AS DUAS CAMAS

Eram quase 17:30mn, fui andando pela calçada até a Avenida Dias da Silva. Virando à esquerda, encostadinha na minha segunda casa (a minha faculdade de sempre), fui caminhado no silêncio da cidade. Em vez de seguir para a rua Luís de Camões, esquivei pela esquerda e, ainda sempre à esquerda, avistei a Casa-Museu Miguel Torga, que estava escondido no fundo da Praceta Fernando Pessoa (nº 3).

Entrei pela meia-porta e segui em frente até ao jardim. Fiz uma volta 180º e, pela porta lateral, vi uma distinta senhora de cabelos cor d’oiro. Entrei com a minha atenção redobrada e, desde o hall de entrada, fui sendo confrontada com objectos pessoais de Miguel Torga. Esta casa onde vivia o escritor, recheada com objectos rústicos (artisticamente lapidados) como se fossem feitos de pau-brasil, guarda o espírito da escrita. Até parece que fertilizou a minha imaginação!

Foram instantes de muita admiração pelos objectos pessoais e pelo acervo documental do escritor (bibliografia activa, bibliografia passiva, artigos de imprensa, poemas manuscritos e dactiloescritos).A surpresa maior (estranha mesmo!) foi quando entrei no quarto de casal, quer dizer no quarto onde o escritor dormia com a sua esposa. Para meu espanto haviam duas camas individuais, separadas por uma mesa-de-cabeceira. A distinta senhora de cabelos cor d’oiro disse-me sorrindo que ter duas camas individuas em quartos de casais podia ser normal na “época”... Fiquei a pensar, com tamanha estranheza: 1) Mas em pleno século XX num Portugal contemporâneo? 2) E o terrível frio de Coimbra quando se inverna? 2) Talvez, o escritor não gostava de cotoveladas!...

 
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