(Picos, 24 de Dezembro de 2007)
Na manhã do dia 24 de Dezembro, tinha uma reunião no concelho de São Salvador do Mundo. Acordei cedo, fui buscar uma documentação em Achada Santo António. Em seguida, segui viagem, com mais dois companheiros e com Nhara Santiago de Nhônhô Hopffer. Pouco depois, já estávamos na rotunda da Praceta de Cachéu. Estacionamos à frente da residência da família Barros. Entramos pela sala adentro, enquanto o Victor chamava pela mãe, que se encontrava a preparar o almoço.
O Victor levou-nos para um espaço de pura magia verde: o Pomar de Barros. À sombra de um velho abacateiro (pensei logo no Ondjaki!!!), jogávamos conversa fora e deslizávamos para outros caminhos. De repente, o Victor apareceu com uma garrafa de grogue temperado com erva-doce e xali. Para mim, mandou preparar uma jarra de sumo de limão do Pomar de Barros. Pelo portão semi-aberto, entrou o Jairzinho Pereira, aquecendo a conversa no Pomar de Barros.
No Pomar de Barros, com atenção registei a convivência amigável entre as bananeiras, as goiabeiras, a videira, as laranjeiras, os limoeiros, os tomateiros, os cajueiros, as papaieiras, a cana-de-açúcar, a malagueta, o ananás, etc. Numa das extremidades do Pomar de Barros, vi uma capoeira, onde (no lugar das galinhas) vive um cão: o casper.
Chegada a hora do almoço, surgiu a Dona Titina, trazendo os cheiros da cozinha. Na mesa, estava à nossa espera um almoço típico: massa d’milho e xerém d’milho. Tudo preparado à lenha. Sobremesa: doce d’papaia do Pomar de Barros. Com barriga farta, saímos da sala de jantar e fomos espreitar a paisagem natural: os vales, as montanhas e o nevoeiro. Até apetecia-me beber o cálice da montanha e redesenhar o relevo em versos.
Regressando para o Pomar de Barros, por Decreto-Lei nº ---/---, de 24 de Dezembro, fundamos a República de Cachéu. No acto da tomada de posse da Comissão de Representantes do Povo da República de Cachéu, um indivíduo do povo ergueu-se a voz e disse: “estamos aqui presentes para comemorar a fundação da República de Cachéu. A República de Cachéu ainda é uma criança, acabou de nascer. Mas pensa em grande (…palmas…). Em Cachéu abundam jovens com formação superior, como comprova a enorme lista de diplomas estampados na Praceta de Cachéu. Até podia dizer que Cachéu é um dos cutelos mais letrados destas bandas. Inclusive, temos um Historiador em cada esquina: Victor Semedo, Victor de Barros, Nuno (esqueci-me do apelido), etc. E, aqui perto, em Chão de Taberna, temos o Jairzinho Pereira. Portanto, minhas senhoras e meus senhores, temos Historiadores. E, com a fundação da República de Cachéu, inventamos um facto.”