As Cheias em Moçambique

Na noite passada, vesti a pele de uma jovem aventureira, que decidiu acompanhar uma equipa de assistência humanitária para uma missão em Moçambique. No início da madrugada, desembarquei-me na cidade de Maputo, antiga Lourenço Marques. O André estava já à minha espera no aeroporto da capital do país. A Dénise Bruna e a Sofia António esperavam por mim na esquina de uma pensão, onde estavam instalados elementos da Cruz Vermelha Moçambicana. Dormi um pouco...

Depois de um chá quentinho, saímos em equipa para verificar os estragos provocados pelas fortes chuvas, que, desde finais do ano passado, têm atingido o centro e o sul de Moçambique, tendo já provocado mortes, destruído habitações e levado a população à beira do desespero. No meio dessa aflição, ainda tem surgido inúmeros casos relativos à violação sexual de mulheres e de crianças, nomeadamente nos centros de acomodação. Entre as onze províncias de Moçambique (Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Gaza, Inhambane, Maputo e a cidade de Maputo), Tete e Sofala estavam com alerta vermelho por causa das terríveis inundações.

Imediatamente, seguimos para a cidade de Tete. A subida do rio Zambeze ameaçava esta cidade, no centro de Moçambique. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades tentava consolar a população local, afirmando que a situação estava controlada, embora a baixa da cidade (junto ao leito do rio) continuava em risco. A rádio comunitária informava que as sucessivas descargas efectuadas pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa tinham provocado a subida do rio Zambeze, acrescentando que o excessivo enchimento da represa desta barragem devido às chuvas intensas que caíram nos países vizinhos (Malawi, Zimbabué e Zâmbia) tinham levado à abertura progressiva das comportas do empreendimento.

Não sei como, em pouco tempo, estávamos na Beira (capital de Sofala), onde o rio Búzi tinha já atingido os picos altos, estando apenas o rio Save com alguma margem de manobra. O Domingos Solo e o Leonel Mosso levaram-nos aos centros de acomodação para analisar as condições logísticas e diagnosticar a situação das famílias que foram acolhidas. Soubemos que muitas pessoas resgatadas das zonas de risco na bacia do Púnguè regressaram para a machamba, correndo riscos de vida.

Pouco depois, quando começava a pensar na minha viagem à África Austral num verão poeirento, ouvi o meu despertador. Acordei. Foi apenas um sonho!... Liguei a RDP-África, que, infelizmente, confirmou-me que as cheias tinham chegado à Moçambique, este ano mais cedo e com uma força indesejada.

 
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