Ribeira Grande de Santiago

(Cidade Velha, 17 de Dezembro de 2007)

Cidade Velha ficou conhecida como a primeira cidade construída pelos portugueses no além-mar. Também foi a primeira capital do arquipélago de Cabo Verde, com a designação de Ribeira Grande, tendo sido marcada pelo tráfico negreiro. Hoje, a marca mais gritante dos dias de sofrimentos na antiga Ribeira Grande é o Pelourinho, fixado no centro desta antiga capital.

Para além da curta estadia do Padre António Vieira, as fontes evidenciam registos da passagem de Vasco da Gama, na sua viagem à Índia, e de Cristóvão Colombo, na sua terceira viagem à América, pelo porto da antiga Ribeira Grande. Nesta antiga cidade-porto, candidata a Património Histórico da Humanidade, encontram-se ainda: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga igreja colonial do mundo; as ruínas da Sé Catedral; a Fortaleza Real de São Filipe, preparado para defender a antiga colónia portuguesa de ataques dos piratas franceses e ingleses.

Com todo o seu peso cultural e tendo o pôr-do-sol como cenário, rabisquei um poema sobre “Cidade Velha. Enquanto imaginava meia dúzia de versos, não conseguia tirar da minha cabeça o primeiro tema de Trás di Son, um projecto organizado pelo músico cabo-verdiano Djinho Barbosa.


un batuku xatiadu si

ka por si
ki mi n’naci negru
n´fazedu scrabu
n´ganadu mar
mi goci djan ganha

(…)


Este tema dedicado à ilha maior, Santiago, simboliza o grito de liberdade do povo das ilhas, que passaram 500 longos anos sob o regime colonial, fazendo referência também às tradições migratórias cabo-verdianas.

Ainda aproveitei o sossego da noite na Cidade Velha para ninar as ondas, que, na minha presença, não ofereceram resistência. E, sentada na areia negra da praia, contei estórias para as estrelas sobre as ondas que respiravam a dor do silêncio.

Cidade Velha: outrora, porto da sujeição; hoje, berço de memórias...

 
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