
Depois de um chá quentinho, saímos em equipa para verificar os estragos provocados pelas fortes chuvas, que, desde finais do ano passado, têm atingido o centro e o sul de Moçambique, tendo já provocado mortes, destruído habitações e levado a população à beira do desespero. No meio dessa aflição, ainda tem surgido inúmeros casos relativos à violação sexual de mulheres e de crianças, nomeadamente nos centros de acomodação. Entre as onze províncias de Moçambique (Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Gaza, Inhambane, Maputo e a cidade de Maputo), Tete e Sofala estavam com alerta vermelho por causa das terríveis inundações.
Imediatamente, seguimos para a cidade de Tete. A subida do rio Zambeze ameaçava esta cidade, no centro de Moçambique. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades tentava consolar a população local, afirmando que a situação estava controlada, embora a baixa da cidade (junto ao leito do rio) continuava em risco. A rádio comunitária informava que as sucessivas descargas efectuadas pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa tinham provocado a subida do rio Zambeze, acrescentando que o excessivo enchimento da represa desta barragem devido às chuvas intensas que caíram nos países vizinhos (Malawi, Zimbabué e Zâmbia) tinham levado à abertura progressiva das comportas do empreendimento.
Não sei como, em pouco tempo, estávamos na Beira (capital de Sofala), onde o rio Búzi tinha já atingido os picos altos, estando apenas o rio Save com alguma margem de manobra. O Domingos Solo e o Leonel Mosso levaram-nos aos centros de acomodação para analisar as condições logísticas e diagnosticar a situação das famílias que foram acolhidas. Soubemos que muitas pessoas resgatadas das zonas de risco na bacia do Púnguè regressaram para a machamba, correndo riscos de vida.
Pouco depois, quando começava a pensar na minha viagem à África Austral num verão poeirento, ouvi o meu despertador. Acordei. Foi apenas um sonho!... Liguei a RDP-África, que, infelizmente, confirmou-me que as cheias tinham chegado à Moçambique, este ano mais cedo e com uma força indesejada.