga.– Dessa vez, a guerra chegou a Caboverde!– É melhor não fazer guerra. Temos poucos soldados e os guardas do coronel Aníbal não são de confiança.– E esses indígenas?– Valai-me Deus!– Pressinto que, dessa vez, tencionam nos degolar.– A minha mulher e os meus filhos ficaram na metrópole, de maneira que não desejo morrer na colónia.– Ai de mim que ainda nem tenho filh...
Orlanda Amarílis | Ser Badia, Inscrever Soncente



Filha do bravense filólogo Napoleão Fernandes, Orlanda Amarílis nasceu em 1924, na vila de Assomada, ilha de Santiago. Vivia no sítio de «Galo Canta», a cerca de três quilómetros da escola de Cabeça Carreira. Por isso, aos cinco anos, teve que se mudar para a ilha de São Vicente, a fim de estudar. Enquanto sobrinha de António Aurélio Gonçalves, tinha acesso privilegiado aos espaços culturais, o que lhe permitia conviver com escritores de nomeada da época. Tão cedo revelou interesse pela escrita, tendo sido a única rapariga da Academia Cultivar do Liceu Gil Eanes. Nesse frenesi juvenil, conheceu e casou-se com o ensaísta português Manuel Ferreira,...
«A Preta Fernanda» no Coração do Império (séc. XIX-XX)


Andresa do Nascimento (aliás, Fernanda do Vale) nasceu em 1859 numa aldeia perto de Ribeira da Barca, filha de catadores de purga. Deixou-se enrolar por um marinheiro bem-falante, e fugiu com ele para Dakar, onde seria abandonada. Lá teve que se casar com o alemão Fritz, produtor e bebedor de cerveja, e embarcou com este para Lisboa. Poucos anos depois, o homem morreu. Sozinha em Lisboa teve que se desenrascar. Primeiro convidaram-lhe para posar como uma das «figuras episódicas» da estátua do Marquês de Sá da Bandeira. Como ela tinha um calo no pé, desentendeu-se com o escultor, e foi demitida. Depois encontrou emprego como criada de servir duma dona chique, com quem ficou durante dezoito anos. Com a sua poupança e uma lista de contactos da elite lisboeta, abriu um «salão» no Bairro Alto,...
Magdalena (1775) | Canibal em Tempo d’As-Secas


Em 1774-75, houve uma onda de mortandade sem trégua em Caboverde. Na ilha Brava, por falta de mantimentos, o povo comia tudo, e nesse ano em toda a ilha já não havia «nem gatos nem cachorros».
Nesse ano, navios ingleses e franceses levaram muita gente livre das ilhas de S. Nicolau, Maio, Brava, Fogo e Santiago, «roubando uns e entregando-se outros que só pelo sustento se deixavam escravizar por dez anos». Nas ilhas de S. Nicolau e Brava, houve quem fizesse negócio, vendendo gente livre aos ingleses. Era ainda tempo de escravatura, sem dúvida. Porém, a venda de gente livre nas ilhas era um acto fora-da-lei.
Então corria esse ano de 1775, o governador mandou prender alguns «ladrões, salteadores, cabeças de bandos e incendiários». Entre tais notáveis, destacava-se Magdalena, natural da ilha de...
ami N ka mudjer? | ain’t I a woman?


Kel ómi lá fla ma mudjer ten ki djudadu subi na karu, libradu di labada, e dadu midjor kantu na tudu banda. Ningen nunca ka djuda-m subi na karu, salta rubera ó da-m bon kantu pa-m xinta. Y ami N ka mudjer? Txeka-m! Txeka nhas brasu! N ten andadu na simentera, monda y kodjeta, ki nenhun ómi ka pasa-m! Y ami N ka mudjer? N podi trabadja y kumé sima un ómi – óra ki-m atxa kumida – y xinti dor tanbé. Y ami N ka mudjer? N tive 13 fidjus, y N odjas kuazi tudu ta bendedu pa skravatura; y kantu N txora dor di mai, ningen, só nhordés ki obi-m! Y ami N ka mudjer?
[...] That man over there says that women need to be helped into carriages, and lifted over ditches, and to have the best place everywhere. Nobody ever helps me into carriages, or over mud-puddles, or gives me any best place! And ain’t I a...
tell me who I am


oh, you told me: «you are a flower».but you never told me you love me.please can you tell me who I ...
Ali ben tenpu... findamor


ali ben tenpu kiómi ta txeka mudjer lá ta baimudjer ka ta djobi pa tráspamó pa frenti ki sta kaminhu
oji nes terraun afronta grandi sima ki ka ten finkalunia, difamason y injúria di tudu kastaTota Kdabra interadu na simiteri Várzianun coval anónimo sen nenhun coroa funerária de rosa-querelaKukinha tmá ofénsa y fká sen dôs dente na se bokatude gente tava ta tmá fé de tude más kuand plísia txigá já era bastant tardefladu fla ma sra. Ministra panhá três sokos y un pontapédja kriadu lei anti-pankadaria ma inda kusa sta mariadustribilin pa tudu banda
fla-m pamó gósi é tan sabe kalor dun amormudjer ómi ómi mudjer mudjer ómilapidu na kumpanheru
djobe li:Cretcheu más sabe,é quel que é di meuel é que é tchabe,que abrim nha céu.Cretcheu más sabeé quel qui cremai sim perdelmorte dja b...